Nefasta campanha de estatísticas de audição do Spotify

Sem chance de eu obter qualquer estatística sobre meus gostos musicais, artistas e músicas que mais ouço. Ora, porque não uso Spotify. Ouço música majoritariamente de meu acervo pessoal (via Jellyfin, Kodi e outros tocadores) ou no Tidal que ganhei do plano de telefonia. E também em rádios como Soma.FM, Mixcloud, Rádio USP FM e Cultura FM onde o repertório é feito diretamente por humanos.

As pessoas ouvem música para se inspirarem. Energizar, relaxar, viajar, distrair, divertir, viver uma nostalgia, preencher o silêncio. É um lance emocional e de momento. E também íntimo e pessoal, social, coletivo e até ato político.

Estatísticas sobre o que as pessoas ouvem interessam aos artistas e a quem faz dinheiro com música. Para ouvintes de música, quantificar este hábito é, ao mesmo tempo, meramente curioso e bem irrelevante. Não consigo enxergar de outra forma, pois ao olhar essas estatísticas você jamais dirá “puxa, preciso ouvir mais Vivaldi”. Faz muito bem em continuar ouvindo o que te inspira naquele momento enquanto você realiza o tamanho do poder que uma única empresa pode exercer sobre os ouvidos e mentes de uma sociedade inteira.

Eu sei que você tem orgulho da boa música que você ouve. Todos temos. Mas como sociedade deveríamos ter vergonha de permitir a formação de um monopólio como esse.

A campanha do Spotify (de estatísticas de gostos musicais pessoais) é prá criar marcas, monetizar e oferecer a múltiplos setores indústrias (não só ao da música) uma nova modalidade de produto chamada “ouvinte”. Você nem imagina como essas estatísticas de audiência são reagrupadas e usadas no outro lado da indústria. Sim, adivinhou, para influenciar e moldar os seus gostos, para fidelizar, para te vender produtos, para lotar shows de Coldplays e Taylors Swifts.

Eis algumas estatísticas que são bem mais úteis para você:

  • atividade parlamentar dos legisladores eleitos por você e pelo resto da sociedade
  • tempo diário gasto no trânsito
  • performance de seus investimentos pessoais
  • onde você gasta mais dinheiro (restaurantes, viagens, cultura, despesas)
  • custo e valor de bens de consumo ao longo do tempo

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