Sonhos de uma viagem pós-pandemia

Saudade de uma bela viagem de férias. Se a pandemia nos ancora em casa, podemos pelo menos lembrar as passadas e planejar as próximas. Abaixo estão as memórias de algumas viagens que fiz e farei. Quero me inspirar com as suas também.

Saudade de férias em hotel de luxo de alguma praia europeia, Biarritz (que só passei num dia de chuva), Noli na costa da Ligúria, ou a que fiz em Sitges na Cataluña, mesmo que a trabalho. Ilha da Madeira, Tenerife, Ibiza, me aguardem!

Êita Ouro Preto, Minas, centenária Festa do 12, saudade daquelas reuniões de estudantes de todo o Brasil, dormir em república, sentir-se jovem (como ainda me sinto) e ter a vida toda pela frente.

Saudade de uma Londres que só fui em tenra idade, jovem de mais para usufruir da música pop e toda história e cultura que há por lá.

Saudades do Pantanal e aqueles rios oceânicos que não se vê a margem de lá. Com tuiuiús vermelhos no céu e piranhas e jacarés na água.

Saudade de planejar minha viagem musical ao festival de Blue Grass de Telluride, no Colorado. Um dia vou lá.

Cataratas do Iguaçu, ainda voltarei para que vocês me tirem o fôlego muitas vezes mais.

Saudade de Carrancas, onde se passa o dia de meia e papete escalando as cachoeiras mais lindas que já vi, e de noite os amigos de rio se encontram prá paquera, cachaça com mel e MPB.

Noites na Galícia e suas ruas medievais que me remeteram aos celtas e sua mística música revisitada.

Saudade de Alter do Chão com aquele Rio Tapajós incrível, dos cajueiros de suco quente e sabor singular como é singular cada pessoa. Com passeios pela floresta amazônica e suas ruas de igarapés. Do Pará tenho muitas lembranças saborosas: filhote pai d’égua, festa do açaí no meio da floresta e, o topo do mundo, sorvete de bacurí da Cairú. Sem contar o espetáculo que é assistir o por do sol nas águas do Rio Amazonas, na Estação das Docas, em Belém.

Zero saudade do trânsito de Manaus. Mas adorei as boas pessoas que conheci lá, que me contaram sobre os indígenas e me levaram prá comer em lugares ótimos. Lindas biojóias de jarina eu trouxe de lá.

Saudade de conhecer a história de Tel Aviv e Yafo através de sua arquitetura Bauhaus, na alta madrugada, pelo olhar da minha prima Ora, especialista no assunto.

Um dia ainda volto prá Mama África, a quem devemos o nosso berço como espécie. A maravilhosa Etiópia me arregalou os neurônios, mas foi só prá abrir os trabalhos.

Saudade dos amigos incrivelmente cultos de Porto Alegre. De jantar no Galpão Gaúcho onde a comida é ruim mas os shows diários de música e dança regional são maravilhosos.

E a lembrança mais remota de viagem que tenho foi quando meus pais abriram o banco traseiro da Variant bege, colocaram um colchonete e eu e minha irmã Tali ficamos no chiqueirinho brincando e brigando de São Paulo até Brasília, sem cinto de segurança, parando em Diamantina e Rio Quente. É prá voltar lá que serviria uma máquina do tempo. 1982?

Saudade de entender o que nos faz iguais ao ir a um lugar tão diferente de mim: o Uzbequistão e também Kashgar.

Belíssima Montevidéu, um beijo prá você. Te pediria em casamento se fosses uma mulher, e não contaria prá ninguém as suas virtudes.

Saudade de Amsterdam e do restaurante indonésio Puri Mas, que com certeza absoluta é onde vão jantar os deuses quando visitam a Terra.

Das noites de Choro na Carioca da Gema, na Lapa. Muita saudade, que vou matando nos álbuns do Nó em Pingo D’Água e do Zé da Velha e Silvério Pontes.

Saudade imensa do parque Hoge Veluwe em Oterloo, nos Países Baixos, e seu museu de esculturas a céu aberto. Se me dessem só 1 dia na vida prá visitar a Europa, é prá lá que eu voltaria.

Butão, Japão, Ilha da Reunião, Madagascar, ashrams na Índia são lugares que nunca fui. Mas as histórias de lá não param de chegar, aumentado o tesão e a nostalgia pretérita.

Saudade de pousar em Ein Guedi fitando, do alto do deserto, pela janela do quarto do albergue, o Mar Morto com o reflexo da lua. Depois do jantar mediterrâneo delicioso no kibutz.

Não tenho saudade da dor que senti em Machu Picchu por termos perdido a oportunidade de entender aquela civilização fascinante, por pura sede pelo ouro que foi parar nas igrejas de Sevilla, e só desolação e miséria deixaram para trás. A mesma Sevilla que se redimiu comigo ao me inundar com o calor do Flamenco.

Saudade da neve de Connecticut, Boulder e Arizona, mesmo ela tendo arruinado minha visita ao Grand Canyon com meu pai. Saudade de viajar sozinho pelos Estados Unidos. California, New York, San Francisco, Texas e o Broken Spoke de Austin (que fui com muitos amigos).

Muita saudade da infância no sítio do meu tio. Tinha piscina com os primos Jonatan, David e o falecido Rami, salão de jogos, casa na árvore com telescópio para ver estrelas, castanha portuguesa, por do sol e mexerica.

De Parati, do Saco do Mamanguá, das ilhas paradisíacas e do peixe a manga rosa do Le Gite d’Indaiatiba, que fica já no alto da Muralha que é a nossa Serra do Mar e permite contemplar o litoral magnífico lá em baixo.

Saudade emocionada das im-pres-sio-nan-tes cavernas de Padirac e Lascaux, no Périgord, onde mais próximo cheguei dos ancestrais das cavernas.

Praça da República, calçadões do Centro, Casa de Francisca, bairro da Liberdade, não vejo a hora de nos reencontrarmos.

Coquelicots vermelhos singelos dos gramados da Europa, saudade de vocês, com tons de Monet.

Saudade gigante do interiorzão de São Paulo, cuja terra gentilmente se doou para virar riqueza para o povo; virou paisagens contemplativas que enchem meus olhos.

Munique, Roterdam, Bilbao, onde o novo cresce nas fissuras do antigo, mas o preserva e respeita por compreender que o antigo é seu venerável DNA.

Saudade de férias com os filhos em Paúba e Maresias, onde a praia é linda, a areia é fina, e as crianças mais felizes ainda.

Ah Paris, seus bairros lindos, praças, queijos e perfumes do topo do mundo. Ainda volto aí.

Muitos desses lugares eu nem teria sonhado em conhecer se não fosse a Tati, a melhor planejadora de viagens, a melhor historiadora e também a melhor escolhedora de filmes para dias de viagem arruinados pela chuva.

Saudade de ficar impressionado com a inesperada arquitetura moderna da Cidade do México.

Saudade de Lisboa, de iniciar os trabalhos com ginja e fado na Tasca do Julião em Alfama, antes do jantar, e terminar a noitada com muitos novos amigos ao amanhecer, compartilhando um prato de cachopa, típico do Cabo Verde.

Saudade sem fim da Sala São Paulo, dos concertos despretensiosos, cultura solar e abundante. E de um dia, quem sabe, frequentar concertos em Milão, Berlim e Viena.

Saudade de Las Vegas, onde tudo, absolutamente tudo é artificial mas muito divertido.

Saudade, saudade, saudade e nostalgia. Este é o meu endereço até o fim da pandemia.

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