Crianças na Cidade

Minha filha de quase 14 anos queria ir numa loja longínqua com uma amiga.

Eu informei que não levaria e não iria junto, que elas deveriam ir sozinhas de transporte público porque já sabem como faz (a foto é delas no metrô). Mas como seria a 1ª vez sozinhas, eu iria uns metros atrás só prá certificar, sem ser informado onde é, nem como vai e nem cuidar prá atravessarem a rua direito. Eu fui seguindo como uma sombra surda e muda, sem nem ouvir do que conversavam.

Na loja, eu nem olhei o que escolhiam e nem opinei sobre o que deveriam levar ou não, nem se cabia no orçamento da mesada dela. Mentira, ela me mostrou as lindas peças que escolheu. Mas só. Ela fez planejamento orçamentário e até cobrou a vó pelo Pix de presente de fim de ano.

Prá mim foi um ótimo programa de passeio pela cidade, fiquei ouvindo notícias no rádio (podcasts), música, vi gente, fiz Pix de R$10 pruma rapper simpática e necessitada no metrô, e fiz um monte de calls de trabalho.

Eu não concordo com a impressão que algumas pessoas têm de que a cidade é insegura para crianças. Meu primeiro ônibus sozinho de que tenho lembrança foi o 177H que eu pegava semanalmente em Perdizes, com 11 ou 12 anos, prá ir ao curso Tempo e Espaço em Pinheiros. Ia de tarde e voltava já de noite. E caminhava até o ponto de ônibus, e esperava o ônibus chegar, e embarcava no ônibus lotado de pessoas saindo do trabalho na Teodoro Sampaio. Tudo sozinho.

Meninas andam sozinhas no metrô de São Paulo​
Meninas andam sozinhas no metrô de São Paulo

Mas algo piorou na cidade: a quantidade de carros e motoqueiros malucos e suas velocidades estonteantes. Quanto aos serviços públicos (transporte, segurança), estes só se ampliaram e melhoraram.

Procuro imputar o máximo de independência na educação dos filhos. Eu queria que fizéssemos mais trajetos de bicicleta também, mas esbarro no problema do excesso de carros e tráfego caótico, resultado de décadas de uma política urbana que pensou quase que só no carro particular.

As escolhas urbanas que fazemos para nossas vidas — onde e como moramos — nos influenciam muito mais do que imaginamos. Acho de suma importância morar em bairro com abundância de transporte público, repleto de serviços, plano e bom de andar a pé. Quando há sempre pedestres nas ruas tratando de seus cotidianos, aumentamos nosso senso de comunidade, giramos a economia local e até melhoramos a segurança ao nosso redor. Prefiro usar serviços da cidade pertíssimos da minha família ao invés da solidão estéril e asséptica de ter tudo dentro do condomínio fechado.

Expanda sua consciência urbana!


Publicado originalmente no meu Facebook.

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