Abriram um lugar lindinho de açaí ao lado de casa. E hoje na inauguração ofereciam amostras em copinhos para os transeuntes.
— Puxa, tá meio claro esse açaí… — eu disse
— É que os outros lugares usam corante.
— O que importa é o número escrito na embalagem. Qual é a concentração do seu açaí?
Entrou para levantar informação tão pouco relevante, e voltou em seguida com a resposta.
— 14%
— 14%? Tudo isso? — eu ironizei. — E o que seriam os outros 86%?
— … — brisou, olhando para o céu
Eu especulei, sem ela ter refutado:
— Deve ser água, açúcar, muito açúcar, mais água, saborizante (pois sabor de açaí não agrada os paladares infantis), glucose de milho, e, e, chuchu. Deve ser.
Eu fui a um Festival do Açaí na floresta perto de Alter do Chão, no Pará, anos atrás. Eu vi colherem o cacho de frutos do açaizeiro e todo o preparo até o creme sair do outro lado 100% puro, morno, sem açúcar nenhum e com higiene questionável (porque estava sendo preparado a céu aberto de forma artesanal).
Para as nossas bandas do Sul, não dá para mandar açaí puro assim porque ele fermenta. Por isso enchem de açúcar. Mas mesmo assim pergunto: até qual nível vai cair a qualidade das coisas?