Tatiana e eu fizemos uma viagem absolutamente incrível para o outro lado planeta — a Ásia Central — região que muitas pessoas mal sabem que existe.
Fizemos anotações detalhadas, dia após dia, sobre todos os lugares que passamos, pessoas que encontramos e impressões que tivemos. Os links abaixo vão te levar às mesquitas do Uzbequistão, montanhas do Kyrgyzstão, ao caldeirão social da China, e a exuberância de Moscow.
Foi uma viagem de conhecimento, então os relatos estão recheados de mapas, referências na Wikipédia, fotos e videos. Além de impressões gerais, e observações sobre etnias, línguas, religião e coisas que não existem na Ásia Central logo abaixo.
Viaje conosco !
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Uzbequistão

- 15/09: Chegando em Tashkent
Aflição com o Passaporte, A Moeda Engraçada, Tashkent Soviética e a Primeira Refeição, Jantar Típico e “Caro”
- 16/09: Tashkent Turística
Tashkent Antiga e o Primeiro Corão, Bazar, Almoço e Outros Pontos Turísticos, Jantar Turco
- 17/09: Khiva com Timur
Sacha e o Caminho de Khiva, Timur e sua Khiva Khorezm, Jantar com Intercâmbio Cultural Portátil e Digital
- 18/09: Dia Livre em Khiva
Quem Não Se Comunica Não Almoça Nem Dança, Outras Aventuras em Khiva, Jantar em Khiva
- 19/09: O Caminho para Bukhara
O Professor de Inglês do Borat, Paisagens do Deserto, Algodão e Uma Breve Bukhara, Jantar e Internet no Interior do Uzbequistão
20/09: Bukhara com Aziz
Café da Manhã Apertado, A Casa do Noivo, As Árvores Milenares e o Ninho da Garça, Dança, Moda, Compras e Internet
- 21/09: Sarmish e Nurata com Svtelana
Invasão de Loira, Petróglifos e Águas Cristalinas, Plantação de Yurts no Silêncio, Kaljan no Tear, Fogueira e Franceses Bêbados, Chão de Estrelas
- 22/09: Camelos e Samarqand
Duas Corcovas Chacoalham Mais do que Uma, Civilizátsya a Caminho !, Internet e Jantar no Irã
- 23/09: Samarqand com Nina
Ciência Antiga, Fanatismo Novo, Registan
- 24/09: Dia Livre em Samarqand
Museu à Meia Luz, Bozori !, Cidade Nova, Jantar de Turista
- 25/09: De Samarqand ao Kyrgyzstan
Dia Extra em Tashkent, Pindura, O Topolev Russo
Kyrgyzstão

China

- 28/09: Chegando em Kashgar
Neve !, Hora do Rush, China Ma Non Troppo, Uma Beleuza de Hotel, Povo Uyghur 360°
- 29/09: Kashgar: Uma China das Arábias
Esconda Seu Rosto, Mulher !, Conflito de Culturas, Oração Fria, Tecnorogia Chinesa, né?
- 30/09: O Mercado de Kashgar
The Silence of the Lambs, Negócio da China, Han chinese, Internet subversiva
- 01/10: O Lago Karakul
Himalaya e Pamir, Caça ao Sorvete de Ouro, Regras Sociais
Moscow e Paris

- 02/10: O caminho para Moscow
Voando na Sibéria, Tajiks na Sibéria, O Poente Eterno, Universo Paralelo, Olá Internet
- 03/10: Moscow Circense
Metrô de Moscow, Spa, Consulados e Catedrais, Circo
- 04/10: Moscow com Estilo
Péssimo Café, Gorki Art Nouveau, Almoço Moderninho, Chocolate, Metropol e Coral Russo, Jantar Chique
- 05/10: Moscow do Kremlin
A Catedral Colorida, Ovos Fabergè, Caça ou Vegetariano ?
- 06/10: Moscow, Paris, São Paulo
Parque Izmaylovsky, Passaportsky Problema, Paris, Cidade das Luzes, Hoje Terra é Pequena
Impressões Gerais
Eu recomendo fortemente qualquer pessoa fazer viagens desafiantes. Dificilmente nossa cultura e pontos de vista vão crescer se passarmos 7 dias coçando num resort.
Pode ser qualquer lugar: Amazônia para urbanóides, Islã para ateus, Las Vegas para saudosos marxistas.
Além do gostinho de poder contar que fomos para lugares que muitas pessoas não sabem nem pronunciar o nome, o desafio nos fez pensar muito sobre a história do mundo, o fluxo das etnias humanas, sociedade, economia, comida, fé, religião, e principalmente sobre nós mesmos e o que de fato somos.
Viajar pela Ásia Central não foi nada difícil. As pessoas são amigáveis e bonitas, os hotéis são confortáveis, cidades bem equipadas. E se você não for se meter no Afeganistão ou no Kashmir, a paz reina.
Etnias
O Uzbequistão faz fronteira com o Irã, antiga Pérsia, que definiu o tipo étnico da região há milênios. Mas a região foi também berço de incursões militares gregas de Alexandre o Grande e Genghis Khan. Isso conferiu uma mistura incrível de traços, cores de olhos e línguas.
É comum ver persas claros, loiras de olhos puxados, ou mongois de olhos verdes. E vimos mulheres realmente lindas.
O noroeste da China não é chinês. Pelo menos não no esteriótipo de chinês que as pessoas costumam ter na cabeça. O noroeste da China é tão persa quanto o Uzbequistão.
Já o Kyrgyzstão tem olhos mais puxados do que o noroeste da China. Se te teletransportarem para lá de olhos fechados, vai dizer que está no interior da China.
Línguas
Toda aquela região, inclusive o noroeste da China fala dialetos muito parecidos, todos derivados de língua turca. Uzbeque, Kyrgyz e Uyghur são línguas 95% similares e todos se entendem pela lingua falada.
O problema é ler e escrever. As línguas escritas no Uzbequistão são o russo (alfabeto cirílico) e o uzbeque a décadas escrito em cirílico. Mas recentemente o governo decidiu dar um passo no sentido da modernidade e maior integração com o ocidente adotando alfabeto latino como o oficial para escrever uzbeque.
No Kyrgyzstão eles não ligam muito para relações internacionais, então continuam escrevendo kyrgyz em cirílico mesmo. E na China, o povo Uyghur se orgulha em manter as tradições usando o alfabeto árabe (diferente da língua árabe) para ler e escrever.
Mas isso não tem muito problema porque o Uzbequistão é o maior produtor de videoclipes da região e todo mundo acaba ouvindo música Uzbeque que obtém de DVDs pirateados.
Há ainda inúmeros outros povos na região, que falam dialetos parecidos: os Khorezm, os Kazakhs, Tajiks, etc.
Fé e Religião
Esse foi um dos aspectos mais interessantes da viagem. A região é predominantemente islãmica. É incorreto dizer que são árabes porque estes são os que vivem na Península Arábica, milhares de quilómetros a oeste da Ásia Central.
Mas é um islã leve. Se não visitássemos os lugares históricos talvez nem percebêssemos. No Kyrgyzstão é mais leve ainda. Não há uma conexão muito grande com isso por lá.
Só a China nos surpreendeu. Sim, a China. Foi somente alí que vimos mulheres de rostos cobertos e fanatismo um pouco mais evidente. Isso acontece porque há um preconceito mútuo entre os chineses Uyghurs (predominantes no noroeste do país) e os chineses Han (os de olhos puxados). A conseqüência é que a minoria Uyghur acaba se voltando mais para sí, fomentando tradições e costumes em torno da religião. Ao longo dos séculos, costumes temporais, tradições sociais e leis religiosas se confundem e tudo vira sagrado sem se saber exatamente o motivo.
Coisas que não existem na Ásia Central
- Preço estampado em qualquer mercadoria. O preço é feito sempre na hora, conforme a cara do freguês e o humor do vendedor. E sempre há margem para pechincha.
- Adoçante dietético. Nenhum restaurante tem, mesmo se pedir.
- Coca-Cola Light ou qualquer outro refrigerante dietético.
- Folhas tipo alface, rúcula ou agrião. Nem na feira. Quando pedíamos a “Salada Verde” do cardápio de alguns restaurantes, era de coentro, cheiro-verde e dil. Uma salada de temperos verdes.
- Saladas sem coentro.
- Comida quente sem carne ou sem qualquer gordura animal. “Tem carne nisso aí?”. “Não, só bacon pra dar um sabor”.
- Comida sem óleo.
- Facas que efetivamente cortam. Todas eram cegas.
- Guardanapo limpo sobre a mesa assim que se senta. Sempre tínhamos que pedir.
- Guardanapo usado que fica na mesa mais de 3 minutos. Os garçons tinham algum tipo de obsessão em recolhê-los assim que fossem usados ainda que pouco.
- Hoteis com cama de casal. Mais raro que mosca branca.
- Área ou quarto de hotel para não-fumantes. Em qualquer sala de espera, restaurante, quarto de hotel etc, fumavam sem parar de todos os lados.