Cheguei ontem em Belém do Pará, para um evento, e jantei num ótimo restaurante chamado Lá em Casa.
Queria traçar uma comida típica e o garçom foi excelente nas sugestões e descrições, e acabei indo no Filhote Pai D’égua. Filhote é um peixe da região, e o prato vinha acompanhado de arroz com jambú (que parece espinafre, mas é diferente), farinha molhada com leite de côco, e salada de feijão manteiguinha de Santarém (um feijão claro e muito pequeno). O peixe era grelhado, macio, suculento e muito saboroso.
O garçom — cujas explicações regionais não deixavam a desejar perto de qualquer documentário de Travel Channel — explicou que o nome “Filhote” caiu na boca do povo como o nome do tal peixe. Mas não é. Chamam-no assim até ele atingir 20kg. Pense num peixe de 20kg que é chamado de Filhote. Bem, depois disso o nome dele vira Piraíba, mas seus 100kg não são mais apreciados porque na fase adulta sua carne fica fibrosa. Imagine um peixe de 100kg!! Coisas da Amazônia….
Já estava satisfeito quando descobri que a carta de sobremesas incluia sorvete de Bacurí — a maior de todas as delícias da Amazônia, talvez do Brasil, que já conhecia de outra viagem que fiz aos Lençóis Maranhenses e ao Piauí. Para não desencarnar de êxtase, pedi só uma bola, acompanhada de outra de sorvete de tapioca. Dormi feliz, mesmo porque tinha passado o dia comendo só barras de cereais nos vôos.
Em São Paulo pode-se provar sorvete de Bacurí numa pequena cafeteria que fica no Itaim Bibi, na rua Jesuino Arruda entre ruas João Cachoeira e Manuel Guedes.
Belém é uma cidade plana, com casarões antigos muito bonitos, alguns infelizmente não muito preservados. O que mais impressiona na cidade são as mangueiras carregadas e outras arvores gigantescas que enfeitam as ruas. Um taxista me contou que as mangas dessas árvores eram uma arma letal da natureza contra os carros passantes, mas agora a prefeitura organizou um esquema em que elas são colhidas das árvores e transformadas em suco para escolas carentes.
Estação das Docas nas margens do Rio Amazonas.
Fui ao evento na sexta, na famosa Estação das Docas, que fica na beira do rio Amazonas. No almoço um garçom me informou que havia uma feira livre — que depois soube que era a Feira do Ver-o-Peso — a sudoeste (dava para ir a pé), onde uma senhora (e suas filhas) vendia polpa de frutas. Numa operação rápida atravessei a feira, comprei um isopor, e enchi com 4 litros de polpa de Bacurí e Graviola. A Tati ganhou uma sorveteira esses dias, que só faltava agora se juntar às polpas e me proporcionar a atmosfera ideal para desencarnar de vez com a êxtase do sorvete de Bacurí.
No fim do evento, aquele povo lindo de feições indígenas se juntou na parte externa das Docas, de frente para o rio, para ver um show que acontece toda sexta-feira, e sucedeu uma cena tocante: todos suspiraram sincronizadamente ao ver o último fio de sol sumir, laranja, quente, lindo, atrás da floresta, que ficava atrás daquele pequeno — mas já gigante — braço do rio Amazonas.
Acho que por respeito ao por-do-sol, a banda só começa a tocar logo depois. Músicas regionais que todos conheciam, menos eu. Lundus, etc. E depois entrou um grupo de dançarinas morenas e sorridentes, girando suas saias longas com os braços erguidos. Era uma cena da mais pura e singela alegria.
Mais uma vez, adorei o Pará.
ATUALIZANDO: quando comentei com um pessoal do evento sobre o Filhote Pai D’égua, eles me informaram que pai d’égua é uma gíria que os paraenses usam onde um baiano diria porreta, um carioca diria maneiro e um paulistano diria mór bom, mano.
“O peixe era grelhado, macio, suculento e muito saboroso.”
mas você não era vegetariano?
esse mundo é muito estranho.
Jessica, eu sou quase vegetariano.
Só como peixes quando não tem outra opção. E estou tentando parar, mas é dificil nessa nossa sociedade de carne.
ah, ok. uma dica então: sendo simpático com o garçom, é sempre possível “montar” um prato vegetariano usando guarnições de outros pratos não vegetarianos. aliás, isso pode resultar em combinações bem interessantes(e quase sempre mais baratas). 🙂
Realmente, cheguei a provar o sorvete de bacurí, e gostei assaz, porém a fruta que mais agradou foi o cupuaçu. Provei o filhote no tucupi com jambú, e até achei parecido com as comidas típicas daqui de Natal. 😛
cade a musica em?
quero baixar musicas
pela mor di Deus genti
queroé musicas
Achei muito bom os sabores da culinária paraense, devemos
fazer pratos mais ousados e surpreender mais os clientes a exemplo
do que se vê no filme Ratatouille.
Qualquer um pode cozinhar desde que haja comprometimento mútuo
entre a equipe e o chef.
Gostei msm qnd vc falou na palavra magica, BACURÍ!! Nossa eu estou a tempos procurando essa fruta em São Paulo e ñ encontro. Vcs podem me informar onde eu posso encontrar em Sampa, pq sou louca por essa fruta. Fico muito grata se possivel a informação. Obrigada.
adorei como vc falou bem de belem esta cidade é encantada mesmo
NUNCA COMI UM PEIXE TÃO GOSTOSO COMO O FILHOTE!!! Muito saboroso… também fui a esse restaurante, mas comi FILHOTE no TUCUPI com JAMBU… D.E.L.I.C.I.A.!!!
Fui ao Ver-O-Peso e me deliciei com as frutas tipicas da regiao… Muito bom!
Ahhhh q maravilha saber q mais alguém nesse mundo amou tanto a fruta Bacuri qto eu… Há uma semana voltei desse lugar extasiante q é Belém (foi a 1ª vez q fui mas já tô com saudade)e essa fruta e suas variações realmente me surpreendeu…
Sinceramente ainda ñ sei como pude viver até aqui sem ela (bacuri).
Agora Ver-o-peso, Estação das Docas, Mangal das Garças e Ver-o-Rio são lugares indescritíveis…
Bora lá…
Seu comentário sobre minha terra querida foi “pai d’égua”!!! Obrigada!!! Morri de saudades dessa terra tão linda!!!