Tudo que você precisa saber sobre Criptografia

…e tinha medo de perguntar

A palavra “criptografia” vem do grego e significa “escrita escondida”. Bem, ainda não temos a tecnologia dos filmes de fantasia onde um pergaminho aparentemente em branco revela um mapa do tesouro quando exposto ao luar, mas a criptografia simula isso transformando a informação em algo ilegível ou aparentemente sem valor. Muito fácil: se eu rabiscar bem um cheque de R$100.000,00 ele também perde seu valor por ficar ilegível.

O difícil é o inverso: tornar legível o ilegível, e é aí que está a magia da criptografia.

O primeiro lugar onde alguém antenado pensaria em usar criptografia é na guerra, para comunicar estratégia de movimentação a tropas distantes, espionagem, etc. Se o inimigo intercepta essa comunicação, principalmente sem o primeiro saber, ganha a guerra. Por isso quem primeiro estudou técnicas de criptografia foram os militares, governos e instituições de pesquisas secretas. Focavam em duas coisas: como criptografar melhor e como descriptografar as mensagens do inimigo (criptoanálise).

Na nossa Era da Informação e Internet, criptografia tem um papel central porque viabiliza comunicação segura. Mais até: não teríamos uma Era da Informação se criptografia não fosse de uso dominado por qualquer cidadão, simplesmente porque o mundo comercial não entraria nessa onda de trocar informação (e fazer negócios) por redes abertas se não houvesse um meio de garantir confidencialidade.

Trata-se de um tema muito vasto, fascinante, com muitos desdobramentos tecnológicos. Então vamos somente nos focar em entender aqui o vocabulário desse mundo.

Criptografia de Chave-Simétrica

Criptografia digital já era usada secretamente desde 1949 por militares e governos. Em meados da década de 1970 a IBM inventou o padrão DES (Data Encription Standard) de criptografia, que passou a ser largamente utilizado até os dias de hoje. A partir daí tudo mudou.

Como exemplo de seu funcionamento, se a Paula quer enviar uma mensagem secreta para Tatiana, ela deve fazer isso:

Mensagem + ChaveSimétrica = MensagemCriptografada

Então MensagemCriptografada é enviada para Tatiana por uma rede aberta, que para lê-la terá que fazer o seguinte:

MensagemCriptografada + ChaveSimétrica = Mensagem

Uma analogia a essas equações seria como se ambas trocassem caixas que abrem e fecham com uma chave (a chave simétrica), que contém cartas secretas. Para a Tatiana abrir a caixa da Paula, terá que usar uma cópia da chave que a última usou para fecha-la.

O que representamos pela soma (+) é na verdade o algoritmo de cifragem (ou o mecanismo da fechadura) que criptografa e descriptografa a mensagem. Hoje em dia, esses algoritmos tem geralmente seu código fonte aberto, e isso ajudou-os a se tornarem mais seguros ainda, pois foram limpos e revisados ao longo dos anos por muitas pessoas ao redor do mundo.

A Chave Simétrica é uma seqüencia de bits e é ela que define o nível de segurança da comunicação. Ela deve ser sempre secreta. Chama-se simétrica porque todos os interessados em se comunicar devem ter uma cópia da mesma chave.

O DES com chave de 56 bits pode ser quebrado (MensagemCriptografada pode ser lida sem se conhecer a chave), e outros cifradores de chave simétrica (symmetric-key, ou private-key) mais modernos surgiram, como 3DES, AES, IDEA, etc.

O maior problema da criptografia de chave simétrica é como o remetente envia a chave secreta ao destinatário através de uma rede aberta (e teoricamente insegura). Se um intruso descobri-la, poderá ler todas as mensagens trocadas. Mais ainda, comprometerá a comunicação entre todo o conjunto de pessoas que confiavam nessa chave.

Criptografia de Chave Pública

Esses problemas foram eliminados em 1976 quando Whitfield Diffie e Martin Hellman trouxeram a tona os conceitos da criptografia de chave pública também conhecida por criptografia por par de chaves ou de chave assimétrica. Trata-se de uma revolução no campo das comunicações, tão radical quanto é o motor a combustão para o campo de transportes. Eles descobriram fórmulas matemáticas que permitem que cada usuário tenha um par de chaves de criptografia matematicamente relacionadas, uma privada e outra pública, sendo a última, como o próprio nome diz, publicamente disponível para qualquer pessoa. Essas fórmulas tem a impressionante característica de o que for criptografado com uma chave, só pode ser descriptografado com seu par. Então, no nosso exemplo, Paula agora enviaria uma mensagem para Tatiana da seguinte maneira:

Mensagem + ChavePública(Tatiana) = MensagemCriptografada

E Tatiana leria a mensagem assim:

MensagemCriptografada + ChavePrivada(Tatiana) = Mensagem

E Tatiana responderia para Paula da mesma forma:

Resposta + ChavePública(Paula) = RespostaCriptografada

Ou seja, uma mensagem criptografada com a chave pública de uma, só pode ser descriptografada com a chave privada da mesma, então a primeira pode ser livremente disponibilizada na Internet. E se a chave privada da Paula for roubada, somente as mensagens para a Paula estariam comprometidas.

O cifrador de chave pública tido como mais confiável é o RSA (iniciais de Rivest, Shamir e Adleman, seus criadores).

Criptografia assimétrica permitiu ainda outras inovações revolucionárias: se Tatiana quer publicar um documento e garantir sua autenticidade, pode fazer:

Documento + ChavePrivada(Tatiana) = DocumentoCriptografado

Se um leitor conseguir descriptografar este documento com a chave pública da Tatiana significa que ele foi criptografado com a chave privada da Tatiana, que somente ela tem a posse, o que significa que somente a Tatiana poderia te-lo publicado. Nasce assim a assinatura digital.

Infraestrutura para Chaves Públicas

O PGP (Pretty Good Privacy) foi o primeiro sistema de segurança que ofereceu criptografia de chave pública e assinatura digital de qualidade para as massas. Ficou tão popular que virou o padrão OpenPGP e posteriormente recebeu várias implementações livres. É largamente usado até hoje, principalmente em troca de e-mails. Sua popularização exigiu que houvesse uma forma para as pessoas encontrarem as chaves públicas de outras pessoas, que muitas vezes nem eram conhecidas pelas primeiras. No começo dos tempos do PGP, haviam sites onde as pessoas publicavam suas chaves públicas para as outras encontrarem. Talvez esta foi a forma mais rudimentar de PKI ou Public Key Infrastructure. PKI é um conjunto de ferramentas que uma comunidade usa justamente para a classificação, busca e integridade de suas chaves públicas. É um conjunto de idéias e não um padrão nem um produto. Conceitos de PKI estão hoje totalmente integrados em produtos de colaboração como o Lotus Notes da IBM, e seu uso é transparente ao usuário.

Certificados Digitais

Como Tatiana pode ter certeza que a chave pública de Paula que ela tem em mãos, e que está prestes a usar para enviar uma mensagem segura, é realmente de Paula? Outra pessoa, agindo de má fé, pode ter criado uma chave aleatória e publicado-a como sendo da Paula. Podemos colocar isso de outra forma: como posso ter certeza que estou acessando realmente o site de meu banco e não um site impostor que quer roubar minha senha, e meu dinheiro? Não gostaria de confiar em meus olhos só porque o site realmente se parece com o de meu banco. Haveria alguma forma mais confiável para garantir isso ?

Em 1996, a Netscape, fabricante do famoso browser, atacou este problema juntando o que havia de melhor em criptografia de chave pública, PKI (através do padrão X.509), mais parcerias com entidades confiáveis, e inventou o protocolo SSL (Secure Socket Layer ou TLS, seu sucessor), e foi graças a este passo que a Internet tomou um rumo de plataforma comercialmente viável para negócios, e mudou o mundo.

Para eu mandar minha senha com segurança ao site do banco, e poder movimentar minha conta, o site precisa primeiro me enviar sua chave pública, que vem assinada digitalmente por uma outra instituição de grande credibilidade. Em linhas gerais, os fabricantes de browsers (Mozilla, Microsoft, etc) instalam em seus produtos, na fábrica, os certificados digitais dessas entidades, que são usadas para verificar a autenticidade da chave pública e identidade do site do banco. Este, por sua vez, teve que passar por um processo burocrático junto a essa entidade certificadora, provando ser quem diz ser, para obter o certificado.

O SSL descomplicou essa malha de credibilidade, reduzindo o número de instituições em quem podemos confiar, distribuindo essa confiança por todos os sites que adquirirem um certificado SSL.

Na prática, funciona assim:

  1. Acesso pela primeira vez o site de uma empresa que parece ser idônea.
  2. Ele pede o número de meu cartão de crédito.
  3. Se meu browser não reclamou da segurança desse site, posso confiar nele porque…
  4. …o site usa um certificado emitido por uma entidade que eu confio.

Pode-se verificar os certificados que o fabricante do browser instalou, acessando suas configurações de segurança. Você vai encontrar lá entidades como VeriSign, Thawte, Equifax, GeoTrust, Visa, entre outros.

Segurança Real da Criptografia

Quanto maior for a chave de criptografia (número de bits) mais difícil é atacar um sistema criptográfico. Outros fatores influenciam na segurança, como a cultura em torno de manter bem guardadas as chaves privadas, qualidade dos algoritmos do cifrador, etc. Este último aspecto é muito importante, e tem se estabilizado num bom nível alto, porque esses algoritmos tem sido produzidos num modelo de software livre, o que permite várias boas mentes audita-los e corrigir falhas ou métodos matemáticos ruins.

A segurança real de qualquer esquema de criptografia não foi comprovada. Significa que, teoricamente, qualquer um que tiver muito recurso computacional disponível pode usa-lo para quebrar uma mensagem criptografada. Teoricamente. Porque estaríamos falando de centenas de computadores interconectados trabalhando para esse fim. Na prática, hoje isso é intangível, e basta usar bons produtos de criptografia (de preferência os baseados em software livre), com boas práticas de administração, e teremos criptografia realmente segura a nossa disposição.

Quer segurança? Organize-se!

Sobre Segurança em TI

Você sabia que segurança é, por anos consecutivos, apontado como um dos temas que mais gera interesse no mercado de TI? E é claro que fornecedores adoram abordá-lo na mídia, em eventos etc., porque é larga a fauna de produtos a oferecer. Funciona mais ou menos como a “indústria do medo” da área de segurança pessoal e carros blindados.

Se uma brecha de segurança é maliciosamente explorada numa empresa, o responsável será severamente punido pelo seu superior. E um fator psicológico que ameniza isso parece ser adquirir vários produtos de segurança para lançar-lhes a culpa, no caso de uma desgraça.

O fato é: quanto mais produtos de segurança uma empresa adquire, mais… terá produtos de segurança para gerenciar. Não necessariamente estará mais segura. Aliás, eleva-se a chance de ela estar insegura de fato devido ao aumento de complexidade em seu ambiente operacional.

Então o que é segurança? Uma definição que gosto é: segurança em TI se interessa por tudo que abrange a correta privacidade, disponibilidade e qualidade da informação. Essa definição tem derivações óbvias: “estamos inseguros se alguém de fora pode ver as informações internas de nossa empresa”; “estamos inseguros se nossos dados desaparecem”; e “estamos inseguros se alguém modifica maliciosamente nossas informações”.

O que muita gente ignora é que a informação pode ter sido exposta, desaparecida ou deteriorada por fatores internos como disco lotado, má configuração de algum software que nada tem a ver com segurança, ou até uma aplicação desenvolvida internamente, talvez por um programador inexperiente, que consumiu todo o poder de processamento de um servidor, deixando seu serviço — e por conseqüência a informação — indisponível.

Segurança não é firewall. Não são senhas. Nem serviço que se adquire como uma caixa preta. Nem criptografia. Tudo isso nada vale se estiver em mãos inexperientes ou inconseqüentes. Segurança corporativa em TI deve ser uma consciência perene em todos os envolvidos no fluxo da informação, ou seja, todos os funcionários de uma empresa. É um processo. E sendo assim, deve ser invocada desde a confecção de uma aplicação por um programador interno, até seu uso na mesa do usuário final. O primeiro mais que o último.

O primeiro passo é adotar uma metodologia, até uma criada internamente. O segundo é aplicá-la na área de desenvolvimento de aplicações, porque é na mesa do programador que a TI nasce, e se for concebida com segurança em mente, facilita no resto do ciclo de vida da aplicação (disponibilização e produção). Uma boa prática é não reinventar a roda toda vez que um programa novo precisa ser escrito. Use algum framework maduro de mercado, como Java Enterprise Edition, pois eles resolvem estes problemas em níveis que o programador corporativo não precisa chegar.

Costumo dizer também que segurança é sinônimo de organização. É possivel conceber segurança num data center desorganizado? E será que fizemos um bom trabalho se pararmos para organizar nosso data center sem pensar em segurança? Não há organização sem segurança, e vice-versa.

É comum também encontrar empresas em que este tema tem tamanha importância, sem hesitar em dizer que a níveis neuróticos às vezes, que fazer negócios passa a ser proibitivo, porque “é inseguro” fazer conexões aqui e ali. Reflexo popular disso é não permitir o uso das práticas ferramentas de mensagem instantânea ou sites de redes de amizades, como o orkut.com, porque claro, não queremos que um funcionário perca seu tempo falando com amigos pessoais. Mas muitas vezes ele está deixando de se relacionar com um cliente, parceiro, etc. Então é bom ou ruim permitir este tipo de abertura? A experiência tem mostrado que no balanço geral o resultado é positivo quando se permite a comunicação entre as pessoas.

O paradoxo é que empresas só fazem negócios quando seus funcionários se comunicam com o mundo de fora e o impulso natural da segurança é restringir isso. Portanto, nem tanto ao céu, nem tanto à terra, segurança em TI deve ser gerida de forma responsável, consciente, de mente aberta, e principalmente inovadora.

Apresentação IBM Linux

Aqui você vai encontrar minha apresentação sobre Linux e padrões abertos da IBM.

O conteúdo engloba:

  • Como medir maturidade de Software Livre
  • Diferença entre Linux e Software Livre
  • Padrões Abertos
  • De que forma Linux e Padrões Abertos ajudam empresas a reduzir custos
  • O caminho certo para começar a usar Linux numa empresa
  • Posicionando Linux e outros padrões para soluções de desktop
  • Arquiteturas de desktop, como PC Multiusuário, Workplace, etc
  • Arquiteturas não-convencionais com Linux: clusters, para-virtualização com Xen, SELinux, etc
  • Linux na estratégia On Demand da IBM
  • Linux no mercado, números, TCO
  • Comprometimento da IBM com Linux

Há muito conteúdo nesta apresentação, então costumo usar somente partes de acordo com o público.

Esta apresentação usa fontes que não estão por default numa instalação Linux. Se você vai usa-la em Linux, baixe e instale o pacote de fontes webcore-fonts.

Quando apresento, costumo mostrar também algumas animações flash e filmes para quebrar o gelo. Clique com o botão direito e salve o link:

Por que Linux é Melhor que Windows ?

A resposta quase automática e superficial para esta pergunta seria: Ora, porque Linux é livre e aberto, desenvolvido pela comunidade !

Linux tem demonstrado desenvoltura excepcional em ambientes corporativos, trazendo reais benefícios financeiros diretos, e também indiretos através de melhoria da operação de TI das empresas.

Deixando de lado o altruísmo de ser aberto e a moda do software livre, vamos analisar por que isso acontece.

 

Primeiro é importante lembrar que existe diferença entre software livre e Linux. O primeiro é qualquer tipo de software que tenha seu fonte aberto, e que tenha uma licença de uso que respeite certos padrões. Linux é um pequeno conjunto de alguns desses softwares que atingiram uma maturidade tal que podem ser usados até em ambientes críticos, com a tranqüilidade exigida pelo mundo corporativo. Linux não é sinônimo de software livre, nem tão pouco representa todos os softwares livres do mundo.

Linux é desenvolvido com base em padrões abertos. A evolução desse padrões são regidos por organizações independentes, como o W3C, OASIS, JCP etc, que visam o bem comum. Nenhuma entidade com interesses comerciais detém poder sobre eles. Os Padrões Abertos são um patrimônio da humanidade, e por isso podem ser usados livremente por qualquer pessoa ou organização.

Na prática isso se reverte em um consenso automático de como produtos e softwares falam entre sí e interoperam. Mais ainda, dá ao usuário a escolha de trocar facilmente produtos por outros que respeitam os mesmos padrões. Não que o usuário faça isso todo dia, nem todo ano. Mas o simples fato de ter escolha lhe dá um enorme poder de negociação com seus fornecedores. E isso faz os fornecedores reduzirem seus custos e melhorar a qualidade de seus produtos.

Concentrar-se numa camada de padrões tecnológicos abertos, promove ainda uma flexibilidade que permite fazer novas combinações criativas. Exemplo consagrado disso é Linux rodando em zSeries (mainframe), que permite aplicações baseadas em padrões abertos serem consolidadas numa plataforma em que não há desperdícios como tempo ocioso, mais fácil de ser gerenciada, e em que o custo total é menor. Isso é válido também para outras plataformas, pois a flexibilidade do Linux o faz presente em todo tipo de hardware: desde um simples relógio de pulso, até o zSeries.

Há também estudos sobre ganhos indiretos do uso de Linux e Padrões Abertos, mostrando que as empresas que os adotaram, começaram a descobrir uma nova gama de possibilidades que não estavam na prancheta do projeto inicial.

 

Há ainda a teoria de que Linux exige serviços mais caros. A mão de obra para Linux é conhecida como mais avançada, com mentes mais aguçadas, e que com pouco é capaz de fazer mais. Enquanto não se experimenta na prática essa força de profissionais, não é possível entendê-la na teoria. Sem dúvida existem também profissionais que deixam a desejar, como em qualquer especialidade, mas em geral são mentes que tem uma compreensão técnica das coisas que vai além do mero cotidiano de clicar botões na tela. Tudo é uma questão de o quanto se paga pelo tanto que se recebe.

O esforço da comunidade, aliado a intransigência de provedores de tecnologias proprietárias, fez surgir opções de softwares livres que interagem com softwares proprietários. Caso do OpenOffice.org, suite de escritório avançada que lê e grava documentos também nos formatos proprietários das outras suites.

Seja como for, o mercado de TI é grande o suficiente para conter todas as coisas. E o verdadeiro valor que produtos e tecnologias tem para seus usuários deve ser medido mais pelo benefício que lhes traz de fato, do que por relatórios de mercado ou teorias financeiras, que servem meramente para nortear. Dentro deste cenário, não podemos dizer que Linux é melhor. Mas é evidente que o mercado tem aceitado-o como uma ótima alternativa.

Uma coisa é fato: se Linux entra numa empresa, não sai mais.

Pense Aberto, Seja Livre

Linux vem ganhando cada vez mais espaço no mercado corporativo, mas ainda há dúvidas sobre até onde os sistemas abertos podem ser usados.

Ainda é comum encontrar grupos que defendem a idéia de Open Source para utilização sem qualquer restrição e que lutam por esta proposta com toda a força, mas nem sempre com um bom embasamento. Há ainda os CIOs que entendem que, deixando de lado tudo o que o movimento representa, Linux é somente um sistema operacional.

Começa a ficar claro que quanto mais específica é a funcionalidade de um software, mais restrito é o número de pessoas e empresas que trabalham nele. É a antítese do Open Source. Pense por um lado numa aplicação que atende somente a algum setor industrial. E por outro, algo de uso genérico como um sistema operacional, que no sentido mais primitivo do conceito, gerencia recursos de hardware, participa da rede, é seguro e confiavel (como Linux). Por ser de uso absolutamente essencial, este último possui sólida infra-estrutura de suporte. Já o primeiro, por ser de nicho, terá suporte muito bem pago, e protegerá seu capital intelectual com mecanismos legais. Antes, sistema operacional era uma necessidade de nicho, hoje é um commodity. Linux é um commodity.

Correlação entre Closed e Open Source

A segunda maior preocupação das empresas no campo de TI — a primeira sempre é redução de custos — é automatizar ao máximo sua cadeia de processos, ou seja, reunir seus processos de negócio como as pessoas os entendem e transformá-los em um “programa de computador”. E quando uma empresa faz isso de uma forma centralizada ela andou 80% do caminho em direção aos Web Services. Então, como executar esta operação de forma universal, libertando a empresa das amarras de um monopólio, com suporte profissional condizente com o negócio, com liberdade para a escolha da plataforma? Compra-se um ERP? Desenvolve-o internamente? A resposta a estas questões é: Não importa, se você estiver usando Padrões Abertos, que é o ponto de equilíbrio entre o closed e o Open Source. O resto se torna uma planilha de custos que definirá qual é a configuração mais barata.

Os grandes pilares do e-business

Pela primeira vez na história da computação, temos um conjunto de ferramentas abertas e universais que podem nos atender para qualquer necessidade: Linux como plataforma, XML e WebServices para comunicação e integração de aplicações, HTML e HTTP para interação com usuários, e o mais importante, Java Enterprise (ou J2EE), para o âmbito das aplicações de negócios. Os quatro são padrões abertos, sem dono, mas com suporte total de toda a indústria (com excessão de uma só empresa). Os quatro são um patrimonio da humanidade.

Arquitetura de um servidor de aplicações J2EE

J2EE, é um framework universal que provê uma série de serviços para aplicações de negócio: acesso a bancos de dados, ambiente transacional, segurança, separação da camada de apresentação, persistência de sessão, mensageria, componentização, serviços de nome, páginas web ativas (JSP), processamento XML, e por aí vai, sem parar de crescer. Isso permite que um processo de negócio seja convertido em software usando padrões, com a garantia de que rodará em qualquer lugar onde houver um servidor de aplicações J2EE, que tem vários fornecedores, Open Source ou comerciais. A implementação da IBM, por exemplo, é o WebSphere Application Server.

A especificação J2EE é desenvolvida por uma comunidade aberta que tem como membros a IBM, Sun, Oracle, SAP, Apache Software Foundation, Laboratórios Dolby, num total de mais de 600 entidades, que contribuem abertamente com o que cada um tem de melhor. Ela evolui seguindo o Java Community Process, que define o que entra ou não na especificação.

Usando sempre tecnologias abertas, uma empresa tem o conforto de aproveitar do mercado o que for mais importante para ela, levando em consideração nível de suporte, disponibilidade de skills etc. Foi isso o que a Internet mudou. Não tem nada a ver com a forma como compramos eletrônicos ou roupas, pois continuaremos indo às lojas. A Internet abriu o mundo permitindo a livre conversa entre as pessoas. Nem Linux nem padrões abertos existiriam sem a Internet. Bem vindo ao mundo livre, aberto e de todos.

Linux Expo 1999

Este é um e-mail histórico que mandei a vários entusiastas de Linux no Brasil durante a minha visita a Raleigh, que coincidiu com a Linux Expo 1999.

Data: Sexta, 21 Maio 1999 01:00 AM -0300
Assunto: LinuxExpo 1999

Sucedeu de eu estar em Raleigh bem na época da LinuxExpo’99. No podia deixar de ir. Como sou funcionário IBM, entrei na faixa conversando com o pessoal do stand da IBM.

Cheguei umas 17:00 e já estavam fechando a exposição. Dali pra frente só haveria uma recepção da IBM e mais algumas palestras.
No que vi do resto da exposição estavam presentes IBM (apresentando netfinity com raid), Sun, Adaptec, HP, Compaq, SGI (apresentando uma belissima máquina rodando RH6.0), Applix, FSF, Caldera, Oracle, S.u.S.E., Cyclades, Motorola, Linux*, Debian, etc, etc e etc…

Na recepção tinha comes, bebes, música e muitas figuras: Rasterman (Enlightenment, Gnome), Miguel de Icaza (Gnome), Jim Gettys (um dos criadores do X). O traje normal era jeans com polo ou camiseta. Era comum ver alguem com meia escura e sandalha. Muitos dos palestrantes estavam de short. Um clima aberto e desleixado. Tinha uma figura cabeluda com chapeu vermelho que não chamaria a tenção não fosse o chapeu, e sempre ter um monte de gente a sua volta. Cheguei perto pra ler o nome no cracha: ALAN COX!. Não vi o Linus e ouvi rumores que ele não viria.

Foi muito divertido ver as camisetas da galera. Traziam frases e desenhos muito legais.

Aconteceu de Star Wars estrear no mesmo dia da abertura da Expo. Aproveitando o ensejo, a capa do programa é o Pinguim sorrindo, coberto por uma capa Jedi, segurando um Sabre de Luz, e em volta os dizeres: MAY THE SOURCE BE WITH YOU.

Um dos assuntos mais falados é o ExtremeLinux(.org), sobre SMP. Tem algo a ver com o Beowulf. Parece-me que a IBM vai suportar algo do genero.

Entrei no final duma palestra sobre o XFree86(.org) 4.0. Uma pena, pois parecia ter sido bem interessante.

Segui para outra entitulada “The Future of X”, encabeçada por um grupo chamado (www.)X.Org. Esse grupo disse ter sido formalmente anunciado na última segunda-feira. O X parece ter se desmembrado do OpenGroup(.org). As grandes e poderosas fundaram a X.Org para continuar a evolução do X. Trata-se de uma entidade sem fins lucrativos, aberta para qualquer um, com o primeiro objetivo de remover a suja licensa do X11R6.4. Eles irão trabalhar mano-a-mano com o pessoal do XFree86 e ambos dizem-se bastante excitados com isso (ui!).

Discutiu-se muito sobre hardware 3D, GNOME, KDE, e como o novo suporte de grandes companias estimula fabricantes a produzirem drivers.

O Jim Gettys tinha um cracha da Compaq, mas acho que ele veio da Digital. No final duma palestra tinha um monte de gente em volta dele. Abriu uma bolsa de notebook, que na verdade tinha um monte de cabos emaranhados, e sacou um protótipo que não era maior que uma caixa de cigarros. Tinha o nome Compaq gravado nele. Disse que tinha 64M de memória, mostrou a saída serial, microfone, etc. Colocou duas pilhas AAA e bootou o Linux. Entrou no X, mostrou o relógio, xterm, ls, top e até o DOOM. Tocou um MPEG em tons de cinza (tudo isso com uma caneta tipo PalmPilot). Ai ele abriu o e-mail, guardou a caneta e começou a falar com o bixinho: “Messages please”. “Message from Mary, April 2, 1999. Attached file”. “Play it for me”. “Hi Jim, this is Mary…”. Captaram?

Estão todos conscientes de que 1999 é o ano Linux, até aquelas meninas que trabalham no evento.

Amanhã tem mais.

Abraços,
Avi
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Avi Alkalay <avi at br dot ibm dot com> – IT Specialist
Managed Internet & Intranet Services of IBM Global Services – Brazil
Tel: +55 11 3050-#### / Fax: +55 11 3050-**** / Tie-line: 842-%%%%

E este e-mail foi enviado alguns dias depois.

Data: Terça, 25 Maio 1999 11:53 PM -0300
Assunto: LinuxExpo’99 Parte 2

Depois daquele primeiro incrivel dia, aconteceram mais dois.

Na sexta cheguei no começo da tarde. Não queria perder a palestra sobre Coda(.cs.cmu.edu) (sucessor do AFS), um assunto que muito me atraia. A sala estava cheia, muitos interessados. O palestrante da Carnegie-Mellon University disse que eles fizeram muita evolução no cliente Windows e ele está mais usável. Mostrou comparações entre Coda, AFS, EXT2, BSD etc… Muito bom. Belíssimo projeto, bem embasado, grandes problemas e boas solução. Decepcionei-me quando ele anunciou um novo projeto: Inter-Mezzo(.org) que não é uma nova geração, apenas melhorias. Eles ainda não terminaram o Coda e já estão brincando de Inter-Mezzo. Isso é o mundo livre, sem compromissos…

Depois peguei o começo duma outra sobre Linux em PDAs (PalmPilot etc). Sei que havia alguém da 3Com presente e ouvindo com muito bons ouvidos. Eles devem estar de olho no Linux para o Palm 18 ou superior. Não fiquei até o fim.
Havia tantos assuntos interessantes que entendi que não adiantava ficar ouvindo todos eles pois até eu ter tempo para estudar tudo, a tecnologia já deu 15 voltas. Isso me levou aos stands, falar com pessoas. Queria ver o mundo marketing do Linux.

Comprei CDs baratíssimos, camisetas (já estou com a sua, Lele) etc. Conversei com um cara que trabalha na RedHat. Ele parece testar pacotes. Disse que trabalha lá a um ano e meio e foi o número 32. Hoje a RedHat tem 130 funcionários, e continuam contratando. Como gostaria de trabalhar nessa empresa…

No fim da tarde encontrei o Jon, um cara da Transarc que veio ao Brasil nos ajudar na instalação do DCE/DFS para Globonacopa(.com.br). Assistimos juntos a palestra do vice-presidente da AOL, que diga-se de passagem odeia a M$. O Jon tinha um Think Pad idêntico ao meu, com o RedHat 6.0 instalado. Na mesa do McDonalds ajudei-o a configurar o driver de som. O kernel 2.2 tem suporte a interfaces Infra-Vermelho, então, lá pelas 19:00, fomos ao seu hotel para tentar fazer alguma coisa com isso. As 2:00 da manhã conseguimos definir IPs nas interfaces “irlan0” de cada ThinkPad. Ai, a um metro e meio de distância, sem cabo (wireless!), fiz um telnet para a maquina dele e rodei um xterm que apareceu no meu display. Isto foi in-crí-vel! Tranferimos arquivos a uma taxa de 7.7 kbytes/s. Só numa LinuxExpo poderia encontrar alguém para montar um laboratório assim!

No dia seguinte conheci um IBMer cuja função é exclusivamente contribuir para o Apache. Ele está trabalhando especificamente no suporte a threads. Comentei que não posso ter uma versão pré-compilada X do Apache e utilizar módulos pre-compilados para a versão Y. Ele disse que a versão 2.0 tentará manter uma API estável. Disse também que a EAPI do mod_ssl será integrada ao núcleo do Apache.

Vi o WebSphere rodando completo, beta, num Linux. O WebSphere é o produto no qual a IBM está investindo mais tecnologia, e principalmente marketing hoje em dia. Percebem o sentido disso?

No stand da Debian havia um Mapa-Mundi com alfinetes coloridos espetados em todos os lugares onde haviam contribuintes. Era lindo de se ver. No Brasil havia só um alfinete verde na região de São Paulo. Fui falar com um dos cara-de-hacker que estava lá. Eu disse que era do Brasil e que conhecia o responsável por aquele alfinete (ouviu essa, Macan?). Perguntei se o Debian tinha consciência de que toda a Expo era graças ao mundo comercial do Linux. Ele disse: Sim, eu sei, mas estamos no mesmo barco. Perguntei qual era o objetivo de seu projeto: Well, to have fun! A resposta dele me deu vontade não de usar o Debian, mas de contribuir para ele.

No resto da tarde aconteceram palestras sobre Beowulf e ExtremeLinux(.org vale a pena visitar só prá ver o logo). Um cara da NASA mostrou um novo projeto em que está trabalhando, o BPROC, que permite um gerenciamento de processos, numa abordagem de cluster. Você pode fazer algo do tipo bproc_execv(node, path). Interessante…

No fim da tarde, reencontrei a garota da IBM que me colocou na faixa na Expo. Ela me convidou para uma festinha a noite na casa dela. Isso foi realmente interessante. Vejam o que aconteceu:
Lá conheci um cara da FSF (gnu.org), Tim Ney, um tipo de relações públicas. Ele trabalha cercadamente com o Richard Stallman. Disse que ele não “trabalha” mais para o MIT pq tudo que ele desenvolve no MIT deve ser propriedade do MIT, e isso é anti-FSF. Mas o MIT ainda o mantém, pois afinal ele é o Richard Stallman, que continua dormindo em sua sala de trabalho. Conversamos sobre o projeto GNU, futuro, passado, filosofia etc. Ele achou impressionante ver as IBMs, HPs, Silicons rodando o GNOME em seus computadores. Quem diria… Lamentei também o exesso de liberdade do projeto, tomando como exemplo a falta de compatibilidade entre as versões da LIBC. Mas é a vida…

Ainda na festa, havia também um pessoal da IBM que eram os expositores da Expo. Não entendi exatamente a topologia e hierarquia, mas 2 deles eram o suporte pre-vendas do Linux e outro fazia parte do PDT (Product Development Team) Linux. Compreendi que eles são o nome ‘Linux’ dentro da IBM. Estavam discutindo que vários gerentes estavam brigando para assumir isto. Todos querem dar uma mordida. Estavam todos muito empolgados e neste frenezi, um deles contou que participou de uma reunião telefônica entre vários grupos e um chefão. O chefão queria saber o que estava acontecendo na IBM. Ouviu falar que o grupo S/390 (mainframe) já tinha o Linux portado para esta plataforma. O grupo AIX, especificamente SP (multiprocessamento e clusters), estava contribuindo para o kernel SMP do Linux; eles inclusive já tinham boa parte do gerenciamento distribuido portado, como o dsh (distributed shell) e outros. O grupo Tivoli já tinha versões Alphas rodando em seus laboratórios, a Lotus já tem o Notes rodando lá dentro, etc, etc. Há algum plano com datas e objetivos? Quem pediu? Quem está gerenciando isto? Por que foi feito? A resposta de cada grupo era “empolgação”.

A Julie, dona da festa, é a responsável por marketing de NetFinity, e por consquência Linux. Reclamou da RedHat. Disse que são muito arrogantes e não tem muito conteúdo. Estão construindo uma imagem. Os outros tb questionaram o modelo de negócios deles. Do que eles vivem? O objetivo deles não é dinheiro e por isso vão acabar quebrando. Eles não estão dando o suporte que as grandes estão precisando. O DB2 foi construido para rodar em RH5.2 e parece não rodar bem no 6.0 por problemas de LIBG++. A RedHat não tem o menor intresse em manter a compatibilidade, e isso chateia. Por outro lado, Caldera responde muito bem a estas requisições. Eles parecem ter uma postura mais comercial, e menos hacker. A IBM parece estar tendendo para o Caldera OpenLinux.
Eu disse que acreditava que dentro de 2 anos a IBM iria lançar o IBM Linux. Os caras concordaram.

Foi muito importante eu ter ido a esta festa. Deu-me uma melhor visão da penetração mercadológica do Linux. As conversas foram impressionantes!

Bom, essa foi a minha visão de todo este eufórico final-de-semana. Comentários?

Boa Sorte e Abraços a todos,
Avi
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Avi Alkalay <avi at br dot ibm dot com> – IT Specialist
Managed Internet & Intranet Services of IBM Global Services – Brazil
Tel: +55 11 3050-#### / Fax: +55 11 3050-**** / Tie-line: 842-%%%%

Linux Astral Map

This is Linux atral map, which defines (for who believe) Linux’s personality and future. It was made based on the time the Linux OS was born, took from the e-mail Linus Torvalds sent releasing the first Linux version.

From: torvalds@klaava.Helsinki.FI (Linus Benedict Torvalds)
Newsgroup: comp.os.minix
Subject: What would you like to see most in minix?
Summary: small poll for my new operating system
Message-ID: 1991 Aug 25, 20578.9541@klaava.Helsinki.FI
Date: 25 Aug 91 20:57:08 GMT
Organization: University of Helsinki.

Hello everybody out there using minix-

I’m doing a (free) operating system (just a hobby, won’t be big and professional like gnu) for 386(486) AT clones. This has been brewing since april, and is starting to get ready. I’d like any feedback on things people like/dislike in minix; as my OS resembles it somewhat (same physical layout of the file-sytem due to practical reasons) among other things.

I’ve currently ported bash (1.08) an gcc (1.40), and things seem to work.
This implies that i’ll get something practical within a few months, and I’d like to know what features most people want. Any suggestions are welcome, but I won’t promise I’ll implement them 🙂

Linux Torvalds torvalds@kruuna.helsinki.fi

The astrologist who made the interpretation said many things about Linux “personality”. Some of them:

  • He’ll have a lot of money
  • He’ll receive many many help from many many people
  • He has a kind of a funny personality, like a child (remembers the Tux logo…)
  • He has a very speial personality, something you don’t find everyday