Viagem ao Umbigo do Mundo

Tatiana e eu fizemos uma viagem absolutamente incrível para o outro lado planeta — a Ásia Central — região que muitas pessoas mal sabem que existe.

Fizemos anotações detalhadas, dia após dia, sobre todos os lugares que passamos, pessoas que encontramos e impressões que tivemos. Os links abaixo vão te levar às mesquitas do Uzbequistão, montanhas do Kyrgyzstão, ao caldeirão social da China, e a exuberância de Moscow.

Foi uma viagem de conhecimento, então os relatos estão recheados de mapas, referências na Wikipédia, fotos e videos. Além de impressões gerais, e observações sobre etnias, línguas, religião e coisas que não existem na Ásia Central logo abaixo.

Viaje conosco !

Uzbequistão

Kyrgyzstão

China

Moscow e Paris

Impressões Gerais

Eu recomendo fortemente qualquer pessoa fazer viagens desafiantes. Dificilmente nossa cultura e pontos de vista vão crescer se passarmos 7 dias coçando num resort.

Pode ser qualquer lugar: Amazônia para urbanóides, Islã para ateus, Las Vegas para saudosos marxistas.

Além do gostinho de poder contar que fomos para lugares que muitas pessoas não sabem nem pronunciar o nome, o desafio nos fez pensar muito sobre a história do mundo, o fluxo das etnias humanas, sociedade, economia, comida, fé, religião, e principalmente sobre nós mesmos e o que de fato somos.

Viajar pela Ásia Central não foi nada difícil. As pessoas são amigáveis e bonitas, os hotéis são confortáveis, cidades bem equipadas. E se você não for se meter no Afeganistão ou no Kashmir, a paz reina.

Etnias

O Uzbequistão faz fronteira com o Irã, antiga Pérsia, que definiu o tipo étnico da região há milênios. Mas a região foi também berço de incursões militares gregas de Alexandre o Grande e Genghis Khan. Isso conferiu uma mistura incrível de traços, cores de olhos e línguas.

É comum ver persas claros, loiras de olhos puxados, ou mongois de olhos verdes. E vimos mulheres realmente lindas.

O noroeste da China não é chinês. Pelo menos não no esteriótipo de chinês que as pessoas costumam ter na cabeça. O noroeste da China é tão persa quanto o Uzbequistão.

Já o Kyrgyzstão tem olhos mais puxados do que o noroeste da China. Se te teletransportarem para lá de olhos fechados, vai dizer que está no interior da China.

Línguas

Toda aquela região, inclusive o noroeste da China fala dialetos muito parecidos, todos derivados de língua turca. Uzbeque, Kyrgyz e Uyghur são línguas 95% similares e todos se entendem pela lingua falada.

O problema é ler e escrever. As línguas escritas no Uzbequistão são o russo (alfabeto cirílico) e o uzbeque a décadas escrito em cirílico. Mas recentemente o governo decidiu dar um passo no sentido da modernidade e maior integração com o ocidente adotando alfabeto latino como o oficial para escrever uzbeque.

No Kyrgyzstão eles não ligam muito para relações internacionais, então continuam escrevendo kyrgyz em cirílico mesmo. E na China, o povo Uyghur se orgulha em manter as tradições usando o alfabeto árabe (diferente da língua árabe) para ler e escrever.

Mas isso não tem muito problema porque o Uzbequistão é o maior produtor de videoclipes da região e todo mundo acaba ouvindo música Uzbeque que obtém de DVDs pirateados.

Há ainda inúmeros outros povos na região, que falam dialetos parecidos: os Khorezm, os Kazakhs, Tajiks, etc.

Fé e Religião

Esse foi um dos aspectos mais interessantes da viagem. A região é predominantemente islãmica. É incorreto dizer que são árabes porque estes são os que vivem na Península Arábica, milhares de quilómetros a oeste da Ásia Central.

Mas é um islã leve. Se não visitássemos os lugares históricos talvez nem percebêssemos. No Kyrgyzstão é mais leve ainda. Não há uma conexão muito grande com isso por lá.

Só a China nos surpreendeu. Sim, a China. Foi somente alí que vimos mulheres de rostos cobertos e fanatismo um pouco mais evidente. Isso acontece porque há um preconceito mútuo entre os chineses Uyghurs (predominantes no noroeste do país) e os chineses Han (os de olhos puxados). A conseqüência é que a minoria Uyghur acaba se voltando mais para sí, fomentando tradições e costumes em torno da religião. Ao longo dos séculos, costumes temporais, tradições sociais e leis religiosas se confundem e tudo vira sagrado sem se saber exatamente o motivo.

Coisas que não existem na Ásia Central

  • Preço estampado em qualquer mercadoria. O preço é feito sempre na hora, conforme a cara do freguês e o humor do vendedor. E sempre há margem para pechincha.
  • Adoçante dietético. Nenhum restaurante tem, mesmo se pedir.
  • Coca-Cola Light ou qualquer outro refrigerante dietético.
  • Folhas tipo alface, rúcula ou agrião. Nem na feira. Quando pedíamos a “Salada Verde” do cardápio de alguns restaurantes, era de coentro, cheiro-verde e dil. Uma salada de temperos verdes.
  • Saladas sem coentro.
  • Comida quente sem carne ou sem qualquer gordura animal. “Tem carne nisso aí?”. “Não, só bacon pra dar um sabor”.
  • Comida sem óleo.
  • Facas que efetivamente cortam. Todas eram cegas.
  • Guardanapo limpo sobre a mesa assim que se senta. Sempre tínhamos que pedir.
  • Guardanapo usado que fica na mesa mais de 3 minutos. Os garçons tinham algum tipo de obsessão em recolhê-los assim que fossem usados ainda que pouco.
  • Hoteis com cama de casal. Mais raro que mosca branca.
  • Área ou quarto de hotel para não-fumantes. Em qualquer sala de espera, restaurante, quarto de hotel etc, fumavam sem parar de todos os lados.

20 thoughts on “Viagem ao Umbigo do Mundo”

  1. Falem Avi e Tati!

    Bueno, eu já comecei minha “viagem” na viagem de vocês.
    Vou um pouquinho por dia, como vocês.
    Quem sabe onde vou chegar?

    Valeu por compartilhar!
    Um abração!

    LuiZ

  2. Parabéns pela viagem e mais ainda pelo relato: completo, detalhado e muito bem escrito (pelo pouco que eu pude ler até agora). 🙂

    Só um bug-report: alguns links do terceiro parágrafo desse post estão quebrados, apontando pra página de administração do blog.

    Abraço,
    – Ademar

  3. To dando risada sozinho aqui, nunca pensei que vc ia sentir falta de salada verde indo pra asia central… 😉 Adorei a iniciativa de compartilhar a experiência.
    Abraço grande,
    Flavio

  4. Adorei o seu relato. (praticamente já li quase todo ele)

    Mas de uma coisa senti falta nele: qual a reação das pessoas a saber que vocês eram do Brasil? Sabiam alguma coisa? (de preferência alem do pelé, samba, ronaldinhooo)? Comentaram, se interessaram por algum fato mencionado em passant, etc?

    Viagem fantástica, talvez um dia, por enquanto me interesso mais por viagens de “90 graus” e não “180 graus”

    Ainda mais depois de (eu) passar os ultimos 3 dias rodando em aeroportos…

  5. vc não sabe nem escrever direito uma amatéria sobre um pais querida…
    se vc quiser saber melhor sobre o uzbequistão me procura que eu te ensino…

  6. gostei da sua viajem mas no seu relatorio nao diz nada do umbigo que estar escrito eu pensei que voce iria falar das doenças etc…
    mas mesmo assim parabens pelo seu relatorio
    bjssssss…

  7. Por isto que eu não saio daqui do Brasil… bobeira gastar dinheiro pra ver isto aí. Vou pra praia de Sepetiba RJ, comer frango com farofa e passar um “lodo” (lama) no corpo pra me curar das perebas.

  8. Boa noite, Don Avi! Me chamo Wesley Galvan e vivo em Goiânia, já vivemos na Espanha durante seis anos, minha família e eu e já andei um pouquinho pelo mundo, no total 19 países. Pois bem…eu tenho vontade de conhecer o UZBEQUISTÃO e realmente gostaria de parabenizar-lo pelo site, pelos comentários, pelas fotos, enfim, foi muito gratificante ver tantas coisas de um país que estamos programando em conhecer e através de dois brasileiros.
    Bom…gostaria de saber mais de vocês, se pudessem entrar em contato conosco através do telefone (62)8124 9770(tim), assim poderíamos conversar um pouco, tenho algumas dificuldades e para isso preciso tirar dúvidas com esteve por lá e que conheceu as pessoas, o país, a cultura, etc…; peço a gentileza de me ligarem ou enviar um e-mail para wesley.galvan@hotmail.com.

    Abraços,

    Wesley Galvan

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