- Uma versão adaptada foi publicada como um Minipaper do Technical Leadership Council da IBM Brasil [w3], em 27 de dezembro de 2006.
- Como referência, este é um assunto muito denso e me deram aproximadamente 500 palavras de espaço, então tive que simplificar algumas coisas e/ou não entrar em áreas interessantes como os desobramentos sociais de OSS.
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O primeiro a propor a idéia de Open Source Software (OSS) foi Richard Stallman na década de 1970, que a formalizou, com a ajuda de alguns advogados, na famosa licença GPL.
Ninguém se interessou ou sequer ouviu falar sobre isso, até que em meados da década de 1990, tudo mudou com a vertiginosa popularização do Linux, sistema operacional OSS.
O termo popular “Software Livre” não é a melhor tradução de Open Source Software, cujo correto é Software de Código Fonte Aberto. É importante notar isso porque muitas vezes o termo é erradamente associado a idéia de não-proprietário, ou não-comercial. A verdade é que um software pode ter seu código fonte aberto mas ser comercial e/ou proprietário e vice-versa, portanto são conceitos que não devem ser confundidos.
A idéia é simples: eu escrevo um programa e você pode copiá-lo à vontade sem nem sequer me notificar. Pode inclusive modificá-lo e redistribuí-lo, contanto que também mantenha suas modificações abertas e informe qual a origem e os autores anteriores do software.
Isso não quer dizer que teremos diversas versões desconexas do mesmo software, num dado momento. Cada modificação passa por um processo muito bem organizado de aceitação ou rejeite, onde boas melhorias retornam à base e são incorporadas à nova versão do software. Na verdade, hoje, a maioria dessas contribuições não é mais feita por indivíduos, mas por empresas de tecnologia.
É comum — e errado — pensar que OSS significa a morte de todo software de código fechado. Isso não acontece porque a tendência é que as grandes inovações continuem a ser exploradas pelo modelo fechado. Imagine um mundo hipotético que ainda não conhece editores de planilhas. É natural que, ao lançar esse produto, seu inventor opte pelo modelo de código fonte fechado, para maximizar seus lucros através do total controle de sua invenção. Contudo, conforme essa invenção se populariza, desenvolve um mercado e adquire concorrentes, OSS surge como uma das formas — a mais inovadora — para repensá-la. OSS inova ao reimplementar o que outros inventaram e exploraram anteriormente. Recentemente, porém, a indústria começou a usar OSS diretamente para lançar certas inovações, justamente pelo seu poder de agregar comunidades e criar ecossistemas.
Também é comum — e errado — acreditar que se o software em si é gratuito, elimina-se por completo os gastos. Mas sempre haverá a necessidade de um suporte confiável. OSS altera o eixo do valor agregado do software, movendo-o do software em si (que não custa nada), para o serviço de suporte.
Em seu processo de amadurecimento, a única diferença prática entre um software OSS e outro de código fonte fechado é a ordem em que as coisas acontecem. Um fabricante comercial terá que criar estrutura e suporte regional antes de vender o produto. Já no OSS, ofertas de suporte só surgem (espontaneamente) depois que ele goza de uma boa gama de usuários. Mas seja qual for a ordem, a única coisa que garante maturidade a qualquer software ou produto é um ciclo de desenvolvimento–uso–suporte, que estimula mais desenvolvimento. Somente essa maturidade garante a aceitação do produto em empresas responsáveis. E hoje, OSSs como Linux, Apache, OpenOffice.org, Samba, e outros já gozam desse ecossistema cíclico de uma forma vasta, global e vigorosa.
Hoje, OSS tem aplicações mais maduras em infraestrutura e alguns nichos de middleware. Por sua vez, os softwares de código fonte fechado apresentam maior desenvoltura mercadológica nas funcionalidades de maior valor agregado ao negócio (ERPs, CRMs ou processos empresariais). Isso porque estas funcionalidades têm uma amplitude menor de usuários, o que inviabiliza o surgimento de suporte espontâneo — fator vital para a maturidade do OSS.
A indústria tem buscado um balanço saudável para misturar componentes fechados com OSS, a fim de maximizar o seu benefício sem abrir mão da maturidade de ponta a ponta. Prova disso é que tem sido cada vez mais comum a implantação de ERPs maduros — geralmente de código fechado — sobre plataformas abertas maduras — como distribuições Linux com suporte.
A receita para o melhor balanço é insistir no uso de Padrões Abertos. Por garantirem uma interoperabilidade fácil entre camadas abertas e de código fechado, o uso de padrões amplia as escolhas e a liberdade da empresa que compra TI para compor a melhor mistura do momento, com opções OSS e/ou de código fechado.
Avi, por completude na verdade o Richar Stallman *nunca* advogou o termo open source, mas sim o termo “free software” (no sentido de código livre). OSS é um termo advogado pelo grupo do Eric Reymond. A diferença é mais pragmática do que teórica, mas não misture ambos o termos pois gera o risco de criar uma guerra.
Um termo comum à ambos seria FOSS (free/open source software), eu gosto de usá-lo para evitar o policiamento desses grupos, como estou fazendo agora contigo.
Rudá, obrigado pelo comentário.
Esse artigo foi escrito p/ uma publicação cujos leitores são em geral leigos, e ele precisava ser sucinto e usar termos que eles já conhecem.
Open Source é um termo mais popular na boca do povo, e em geral OSS e FS remetem às mesmas coisas na cabeça das massas.
Mas não, não quero começar uma guerra.
Eu posso entender “mercadologicamente” mas invarialmente estás vendendo um termo como outro. Enfim, eu desacreditaria na tua palestra, um leigo não. Se me permite fazer mais comentários…
“Na verdade, hoje, a maioria dessas contribuições não é mais feita por indivíduos, mas por empresas de tecnologia.”
Aonde tu achou estatística para isso? Eu acredito que realmente existam mais fundações do que empresas necessariamente ajudando. E que tipo de ajuda queres dizer? Com dinheiro? Gente trabalho em cima? Enfim, afirmações como essa exigem uma referência, se não é achismo.
“OSS inova ao reimplementar o que outros inventaram e exploraram anteriormente.”
Isso definitivamente não é inventar 🙂 Tu partes do pressuposto que não se tem idéias originais no mundo do código aberto, o que não é verdade no meu ver. Exemplo: quem inovou, O Apache (httpd baseado) ou o ISS da Microsoft? Isso pode passar a idéia de que FOSS é só uma cópia de produtos de código fechado… de baixa qualidade, poderão alguns inferir.
De resto, se eu filtrar o teu modelo marketeiro de vender a idéia do texto, concordo com o conteúdo do material.
Rudá, seus comentários são sempre bem vindos. Acho importante trocar idéias.
Sim, faltou fontes de estatística. Não coube no espaço que me deram. Mas fiquei preocupado em transmitir a idéia de que os contribuintes pesados de hoje em dia são mais organizações que indivíduos. Isso é importante para conquistar credibilidade de um incrédulo que diz “não posso confiar em algo que não sei quem desenvolve ou mantém”.
Muitas dessas organizações contribuidoras tem se preocupado em se injetar no modelo FOSS como ele é, e não só impor seus objetivos.
Tem-se idéias inovadoras sim em FOSS, mas vejo elas acontecendo mais na “reinvenção”.
No caso do Apache e IIS que você citou, nenhum dos dois foi uma inovação. Ambos copiaram o NCSA (o primeiro web-server, pelo que me consta). Se você observar os projetos FOSS mais importantes, verá que têm histórias similares: Kernel versus outros Unix, Samba versus CIFS, OpenOffice.org versus MS-Office, KDE e Gnome versus Windows, Firefox versus Mosaic, Amarok versus Windows Media Player e iTunes, Freetype versus True Type, Gimp versus Photoshop, etc. Suas verdadeiras inovações residem na forma como alavancaram a energia da comunidade para desenvolver algo tão complexo, de graça.
Ainda sobre este tema, se você tem uma idéia genial, e se tem capacidade de coloca-la em prática (em termos técnicos e comerciais), parece irracional você não explora-la comercialmente. Por outro lado, se te falta a capacidade de executa-la tecnicamente, ou a capacidade de criar um ecossistema ao redor dela, ai você parte para o modelo FOSS desde o começo.
Obrigado pela gentileza, mas ainda tenho alguns pontos a destacar:
“No caso do Apache e IIS que você citou, nenhum dos dois foi uma inovação. Ambos copiaram o NCSA (o primeiro web-server, pelo que me consta).”
Sim o Apache é derivado do NCSA httpd, mas reforça o que disse, o NCSA por ser código aberto fez surgir o Apache e com o sucesso do software, a Apache Foundation. Mas enfim, é uma questão de opinião.
Aliás, tu lembrou de web browsers, a Internet e suas ferramentas são decorrentes de padrões abertos e software de código aberto (servidodores SMTP como o sendmail, pop, imap e navegadores!). Internet e o alavancamento de software livre está diretamente relacionado. Microsoft chegou tarde nisso, diga-se de passagem, software aberto foi o pioneiro!
Ontém eu vi o termo FLOSS : Free/Libre Open Source Software. É isso.
Teu modelo de pensamento e de expressar é direcionado ao público leigo e tu tens o “papo marketeiro”, creio que isso cumpre um papel. Só aceite a ira dos técnicos (é uma brincadeira).
Rudá, sim a Internet nasceu sobre FOSS. Mas esse é o tipo de coisa que deve começar aberto e livre, do contrário não pega. É o que escrevi no artigo: “Recentemente, porém, a indústria começou a usar OSS diretamente para lançar certas inovações, justamente pelo seu poder de agregar comunidades e criar ecossistemas.”
Diria que a Internet foi a pioneira no uso dessa idéia.
Não se esqueça que inovação é diferente de invenção. Uma invenção sem uma capacidade de injeta-la na sociedade para transforma-la, não vinga e não inova.
É por isso que OSS – como modelo – é uma inovação, mas cada projeto OSS individualmente nem sempre é.