Do PC ao Datacenter, como o iPhone mudou tudo o que fazíamos em TI
- Publicado também no StormTech em 09/2014
A fórmula era ambiciosa para 2007: um telefone com inovadora tela multitoque grande, teclado virtual que finalmente funcionava, SMS repensado e apresentado como uma conversa, aplicação de e-mail com interface extremamente efetiva e clara, inúmeros sensores que interagiam com o mundo físico. E, acima de tudo, um browser completo e avançado, que funcionava tão bem quanto o que tínhamos no desktop. Além disso, a Apple inteligentemente recheou o aparelho com inúmeros padrões abertos, pontos de integração e mecanismos de sincronização como HTML5, MPEG-4, DAV, LDAP, IPSEC, IMAP, SSL etc, que outros fabricantes de smartphones negligenciávam ou apresentavam implementações falhas e limitadas. O resultado era um produto bonito e incomparável, que saia de fábrica já com funcionalidades avançadas e que agradava ao mesmo tempo das vovós aos nerds exigentes. Sua interface fluida simulava as leis da gravidade e inércia, entendia movimentos humanos (gestures) e eliminava a curva de aprendizado para usá-lo. Não é de se admirar que foi um sucesso de mercado e todos os outros fabricantes passaram a seguir sua fórmula.
O iPhone representa o momento em que passamos a carregar no bolso um confiável computador completo, sempre ligado e conectado. A partir daí as estatísticas comprovam que a quantidade de acessos a sites a partir de aparelhos móveis que seguiram sua fórmula não pára de crescer e, em diversos casos, já ultrapassa o número de acesso provenientes de computadores pessoais convencionais. Desenvolvedores passam a reforçar a importância do Mobile First, onde se prega que sites devem ser projetados primeiro para dispositivos móveis (sem Flash e com tela pequena) e depois para o desktop. iPhones e iPads (tablets que derivaram do modelo do iPhone) foram os que mais influenciaram a consolidação do HTML5 como padrão universal, que, por sua vez, derruba a hegemonia do MS Windows no desktop, porque HTML5 funciona em qualquer lugar onde houver um browser moderno.
Surgem também os aplicativos móveis, que dão mais poder e controle ao desenvolvedor e levam a experiência do usuário além das limitações do browser. A popularidade desses smartphones passaram a ser a oportunidade de ouro que os departamentos de marketing das empresas tanto esperavam para estarem sempre com seus clientes, fornecendo informações contextualizadas por geolocalização e capturando dados sobre seu mundo ao redor. Estar sempre com o cliente via seu celular passou a ser um fator competitivo entre as empresas e TI finalmente entrou na agenda de departamentos como RH, marketing e vendas, que outrora a olhavam como uma espécie de mal necessário.
Por uma questão de agilidade, tais departamentos passaram a controlar o ciclo todo, da concepção, ao desenvolvimento da app, ao celular do usuário, mas os processos tradicionais de TI de suas empresas não tinham tal agilidade. E foi nesse contexto que Cloud cresceu, justamente por seus provedores fornecerem infra-estrutura elástica instantaneamente. Agências de propaganda se tornaram bureaus de desenvolvimento de apps da noite para o dia e, junto com seus clientes, passaram a ser ávidos consumidores de serviços na Cloud. Tais agências se popularizaram com o nome “agências de digital”.
O aumento de “computadores” circulando pelo mundo aumentou também a necessidade de analisar e extrair significado da massa crescente de dados que eles geram. Nesse contexto, quem usa bem tecnologias analíticas — BI, BAO, Big Data — passa a ter um diferencial competitivo. Na verdade, apps que são amadas pelos usuários são aquelas que dão acesso a uma quantidade descomunal de dados mas que são entregues de forma precisa, contextualizada, útil e bonita. É esta a intrínseca relação entre analítica (BAO) e mobilidade bem feita. Esta relação e fenômeno são chamados de Socialitics – onde analítica instantânea promove engajamento e maior uso de uma aplicação que por sua vez gera mais dados, fechando assim o ciclo de alta circulação de dados.
Aplicações e sites bonitos, bem desenhados e com curva de aprendizado igual a zero viraram o padrão almejado do mercado. Encapsulamento de complexidade, usabilidade e interface com usuário (comumente chamados de UX, ou user experience) ganharam enorme importância porque o computador não era mais uma ferramenta exclusiva do information worker, agora estava nas mãos de todos. Aplicações que até podiam ter boas funcionalidade, mas que não eram de uso intuitivo e agradável, não seriam mais toleradas.
O crescimento explosivo das redes sociais também aconteceu exclusivamente devido a popularização de smartphones pois passaram a envolver e engajar o usuário com suas notificações na tela do celular, onde quer que estivesse. A experiência nessas redes se tornou mais intensa e verdadeiramente online. Conquistaram as pessoas porque estas perceberam que tratava-se de uma forma de comunicação tão onipresente, dinâmica e ágil quanto a lingua falada, graças ao smartphone sempre a mão.
Após conquistar das crianças aos idosos e mudar o dia-a-dia de todas as gerações intermediárias, a próxima fronteira da mobilidade é no campo do trabalho. Sendo finalmente os “computadores” que caminhoneiros e executivos aprendem a usar instantaneamente, tablets e smartphones passam a ser sua ferramenta única de trabalho. Não somente para email e calendário, mas agora para interagirem diretamente com seus sistema corporativos, ERPs, CRMs, SCMs, eliminando papelada intermediária e adicionando geolocalização, câmera, notificações contextualizadas, dados preciso, multimídia, interatividade e conexão instantânea com outros funcionários. Este último aspecto é uma nova tendência nas relações de trabalho que tem sido chamado de Social Business. Tudo o que se conhecia por Produtividade mudou completamente de patamar.
Mas aí começa um paradoxo. Enquanto acesso a tecnologia ingressa um exuberante processo de popularização e simplificação, criar e manter todo o arsenal tecnológico para suportar tal processo é deveras mais complexo que antes, tanto em capacidade computacional necessária, quanto em agilidade para lançar novidades, quanto em complexidade de integração de produtos díspares para atender necessidades avançadas, quanto em novos conhecimentos multidisciplinares exigidos das equipes de TI em todos os níveis. Este é o novo desafio da Indústria de TI, onde soluções integradas de alta complexidade — mas de gestão e uso fáceis — tendem a ser mais valorizadas. E, por sua vez, fornecedores de soluções tecnológicas que atuam dessa forma integrada tendem a ganhar proeminência.
Sete anos se passaram do nascimento do iPhone e vimos mudanças profundas no mercado de TI. Mas não se engane, estamos apenas começando.