Sobre essa guerra entre CD × LP, digital × analógico, da gravação até a reprodução de música, o músico veterano Ulisses Rocha escreve isto em seu blog:
É sabido que o sistema digital não consegue desenhar a onda sonora com a mesma perfeição do sistema analógico. Os defensores digitais acreditam que a deficiência em desenhar a onda em sua plenitude não é identificada pelo ouvido humano, principalmente quando usadas taxas de amostragem altas como 96khz ou 192khz. Já os do lado analógico, acham que o ser humano sente a diferença sim, e por isso quando se ouve um disco de vinil, teria-se uma sensação de maior conforto e prazer auditivo.
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CDs apresentam uma relação sinal/ruído muito mais satisfatória, além de uma tolerância dinâmica muito mais ampla. Já o vinil apesar de reproduzir um som não convertido numericamente, é fruto de um processo cheio de etapas mecânicas que conferem uma certa quantidade de ruído ao produto final, além de suportar uma amplitude dinâmica bem menos ampla.
Por ter iniciado minha carreira no começo dos anos 80, eu tive a sorte de participar de gravações analógicas e acompanhar toda a revolução digital.
Para se ter uma ideia do quanto se evoluiu, lembro-me de uma gravação do D’Alma, onde para conseguirmos um reverb mais duradouro, colocamos uma caixa acústica dentro de um piano de cauda, e na outra extremidade um microfone, ao mesmo tempo em que um peso mantinha o pedal de sustentação abaixado. Desta forma, o som de nossa gravação excitaria os harmônicos das cordas livres do piano, que passariam a vibrar por simpatia e gerariam um efeito similar ao do reverb. Hoje se consegue resultados muito melhores com um simples plugin.
Ulisses Rocha em seu relato “Madeira Branca”
Em suma, ele diz:
- Áudio digital tem som mais puro e capta e reproduz gamas maiores de som. Chamamos tudo isso de “alta-fidelidade”.
- As etapas mecânicas do processo analógico adicionam ruído, e essa tecnologia não aguenta grandes amplitudes dinâmicas. Resumimos isso como “perda de qualidade”.
- O processo digital permite mixagens e efeitos sonoros muito mais precisos e efetivos. Enquanto o processo analógico exigia malabarismos mecânicos para resultados inferiores.
Já eu sou totalmente pelo digital. Eu quero a música do estúdio, da mesa de som diretamente para o meu alto-falante ou fone de ouvido. E só o processo digital confere a absoluta pureza numérica para realizar isso de ponta a ponta. Qualquer perda do processo digital é imperceptível ao ouvido humano.
Uma boa gravação digital em estúdio chega a ser melhor do que o músico tocando ao vivo na sua frente porque só no estúdio artistas e engenheiros de som têm o tempo e recursos necessários para refinar e perseguir um registro fonográfico perfeito.
O LP e seu processo de gravação e impressão foram criados na longínqua década de 1940. Mesmo que muita coisa melhorou, ainda mais com o crescente interesse recente, é processo preso a uma era de tecnologias completamente ultrapassadas e limitadas.
Ouvinte que prefere o LP ao invés da pureza do digital é como preferir charrete a cavalo ao invés de um moderno carro elétrico. É escolher entre o que dava prá fazer na época e o melhor possível hoje em dia. Não há nada de prático ou tecnicamente melhor no processo analógico, só charme nostálgico e saudosista. Exatamente os mesmos motivos para preferir uma charrete nos dias de hoje.
Lembre-se: isso deixou de ser assunto por uns 30 anos, desde 1983, quando o CD e gravações puramente digitais (DDD) chegaram ao consumidor final. Foram os marqueteiros da indústria fonográfica que recentemente botaram holofotes neste não-assunto para poderem lucrar com um refugo tecnológico exótico chamado LP. Mais ou menos como a indústria de bebidas faz com a cerveja que estragou transformando-a em malzbier. O mercado é grande e sempre tem “audiófilos” que compram esse argumento de venda.
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