Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.
Duas Corcovas Chacoalham Mais do que Uma
- A claridade da alvorada ia entrando pelos pequenos buracos do yurt, mas isso não incomodava o conforto de dormir lá dentro. No café serviram panquecas finas, um algo delicioso entre geléia e compota de damasco, chá verde e outras coisas.
- Fechamos as malas, largamos na van e os camelos de duas corcovas já estavam a nossa espera. Tarkan foi guiando os camelos a pé enquanto cantarolava algo. Era um sobe e desce morro sem fim, com paisagem homogênea e bela para todo ângulo que se olhasse.
- No fim da jornada chacoalhadíssima de ±1h, avistamos o lago Aydarkul e um pouco mais adiante nos encontramos com Sacha e despedimos de Tarkan e seus camelos.
- Depois de se perder um pouco, Sacha nos levou à beira do lago de águas cristalinas e menos salgadas que o mar. Precisávamos de mais poucos graus de calor para entrar de corpo e alma, mas o ligeiro frio convidou só os pezinhos. Caminhamos pela praia do deserto cuja areia era ainda mais fina e macia que as das praias brasileiras. Havia arbustos completamente cobertos por sal.
- O mesmo cozinheiro dos yurts armou uma tenda perto da praia para servir um almoço só para nós. Tomate, pepino (mas sem faca para cortá-los), peixe frito, pão e uvas e melancia para sobremesa. Chá verde como sempre.
Civilizátsya a Caminho !
- Caímos na estrada. Aos poucos iam surgindo montanhas na paisagem ainda desértica. Num trecho viajamos por uma planície paralelos a uma cordilheira que subia abruptamente. Um cenário singular.
- A estrada era de um asfalto velho ou ruim exigindo muitas vezes desviar dos buracos em baixa velocidade, e não permitia passar dos 80km/h.
- Paramos numa pequena cidade que Sacha não sabia o nome, compramos picolé muito barato e bom e ficamos olhando os artigos da venda: muito chá, cereais e macarrão a granel, barras de açúcar de uvas que parecia um cristal bem formado da cor da polpa dessa fruta. Compramos sabão em pó para lavar a roupa.
- A paisagem ia ficando verdejante conforme nos aproximávamos de Samarqand e chegando lá Sacha nos deixou no hotel Afrosiyob lá pelas 16h. Xush kelibsiz !!!
- Subimos ao quarto, tomamos banho e depois usamos a banheira para lavar a roupa. Ela soltou muito pó que foi pelo ralo. Deixamos secando sobre o ar condicionado e na varanda do quarto. Até a manhã seguinte as roupas estavam secas.
Internet e Jantar no Irã
- Um pouco antes de escurecer saímos para transferir as fotos para CDs e comer algo. Depois de perguntar e andar bastante, achamos uma LAN house que gravou nossas fotos em 3 CDs. A Tati ficou na Internet enquanto isso, e tudo saiu por 3400 sum, bem melhor que os $5/hora do hotel, só para Internet. No espaço que sobrou no último CD, pedi ao rapaz da LAN house preencher com MP3s de música uzbek tradicional. Intercambio cultural é tão mais fácil nessa nossa era digital. Ganhamos uns 400 MB de algo que deve ser o Chico Buarque do Uzbequistão, segundo sua descrição.
- O rapaz também sugeriu um restaurante chamado Istiqlol e nos metemos num taxi para chegar lá. Só esqueceu de dizer que não seria fácil para turistas. Nem amigável para vegetarianos. Todas as mesas ficavam em quartos privados fechados por cortinas e separados dos outros quartos por paredes de 2m de altura. Não se via ninguém mas ouvia-se bem suas conversas e seus cigarros impregnaram nossas roupas.
- Tinham cardápios em farsi e em russo, inúteis para nós. Foi provavelmente o pedido mais demorado, mímico e trabalhoso que o garçom que mal falava inglês tirou. E foi baseado em coisas que conseguimos nos entender com ele, e não tanto no que realmente estávamos a fim de comer. Resumindo: “green and tomato salad”, “vegetarian soup”, “chicken kebab”. Foi divertido. Depois descobrimos que esse era um restaurante iraniano e que não era muito bom.
- O taxi da volta saiu por 2000 sum e fomos dormir.
One thought on “Camelos e Samarqand”