Ontem, 16 de junho de 2015, fui ao show do Quinteto Vento em Madeira no Centro Cultural Cachuera. Dividiram o palco com Mônica Salmaso. Apesar da presença da cantora, não foi um show de MPB. Mônica novamente exercitou seu lado B jazzístico, deixou as letras de lado e ficou só no tum-dá-chibum dos scats.
O quinteto é liderado pela ótima flautista Léa Freire que tem um longo currículo de composições e gravações muito boas. Há também Teco Cardoso, que já me fez perder a conta de quantos álbuns monumentais da Música Instrumental Brasileira ele participa. De Ulisses Rocha a Orquestra Popular de Câmara, ao Pau Brasil, enfim… Em boa parte do show os sopros de ambos participaram de exuberantes diálogos: sax baixo de Teco subia quando a flauta de Léa descia e assim por diante.
Como bons representantes da cena instrumental paulistana, o Quinteto Vento em Madeira é vanguardista. Digo isso como um contraponto à cena carioca, que é mais renovadora do bom e velho choro/bossa/samba em roupagem instrumental. Mas voltando à vanguarda paulistana, ela é avançada, ou seja, exige algumas boas “escutadas” por ouvidos já amaciados para que seja apreciada. É o caso do Duofel, Grupo Medusa, Feijão de Corda, D’Alma e outros daqui da Pauliceia, que preferem a jornada do experimentalismo dissonante ao invés do pop instrumental.
Mas esse não é, repito: NÃO É, o caso do Vento em Madeira. Apesar de claramente soarem como a geografia vanguardista paulistana, eles conseguem ser fáceis e deliciosos. Ocupam assim um espaço incomum, difícil de preencher e é isso o que faz o Vento em Madeira extraordinário. Talvez pelo comando da natureza melódica dos instrumentos de Léa e Teco, talvez porque se projetaram assim, sei lá. E não importa. O que importa é que foi um dos melhores shows que fui nos últimos tempos, composições automaticamente inspiradoras e melódicas à moda antiga, só que tudo novinho em folha.
Acho também que eles tinham que sequestrar a Mônica de vez e virar um sexteto. Esse negócio de “participação especial” já não cola mais porque a gente sabe que ela tá em todas. E se arriscar muito ela passa a Joyce que para mim é ainda a maior “scater” do Brasil.
Uma coisa que me deixa mordido de feliz são os maracatus que aparecem do nada no meio das músicas. Adoro maracatu. Não há nada mais brasileiro, intenso e chacoalhante do que maracatu. E é tudo culpa do baterista Edu Ribeiro. O pianista Tiago Costa também se destacou como autor de ótimas composições.
Ponto marcante do show foi o veterano pianista Amilton Godói (ex-Zimbo Trio) roubar a cena com Léa, ele no piano, ela na flauta contra-baixo, instrumento este que eu nunca tinha visto nem ouvido. Do tamanho de uma pessoa de pé, soa grave e delicado, acompanhamento perfeito para a suave composição de Amilton.
Tem que ser muito petulante, ou escravo de rádio ruim, ou tremendamente desinformado prá dizer que a Música Brasileira está perdida, que não se faz mais coisa boa por aqui. O Vento em Madeira está aqui prá desdizer isso.
Fiquei feliz também que veio meu amigo Luiz e ganhei dele um álbum do violeiro Levi Ramiro que adoro. E que também consegui convencer meu ocupado colega de trabalho Alvaro Guimaraes, flautista, a adiar seus afazeres profissionais e vir ao show.
Sim!!!!
Eu tava lá!!!
Tudo muito bom!!
Começando pela companhia!
Abração de irmão,
LuiZ
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