Casal matutando sobre o que se dá de presente para menino que vai fazer bar-mitzvá. Ela pede ideias pra ele. Ele de cara responde:
— Não dá nada. Ou dá dinheiro.
— Não dá prá não dar nada.
— São pessoas que tem tudo e não precisam de nada. Dá chocolate, estojo de doces brasileiros, caixa de macarons coloridos.
— Ah, num dá. Tem convenções sociais.
— São essas “convenções sociais” que contribuem para empilhar o planeta com plástico e descartáveis.
— São essas “convenções sociais” que também fazem o mundo girar.
A conversa terminou aí, nesse impasse.
Enquanto isso, lembrei de texto necessário de Contardo Calligaris, de 2009, cujo subtítulo é “Para quem os recebe, nossos presentes valem metade do que eles nos custam”. Tem esta passagem:
[…] é bem possível que a troca natalina de presentes seja sobre tudo um gigantesco “potlatch”, como dizem os antropólogos, ou seja, uma maneira de torrarmos festivamente nossos recursos (dinheiro, bens e tempo) só para manifestar nossa riqueza (grande ou pequena) aos outros, ao céu e a nós mesmos
Pensando em mim mesmo como receptor de presentes, de fato pouco uso tive para a grande maioria dos presentes que recebi em datas manjadas, como aniversários e grandes festas. Com exceção das comidinhas, pois essas a gente devora feliz.
Não entram nesse conjunto os presentes que a gente ganha do nada, de surpresa, sem esperar. Provavelmente porque o desejo de presentear veio verdadeiramente de dentro, sem a obrigação da data. E aí também o objeto do presente é rodeado por alguma conexão sincera entre as duas pessoas. Aí vale e muito!
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