Escrevi este artigo antes de “Data Science” ter sido cunhado, mas é disso que fala o artigo. Na época classifiquei o artigo como Business Intelligence, Business Analytics, Big Data e Data Mining.
- Publicado como um Mini Paper do Technical Leadership Council da IBM Brasil, em março de 2012.
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Há quem diga que os antigos profetas eram pessoas comuns que proferiam simples consequências lógicas baseadas em observação mais profunda de fatos de seu presente e passado. Tudo o que vemos à nossa volta é resultado de alguma ação, tem uma história e um motivo de ser e de existir. Em contrapartida, seguindo um mesmo raciocínio científico, se algo aparentemente “não tem explicação” é porque ninguém se aprofundou suficientemente nos fatos históricos que o causaram.
Avancemos no tempo. Hoje, vinte anos após a Internet ter mudado a sociedade e os negócios, o mundo está bastante informatizado. Na prática, isso significa que milhares de computadores constantemente geram dados em volume torrencial (Big Data). Seja o item que passou pelo caixa do supermercado, a placa do carro capturado pela câmera de trânsito, o perfil visitado na rede social ou o registro de uma ligação telefônica. Após ser usada em seu propósito inicial (totalizar uma conta, multar, etc.), a informação passa a ser dado histórico.
Mas os dados históricos podem ter um valor ainda maior em seguida. Quando agregados em grande quantidade ou dispostos em gráficos, podem mostrar desempenho, crescimento, queda e, principalmente, tendências, que é a materialização no mundo dos negócios da eterna busca pela previsão do futuro.
“Profetas” modernos trabalham mais ou menos assim:
- Identificam diversos repositórios de dados históricos espalhados numa empresa (ou até fora dela) e os integram de forma a permitir que sejam acessados em conjunto. Dois exemplos de dados seriam (a) todos os produtos vendidos numa loja e (b) cadastro de clientes com dados mais genéricos como CPF, endereço e renda mensal. Muitas vezes os dados são armazenados em data warehouses ou data marts e outras vezes descartados após a análise;
- Encontram e modelam relacionamentos entre esses dados. Por exemplo, o CPF do cliente que comprou tais produtos e o perfil desse CPF, no cadastro geral de clientes;
- Criam visões gráficas que os ajudam a inferir e, eventualmente, “prever o futuro” e tomar melhores decisões a fim de controlá-lo. Veja que esse fator, ainda bastante humano, é o mais valioso nesse processo.
Neste exemplo, uma previsão desejável — baseada no histórico de uma população — é o padrão de compra dos moradores de um certo bairro ou dos clientes de certa faixa de renda ou com certo número de dependentes. Essa análise é útil justamente para abastecer uma loja com produtos e quantidades certas ou ainda viabilizar campanhas de marketing direcionadas, com índice de retorno muito maior.
Outra previsão importante é o quanto será necessário abrir as comportas de uma usina hidrelétrica a fim de gerar energia suficiente para atender a demanda após o último capítulo de uma novela popular — hora em que cidades inteiras tomarão banho ou começarão a passar roupa. Parece algo banal mas é um evento histórico que, quando não tratado, pode causar apagão num estado inteiro. Esse exemplo é real e mostra a intrínseca relação — às vezes nada intuitiva quando vista isoladamente — entre fatos díspares.
Prever ou controlar o futuro tem se institucionalizado como ciência formal nas disciplinas de Business Intelligence — que tem como objetivo observar indicadores quantitativos a fim de entender o passado e o presente — e Business Analytics — que busca nos auxiliar a fazer as perguntas certas via correlação entre dados. Seus praticantes têm conhecimento multidisciplinar (hidrelétricas e novelas, por exemplo) e usam sua intuição, ambos potencializados por sistemas e métodos dessas disciplinas.
A última palavra em profecias são sistemas que recebem dados e fatos conforme esses vão surgindo e, em tempo real, conseguem tomar decisões de ajuste e melhoria de desempenho, tais como dar ou retirar crédito financeiro, comandar operações na bolsa de valores ou distribuir carga em uma rede telefônica, entre outras.
Prever ou controlar o futuro sempre será algo difícil e portanto valorizado. Sistemas e técnicas de análise de negócios são as bolas de cristal modernas que transformaram essa arte em algo científico e tangível.
Veja também artigo sobre Big Data de Katia Vaskys na Computer World.
Avi,
Muito bom o texto.
Idéia bem apresentada e estrutura que convida a continuar lendo.
Sobre o assunto em si, me faz pensar se, no limite, essa tendência de os agentes do mercado “lerem” os gostos dos seus fregueses, para saber o que ofertar aos mesmos, não vai fazer com que um dia a gente vá ao supermercado e lá tenha apenas as marcas que a gente já gosta, nos tolhendo do saudável momento de depararmo-nos com algo totalmente distinto e tomar aquela decisão, por impulso e tão humana: “Vou testar esse aqui!”
Isso já ocorre, em certo nível, com nossas experiências na navegação internética.
E o paradoxo da modernização da sociedade, é que enquanto uns saudavelmente discutem as tendências que a “inteligentização” dos negócios permitem, ao mesmo tempo, lá no querido TRF, decide-se que somente médicos detém o poder supremo de aplicar a Acupuntura, uma ciência milenar que se apóia em conhecimentos que nada tem a ver com a lógica da prescrição médica, da qual nós brazucas somos todos reféns.
Será que dá pra usar o Data Mining pra identificar porque a sociedade vai aos poucos emburrecendo e se tornando retrógada, e daí reverter o processo?
Abração,
LuiZ
Luiz, ótimas colocações, como sempre.
Todas as coisas podem ser usadas para o bem e para o mal. Sendo que, em questões corporativas, bem e mal tem definições bastante flutuantes, que até se intercalam.
Não sei exatamente se a humanidade está regredindo, emburrecendo. Só sei que excesso de inteligência aliado a tecnologia pode sim alavancar a burrice inerente das pessoas, a burrice que as pessoas sempre tiverem, e tirar proveito disso.
Por outro lado, a Internet deixa as pessoas mais inteligentes, mais informadas. Aos poucos. E isso é sem dúvida uma evolução real e mais perene na minha opinião.
Da mesma forma que para a cidade ficar mais limpa é preciso que cada um faça a sua parte, para a humanidade como um todo ficar mais inteligente será necessário que cada um trabalhe sua própria inteligência e consciência. Em todos os tipos de inteligência. Eu tento fazer a minha parte.