O Mercado de Kashgar

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

The Silence of the Lambs

  • Anwar decidiu ir primeiro ao mercado de animais. Ele estava um pouco de mau humor e tivemos de convencê-lo a não esperar no carro e vir conosco. Depois entendemos porque.
  • A feira funcionava ali há 6 anos, uma área murada do tamanho de um campo de futebol. O chão é uma mistura de cascalho, bosta seca e restos de capim da comida dos animais. Ovelhas de bunda gorda, peludas ou tosadas, jegues, camelos, cavalos, bois, muito pó, homens sujos vestidos com roupas muito similares se confundiam com turistas de roupas coloridas de tecidos de alta performance, câmeras pesadíssimas e cara limpa.
  • Animais amarrados tentavam copular exasperadamente e molhavam o chão.
  • A sonoplastia vinha do mugido das vacas, do berro das ovelhas, dos urros dos jegues. Mas a tudo isso se sobrepunha as discussões acaloradas das negociações dos uyghur, que pareciam que iam sair no tapa, mas terminavam apertando as mãos sorridentes.
  • Na saída, uma ovelha jazia morta com o pescoço cortado e o sangue derramado no chão. Um rapaz muito eficiente fez um buraco em sua perna traseira e soprava para a pele desgrudar. Quando se afastava para tomar fôlego, tinha sangue ao redor da boca. Depois começou a fazer incisões em locais precisos e remover a pele cirurgicamente, tudo diretamente sobre o chão da rua. Essa é a origem da carne e não o bem de consumo que supermercados vendem em embalagens a vácuo. Muitas pessoas parariam de comer carne se vissem essa cena dantesca com mais freqüência.

Negócio da China

  • De lá fomos ao mercadão de fato. Imagine o Mercado Municipal de São Paulo, mais a rua José Paulino com suas lojas de tecidos, as lojas de roupas feias do Brás, algumas partes da Sta Efigênia e seus componentes eletrônicos, mais dezenas de camelôs de sapatos de todos os tipos inclusive usados, mais vendas de vestidos de festa, ternos, sedas, cashmere, artesanato, especiarias, higiene pessoal, louça, lataria, frutas e legumes. Esse é o mercado de Kashgar.
  • Não há compra sem pechincha porque o preço é feito de acordo com a cara do freguês. Nunca está escrito sobre o produto e o preço final pode ser menos de 50% do primeiro preço. Esses caras inventaram a lei da oferta e da procura.
  • Em certos lugares havia tanta gente, e-bikes, motos e carga passando que tínhamos que nos segurar para não nos perdermos um do outro. Mesmo assim não fazíamos a menor ideia de onde estávamos e foi um barato.
  • Umas 14h encontramos o Anwar no lugar combinado e ele nos ajudou a comprar chá de especiarias. Mas o homem moeu demais e virou um pó que deixou a Tati chateada. Moer assim é coisa de quem faz temperos e não chá. De qualquer forma, o saco fechado deixava um perfumado aroma de cardamomo e cravo no quarto do hotel.
  • Do mercado fomos almoçar perto do hotel. Anwar pediu a comida mas esperou na rua. Estava em jejum.
  • Depois fomos ao hotel, dormimos até umas 17h e fomos bater perna na avenida de lojas chinesas, a principal da cidade.

Han chinese

  • Numa livraria compramos todos os exemplares do Mister O e Mister I, quadrinhos simpáticos sem palavras.
  • Entramos em shoppings, galerias, vimos restaurantes han-chineses autênticos, compramos roupa sem falar 1 palavra de Chines. Uma calculadora pode ser um ótimo mecanismo de comunicação. Finalmente conhecemos a China chinesa.
  • Na saída de uma grande galeria, já escuro, casais dançavam como em dança de salão ao ar livre. Não entendemos se era uma aula ou se estavam se divertindo. De qualquer forma entramos e gastamos os passos que tínhamos aprendido nas aulas no Brasil.
  • Um senhor escrevia no chão aquela caligrafia bonita com agua e um pincelzão molhado. As frases saiam na vertical. Outro homem andou nervoso sobre a caligrafia, gritando com o escritor a ponto de espanta-lo para outro lugar na praça, sem dizer uma palavra. E continuou a escrever.
  • Voltamos ao hotel para encontrar Anwar que atrasou meia hora. Ele apareceu com sua e-bike e nos deixou dar uma volta. Eu quero uma e-bike: completamente silenciosa, forte o suficiente mas com pouco torque, confortável e fácil de usar. A bateria tem autonomia de uns 100km e passa a noite recarregando numa tomada simples. Custa uns 3000 yuan e todos tem uma porque o governo proibiu o uso de motocicletas de combustão no centro das cidades por serem perigosas e barulhentas. Seria uma ótima solução para cidades como São Paulo, se tivéssemos mais faixas para bicicletas.
  • Nos levou a um restaurante muito elegante que um holandês no hotel disse que parecia caro mas é barato. Anwar pediu uma sopa de carne com legumes para a Tati e um arroz branco com legumes para mim, além de um preparado quente de berinjelinhas com molho de tomate bem apimentado. Estava tudo ótimo.
  • Aquilo era considerado um restaurante fast food apesar de não parecer. Na verdade todos que fomos eram assim, e a comida de fato chegava rapidamente. Restaurantes normais servem banquetes para varias pessoas, e a conta sairia uns 200 yuan. Mas nestes não chegava a 70 yuan.
  • Conversamos sobre coisas leves, línguas, a sociedade Uyghur, vícios, vida noturna, e um imaginário “Uyghuristan”. Anwar disse que uyghur são muito ciumentos e tem dificuldade de trabalhar em equipe pois brigam entre si, mas ao mesmo tempo todos churingas tem talentos. Estávamos todos felizes e foi agradável.

Internet subversiva

  • Precisávamos descarregar a câmera e havia uma enorme LAN house ao lado. Na bagunça da fila para se registrar, Anwar disse que esta era “muito chinesa” e havia outra perto dali mais uyghur, com cabines privativas e menos fumantes. Por causa do excesso de fumaça acabamos seguindo ele.
  • Por 2 yuan por hora recebemos ótimos computadores com Internet muito rápida. Era um lugar com muitos salões grandes e poltronas confortáveis. Deviam haver mais de 100 máquinas ali.
  • Ao plugar o iPod para receber os arquivos, dava tela azul sempre. Tive que usar o PC do administrador no quarto de dormir dele, onde havia espaço exato só para mais a cama.
  • Estava tudo em chinês e operamos os PCs baseado na lembrança da posição dos ícones e opções dos menus. Se fosse Linux, como isso muda em cada distribuição, provavelmente estaríamos completamente perdidos e não iríamos conseguir usar nada.
  • Não havia nenhum software de VoIP e nem tentei instalar porque percebi que o PC era todo protegido e de uso restrito. Não havia MSN Messenger instalado e no lugar usavam um tal de QQ. Depois reparei que isso era comum em outros lugares. Vi muitos ícones do KDE no desktop. Selecionei o do Konqueror mas abriu um programa que não conhecia.
  • Acessar a Internet tem uma burocracia considerável na China. Todo mundo tem que apresentar documento, ser registrado e se fizer algo subversivo tem que prestar contas para a rapaziada do Mao. Após apresentar os passaportes, nos deram um usuário e senha. A máquina deslogava após 1 hora de uso.
  • Pessoas iam lá principalmente para jogar, para surfar um pouco na Internet ou para assistir filmes e seriados. Isso mesmo: uma pagina interna indexava filmes e episódios de seriados já baixados disponíveis em seus servidores. Um clique no browser abria o player e a sessão começava. Só descobri isso porque foi o que Anwar fez (e me mostrou) enquanto usávamos o ciberespaço. Ele na verdade só vinha para LAN houses para isso. Nem e-mail tinha e acabei criando um GMail para ele.
  • Chegamos no hotel 1h da manha, tomamos banho e chapamos imediatamente.

Kashgar, China

Estamos desde sexta a noite em Kashgar, uma China das Arabias. A unica coisa que lembra China aqui eh que algumas lojas tem letreiros em chines, todo o resto eh arabe, inclusive a fisionomia da maioria das pessoas que eh de um povo chamado Uyghur.

Deveria existir um Uyghuristan, mas a China nao deixou e mantem essa gente meio socialmente oprimida.

Hoje fomos ao mercado de domingo, que eh uma mistura de Mercado Municipal, Festa do Peao de Barretos, R. Santa Efigenia, e a feira do bairro, tudo somado e multiplicado por 12.

As coisas sao bem baratas, inclusive eletronicos e comida que continua apimentando nossas entranhas. Estou tentando balancear as coisas com sorvete e cha verde. Vegetarianos sofrem aqui. Ou tem carne ou eh cozido com carne, nao tem muito jeito. Esta eh uma China muculmana/iraniana/persa, nao budista.

De qualquer forma, soh agora comecou a me cair a ficha do barato de viajar por lugares completamente diferentes do nosso mundo. Gosto daquele ditado: soh podemos saber realmente quem somos se conhecermos pessoas completamente diferente de nos. Esse deveria ser o ditado da diversidade porque soh experimentando mundos novos anulamos vicios e habitos do mundo em que vivemos, e o que sobra eh a essencia de nos mesmos. O delta.

OK, viajei na viagem…

Amanha vamos para o lago Karakol com a promessa de paisagens de tirar o folego. Ai temos mais 4 dias de Moscow.

Nasdravia, Namaste, Xush Kilibsiz, Hair Hosh e bye bye

Kashgar: Uma China das Arábias

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

  • O café era servido das 7:30 às 8:30, horário nada amigável para turistas. Chegamos mais de 8h, muitas coisas já haviam acabado e não tinham o costume de repor. Nada de frutas, nem queijo, nem suco, nem água. Só alguns tipos de pães fritos ou no vapor, dumplings recheados de verduras, ovos fritos, umas verduras cozidas, chá e cafe. Nos safamos com uma geleiazinha escondida atrás do repolho refogado com pimentão.
  • Às 9h encontramos com o Anwar e fomos à parte histórica da cidade, que tinha muito em comum com as cidades antigas que vimos em Tashkent, Khiva e Bukhara.
  • Fomos primeiro na mesquita Id Kha, a maior e mais antiga da China. Foi construída com o dinheiro de uma milionária que estava indo em peregrinação para Meca, não pode seguir em frente porque havia problemas na Índia e acabou presuntando por aqui mesmo. Daí pegaram a grana da véia e construíram a bela mesquita. O mais bonito mesmo era o jardim de rosas e árvores (poplars) interno à mesquita. Dentro, a estrutura conhecida de gesso colorido, pilares decorados e uma curiosa influência chinesa na decoração dos tetos, com flores e brilho de naca.

Esconda Seu Rosto, Mulher !

  • Saímos da mesquita para ver a rua dos artesãos, próxima. Andamos pelas ruas cheias de lojas de artesanato e outras coisas lá perto. Uma loja de instrumentos vendia dutors de vários tamanhos e também violinos, contra-baixos, e outros instrumentos feitos ao estilo dessa região. A Tati comprou um de brinquedo para o Leozinho.
  • Vimos um ourives trabalhando o ouro, um carpinteiro rapidamente transformando tocos de madeira crua em peças acabadas para moveis, com ajuda do torno elétrico.
  • Haviam também muitas mulheres com o rosto completamente coberto por véus grossos e 2 meia-calça sobrepostas. Anwar disse que isso servia para que mulheres casadas não sejam olhadas e cobiçadas nas ruas. Ele achava isso correto. Argumentei que isso era problema de quem olhava e não da mulher, mas disse que isso é uma superstição que respeitam.
  • Chegamos numa esquina onde dezenas de pessoas se amontoavam em pequenos círculos. Estavam comprando e vendendo celulares usados em frente a uma galeria de lojas e oficinas focadas em celulares. É o mercado de pulgas de celulares. Olhei alguns preços mas fomos embora.
  • Almoçamos cedo e sem fome em um restaurante popular onde se divide a mesa com outras pessoas. Anwar decidiu horário, local e o que iriamos comer sem fazer demais pesquisas de mercado. Nem esquentamos. Pediu uma sopa de macarrão com carne para a Tati, lamen vegetariano para mim e dumplins (pão cozido no vapor) supostamente vegê de abobora, mas tinham pedacinhos de carne dentro e muito gosto de gordura animal. Anwar esperou fora porque estava em jejum do Ramadhan e não queria ficar olhando a comida.
  • Fomos ao Banco da China trocar dinheiro. $1=7.43 yuan.

Conflito de Culturas

  • Depois fomos ao túmulo de Apa Hodja, líder local do seculo XVII que foi para o Tibet, descolou um grau de monge e voltou para reinar e cometer um monte de atrocidades. Há divergência na história contada pelos Han-chineses e os uyghur. Segundo os han, lá estaria enterrada a concubina do imperador chinês (the fragrant concubine), então pouco importaria o Apa Hodja. Para os Uyghur, a concubina decidiu espalhar os seus perfumes por outras bandas e jamais foi enterrada lá. Não soubemos direito por que, mas era uma questão importante. Tanto que a placa oficial do local fazia questão de frisar que o governo chinês respeitava a liberdade religiosa e vivia em paz com suas minorias. Falô, então.
  • Usamos uma placa trilíngüe de No Smoking para aprender a caligrafia árabe e chinesa e um pouco da língua uyghur.
  • Anwar queria nos levar para ver artesanato numa fábrica de tapetes mas preferimos tomar sorvete. 6 yuan compraram 2 copos com 3 bolas médias cada de um sorvete nota 6.5. Anwar também não chegou perto devido ao jejum.
  • Começamos às 9h, trocamos mais dinheiro e fomos ao famoso mercado de domingo de Kashgar.

Oração Fria

  • Depois Anwar me levou para rezar numa mesquitinha. Havia lhe pedido essa oportunidade. Levou-me primeiro a um banheiro público em frente. Avisou que seria mal cheiroso mas necessário. Comparados a uma pessoa do século VIII, ele e eu estávamos assepticamente limpos, mas fomos ao ritual da limpeza. Deu-me um jarro d’água e me mandou a um lugar semi-privativo para lavar as parte íntimas. Depois sentamos num banquinho e mandou lavar os pés. Perguntei se era necessário, porque estávamos atrasados e meus pés estavam limpos. Comandou que sim e obedeci. Lavei também o rosto e ouvi algumas pessoas limparem as vias respiratórias. Um detalhe: o lugar era tão mal cheiroso que só entrar lá já me fazia sentir mais sujo.
  • Atravessamos a rua, entramos na mesquita e pegamos uma espécie de segundo turno da reza daquela hora. Éramos uns 8 homens rezando num espaço para 15 pessoas. Um homem vestido bem simploriamente parecia dirigir. Durou uns 10 minutos. Ao terminar todos saíram como desconhecidos que eram.
  • Voltando ao carro, Anwar perguntou-me porque fiz movimentos diferentes dos demais e expliquei que, para mim, foi um pouco difícil ficar ajoelhado. Não estava acostumado a essa posição como eles, e por isso me mexi um pouco durante a reza. Ele disse que não era bom que eu fizesse a minha própria reza.
  • Essa foi a segunda vez que pratiquei a reza muçulmana. A primeira foi no deserto da Jordânia, indo para Petra, em um silêncio sem fim, com Ashraf, um muçulmano moderno e de cabeça aberta, sem restrições de horários ou dogmas de limpeza obsoletos ao homem urbano do século XXI, e que foi antecedida por ótimas discussões filosóficas inspiradoras. Se aquela vez foi sincera e simples, esta foi mecânica e rebuscada. Se a outra foi ampla e inspiradora, esta foi escura e cheia de graxa. Se aquela foi emocionante e inesquecível, desta vez foi para preencher o tempo.

Tecnorogia Chinesa, né?

  • Fomos à esquina dos computadores e no subsolo havia uma galeria bem parecida com os Standcenters de São Paulo, mas as divisões entre as lojas não eram claras e todos pareciam vender para todos. Olhei rapidamente algumas lojas e no fim comprei 1 leitor de cartão SD para USB, 1 adaptador bluetooth USB, 1 cartão micro-SD de 2GB para meu Nokia E61i, 1 hub USB 2.0, 1 pen drive de 2GB, 1 adaptador Sony de Memory Stick Duo Pro para Memory Stick normal, 1 HD Hitachi de laptop de 160GB e 1 adaptador USB para o HD, tudo por $156. No Brasil só o HD iria custar uns $250. Foi difícil convencer a vendedora aceitar uma das notas de $20 que estava mais gasta, mas deu tudo certo. Pedi para testarem todos esses storages transferindo um monte de MP3s uyghur e chineses para eles. Intercambio cultural é tão mais fácil nessa nossa era digital.
  • Dispensamos o Anwar e decidimos comprar tranqueiras no supermercado e comer no quarto. Tínhamos poucos yuan, mas compramos frutas e suco para o café da manha, salgadinho, milho em lata, chocolate e sabonete para não ter que usar o do hotel. No caminho a pé para o hotel, uma vendinha fazia nan (pão) no tandoor. Compramos 1 por 1 yuan. Estava quente, fresco e delicioso. Chegaram no hotel praticamente só as migalhas para contar historia.
  • Tomamos banho, assistimos TV com filmes nacionalistas chineses, vimos muitas propagandas incompreensíveis mas muito bem feitas e divertidas e 21:30 estávamos dormindo.

Chegando em Kashgar

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Neve !

  • Acordamos às 5h bem dispostos. No café nos deram um prato com fatias de salsichão frito, fuzili cozido na agua, um ovo cozido e salada de tomate e pepino. Mais manteiga e pão que no dia anterior já estava velho. Esta, adicionada ao fuzili, ficou ótima.
  • Caímos na estrada ainda no escuro e dormimos mais um pouco. A paisagem de planícies nuas envolvidas por montanhas ainda era impressionante.
  • Vez ou outra grupos de animais cruzavam a pista. Cavalos, bois, ovelhas e camelos. Os kyrgyz eram nômades e no último século muitos passaram a ser nômades somente no verão. No inverno voltam das pastagens para suas casas fixas. Fazia frio e os animais corriam provavelmente para se aquecerem.
  • Conforme a altitude aumentava a paisagem mudava de um pouco nevada a completamente branca.
  • A certa altura pegamos outra estrada para visitar Torugard que ficava a mais de 4000m de altitude. Um pouso para caravanas do século X ou XI (a mais antiga de toda viagem) no meio de um cenário completamente branco e gelado. Pitoresco. Brincamos um pouco com a neve e tiramos umas fotos.

Hora do Rush

  • Voltamos para a estrada de terra e dormimos mais um pouco. Estávamos no meio do nada indo para a fronteira com a China. Nada menos que 60km antes da fronteira havia o primeiro posto de inspeção e próximo dele havia uma fila enorme de caminhões-containers voltando para a China.
  • Quanto mais nos aproximávamos da fronteira, mais intenso era o tráfego de caminhões. Os caminhões chineses eram modernos e coloridos de marcas nacionais e os kyrgyz eram cinzentos e velhos, sempre da marca russa Kama3.
  • A estreita estrada de terra, mais a neve, mais o trafego intenso, mais os desfiladeiros, faziam a velocidade media ser baixíssima. Constantemente parávamos e esperávamos fora do carro. 200m antes da fronteira um dos caminhões chineses deslizou e bloqueou a pista. Mas depois de muito trabalho conjunto de outros caminhoneiros, inspirados pelo boneco de neve da Tati, ele conseguiu sair.
  • Chegamos na fronteira umas 13:30 e ficamos sabendo que outro caminhão deslizou no lado chinês. Isso era especialmente ruim porque só atravessaríamos se o nosso novo guia conseguisse chegar da China para nos pegar. Trocaríamos de condução também. Não sabíamos quanto tempo ele iria demorar, não dava para telefonar.
  • A fronteira não passava de uma cancela de ferro mais uma casinha no meio de um grande nada de montanhas nevadas. Alfandega e burocracia ficavam, vários kilometros antes e depois. Era sexta-feira e o posto fecha no final de semana. Se o guia chines não aparecesse teríamos que passar o final de semana arrumando o que fazer no Kyrgyzstan. Nossa última refeição foi às 5:00 da manhã e por sorte a Natalia trouxe um tipo de balas duras de queijo seco, salgado e coalhado, típicas dessa região, que ficamos chupando para enganar o estômago agonizante.

China Ma Non Troppo

  • Antes das 15h nosso guia chegou. Despedimos de Natalia e Sacha (que iriam passar mais algumas horas de mal retorno antes de conseguir almoçar) e trocamos a van por um carro sedan urbano.
  • Anwar era nosso novo guia. Homem simples, simpático e falava um inglês bem razoável. Apresentou-nos ao Mr. Ma, o motorista, dinâmico, veloz, muito comunicativo apesar de ser enorme e não falar uma palavra em inglês. Ambos tinham os olhos muito pouco puxados, eram chineses de nascimento mas de minorias uyghur (Anwar) e hui (Mr. Ma).
  • Viajamos por longos e estreitos 87km de estrada de terra, boa parte com neve e caminhões parados. A neve ia sumindo conforme descíamos, e a paisagem deste lado da cordilheira era completamente diferente. As rochas apresentavam um tipo de erosão escultural e tinham muitas cores. Fomos constantemente beirando um rio que ao longo dos milênios formou um canion cortando as montanhas de geologia moderna. Em épocas de cheia sua largura era de ate uns 100m mas a julgar pelo muri da estrada, não chegava a 2m de altura. Mas nessa época do ano não passava de um córrego que deixou um leito seco e infértil de cascalho.
  • A paisagem humana do lado chines é igual: kyrgyz criadores de ovelhas, cavalos, camelos, moradores de yurts e semi-nômades.
  • A estrada virou um bom asfalto logo antes do posto da alfandega (87km depois da fronteira, mas em uma região menos insólita). No posto tivemos que descarregar, preencher uns formulários, apresentar passaportes. Ônibus e caminhões de mercadores uyghur, kyrgyz ou sabe-se lá o que iam para a China carregadíssimos de tapetes e outras mercadorias. Eles furaram a fila algumas vezes. Havia também um free shop ali que vendia principalmente bebidas e cigarros. Todos os fardados eram etnicamente chineses, apesar daquela região ser dominada por outros povos.
  • Passamos a alfandega, recarregamos o carro e fomos atacados por cambistas. Despistamos todos. Em breve a estrada se transformou em duplicada e os 80km restantes passaram rápido. Fizemos os 170km em pouco mais de 3 horas.

Uma Beleuza de Hotel

  • Nos levaram ao hotel Seman que Anwar tratou de orgulhosamente vender como excelente e de propriedade de um uyghur. A recepção era iluminada com poucas lampadas fluorescentes de padaria, o que tornava tudo meio esverdeado. Mas isso era fichinha perto da decoração com espelhos fumê e temas floridos em alto relevo de gesso colorido coberto de purpurina que dominavam as paredes e teto. Um calafrio subiu pela espinha. O chão do refeitório era lavado tipo 2 vezes por mês e o banheiro era tão mal cheiroso quanto um banheiro público.
  • Sobre o quarto, motéis de beira de estrada eram mais bem decorados para nossos padrões ocidentais. Encheram as paredes com os tais gessos coloridos pintados de dourado em algumas partes. Tivemos que mudar de quarto porque o primeiro estava completamente empregnado de cigarro. A banheira era desnivelada, o chuveiro molha todo o banheiro, não davam tapete para o chão, o sabonete era muito mal cheiroso, forneciam só ½ rolo de papel higiênico por vez, os azulejos eram mal remendados e uma placa de plastico mal pendurada sob a pia escondia o encanamento. Não dava para juntar as camas, os móveis eram velhos e riscados, não havia onde colocar e abrir as malas, não há onde pendurar toalhas usadas e as cortinas eram das mais vagabundas. Ainda por cima o quarto era no 3° andar e não havia elevador. Só não dava para dizer “não é 3 estrelas nem aqui nem na China” porque estávamos na China.

Povo Uyghur 360°

  • A hospitalidade de Anwar se sobrepôs a sua sensibilidade para entender que estávamos há 2 dias viajando assados e sem banho e nos convocou para jantar em 10 minutos.
  • Ele nos levou a um restaurante de comida uyghur atravessando a rua. Era tudo que nossos intestinos sofridos não precisavam naquele momento. O hotel me deixou nervoso e descontei boa parte no doce Anwar que não tinha nada a ver com isso.
  • O restaurante tinha a mesma decoração do hotel com o acréscimo de muita fumaça no ar. Mas a comida estava ótima. Ele pediu um ótimo lámen vegetariano leve e sem pimentão para mim e um mais caprichado para a Tati. E mais vagens com pimenta e gergelim, uma salada de cenoura, pimentão e pepino bem apimentada e outra que tinha base similar mas com menos pimenta e mais cominho, e também um prato de pepino fatiado que refrescava os outros ardidos. Veio também uma verdura que parecia um hibrido de acelga e cebolinha cozida com algum cogumelo que parece alga, e estava bem ardido. Destaque para o chá, de aromas bem mais complexos que o insosso verde dos dias anteriores, com cardamomo, cravo, açafrão, jasmim e outra especiarias.
  • Estimulado por nossa curiosidade, Anwar contava orgulhosamente sobre a região, a sociedade uyghur e como era sutilmente oprimida pela maioria chinesa do pais. Os uyghur são muçulmanos e etnicamente parecidos com os uzbekes e persas. Sua língua é também similar, e usam o alfabeto arábico. Contando, temos as línguas uzbek, kyrgyz e uyghur todas muito similares e derivadas do turco, mas usam o alfabeto latino, cirílico e árabe respectivamente. Uma salada etimológica.
  • O doce Anwar era um resultado confuso de antigas tradições, regras para um mecanismo social que deixou de existir e costumes vencidos. Um abismo de gerações isolado em sua cultura parou de perguntar o porquê de tudo aquilo e ao longo dos seculos a ação desprovida de pensamento transformou tudo em leis sagradas inquestionáveis. Essas mesmas características são encontradas em qualquer sociedade religiosa fechada e secular, como a judaica e outras.
  • A discriminação faz os uyghur se voltarem e valorizarem mais ainda suas tradições. Era o islã menos aberto de toda a viagem. Anwar contou que teve um casamento arranjado pela família, que tinha antes uma namorada que gostava muito e demorou para responder se gostava da atual esposa. Mesmo assim contou com orgulho como os índices de divórcio eram mais baixos entre os uyghur. Com altivez ingenua disse que deserdaria o filho se ele se casasse com uma chinesa, kyrgyz ou americana. Seu ponto era que tinha que ser muçulmana. Mais ou menos, porque kyrgyz e khazaks (de traços mongois) também são muçulmanos mas foram rejeitados de sua lista de namoradas ao filho, que continha uzbekes, tajikes e outros grupos persas.
  • Uma pessoa menos religiosa, talvez menos vitima da sociedade ou de uma sociedade mais aberta, e que tem parâmetros de outras culturas acaba fazendo simples perguntas que deixam pessoas como Anwar sem resposta e talvez sem chão.
  • Depois do jantar finalmente tomamos um longo banho e fomos dormir assistindo TV sem entender nada, mas achando um barato. Estava passando o filme Alexandre O Grande, bem conveniente para nossa viagem.

Rumo a Kashgar via Naryn

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Almoço no Yurt

  • Após uma ótima noite de sono, acordamos dispostos, tomamos café junto com um grupo de Singapura. Esperamos a Natalia e caímos na estrada.
  • Dormimos um bom pedaço da estrada até chegarmos em Koshkor, uma pequena vila onde iríamos almoçar.
  • Chegamos a uma guest house onde haviam vários turistas assistindo uma viva mulher fazendo artesanato com lã.
  • No quintal da casa haviam vários yurts para turistas. Antes visitamos a loja de artesanato onde haviam vários artigos de lã e feltro, provamos vários chapéus típicos, tentei tocar os instrumentos de corda e a Tati acabou levando um camelo de lã para o Thomas.
  • Entramos os quatro para almoçar no yurt. Haviam várias geleias na mesa e o melhor pão da viagem até agora. Provamos também umas frituras com gosto de nada que vimos vendendo por kilo nos bazares.
  • Uma senhora trouxe uma chaleira antiga chamada samovar que mantinha a agua para o chá quente, transferia para uma chaleira menor e de lá servia para cada um.
  • A entrada foi uma salada de cenoura com massa de arroz em formato de tagliarini, temperada com balsâmico e algo mais. Depois veio uma sopa de batata, cenoura e outros legumes com um pouco de carne, temperada com bastante dil. E o prato principal eram legumes cozidos com carne, mas até ele chegar nos empanturramos com tanto pão que só deu pra provar.
  • Ficamos conversando com a Natalia sobre a vida dos jovens, línguas, telecomunicações, e varias outras coisas.
  • Saímos para caminhar na pequena vila, ver os mercadores e tirar umas fotos de pessoas. E caímos na estrada novamente.

Planícies Nuas, Montanhas Bicudas

  • Sempre viajávamos por planícies muito amplas e nuas cercadas por montanhas pontudas por todos os lados. Havia neve no pico de muitas delas. A terra é bastante pobre e rochosa. Pouquíssima gente vivia ali, a agricultura já tinha sido colhida para a chegada do inverno. Agora, só havia feno para colher. A Natalia falou que o povo kyrgyz era tão nômade que tiveram que criar associações locais para ensiná-los técnicas de cultivo e de construção de casas.
  • Víamos muitos grupos de carneiros, cavalos e gado pastando ou sendo levados pelos pastores. É que no começo do outono, com a chegada do frio, eles descem a montanha com seus rebanhos e vêm para lugares mais quentes. Por isso, também vimos na estrada yurts desmontados sendo transportados em caminhões.
  • Diferente de nossas paisagens, os rios evoluíam nus, sem nenhuma vegetação escondendo sua passagem cristalina. Planícies vastas, montanhas ao longe e rios a céu aberto conferiam um tom de paraíso a toda a cena.
  • No fim da tarde chegamos em Naryn, uma cidade um pouco maior que a vila do almoço. Entramos numa guest house chamada Celestial Mountains e iriamos dormir num yurt mas nos deram o quarto da TV onde transformaram 2 sofás em camas, tinha bastante espaço, TV, DVD e vários filmes. Mas a empolgação durou pouco ao vermos que todos os filmes eram piratas e falados em russo. Os chuveiros, privadas e pias eram comunitários mas limpinhos. E haviam muitos outros turistas ali, principalmente holandeses.
  • Umas 18h metemos uns jaquetões pela primeira vez na viagem e fomos caminhar com Natalia pelas ruas de Naryn. Vimos escolas, crianças, prédios de aparamentos em condições ruins, praças, monumentos, casas de chá e vendas. Numa delas comprei um bom picolé por 10 som, menos de 1/3 de dólar. Tive que esquentá-lo no bolso por um tempo antes de abrir porque estava muito duro.
  • Voltamos umas 19h para o alojamento, bem na hora do jantar, e ouvimos outras pessoas já sentadas à mesa. Deram-me uma salada de pepino e tomate no lugar de uma maionese com carne, depois sopa vegetariana no lugar da sopa com carne, e arroz branco simples e puro no lugar do arroz com frango para os outros.
  • A luz piscou, acabou e voltou diversas vezes durante o jantar até que trouxeram velas. E todos se divertiram com isso.
  • Marcamos tomar café às 5:30 no outro dia, e depois do jantar já fomos direto para o quarto para não sair mais.

Limpeza Mental no Kyrgyzstan

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Tudo (de) Novo

  • Pousamos umas 3 da manhã com um pouco de dor de cabeça pelo barulho das turbinas do avião russo.
  • O aeroporto de Bishkek (FRU) consegue ser mais organizado e prestativo no meio da madrugada do que o de Tashkent no meio do dia. O visto saiu rapidinho, havia fila organizada para os passaportes, vários agentes atendendo e as malas vieram rapidamente. As instalações pareciam melhores também.
  • Encontramos Natalia, nossa guia para os próximos dias, no meio de uma multidão de taxistas e carregadores oferecendo serviços. Pequena, clara, de nariz arrebitado e cabelo muito curto. Tanto que quase parecia um rapaz afeminado. Falava inglês bem e com pouquíssimo sotaque.
  • Viajamos os 40km até Bishkek em rodovia duplicada e bem sinalizada. A primeira impressão era de um Kyrgyz que se esforça mais que o Uzbek para andar para frente. Bishkek de madrugada parecia uma cidade europeia com avenidas largas e arborizadas.
  • O hotel era uma casa grande estilo montanhês, decorado com muita madeira crua, belos quadros, rochas, ambiente familiar e é a sede do International Trekking Center do Kyrgyzstan. Todos eram russos, não pediram passaporte para o check in e a burocracia foi quase zero. Marcamos para 10:30 e fomos dormir um pouco.

Nas Alturas

  • Acordamos antes do despertador. Depois do banho descemos para o café bem adiantados. Cereais bons, ovos cozidos e recheados com ervas, pães meio velhos, saladas de beterraba, de couve flor, pepino, tomate etc e música francesa meio brega. Chanson française mesmo.
  • Catamos a Natalia no escritório da Asia Mountains no porão do hotel e caímos na estrada antes da hora marcada.
  • A cidade de dia era bem movimentada e tinha trânsito. A variedade de carros era bem maior que a dupla Daewoo-Lada do Uzbekistan porque traziam carros importados do Japão. Isso também garantia carros com direção no lado direito que estavam sendo proibidos recentemente.
  • Todo nosso orgulho de termos começado mais cedo o dia foi por água abaixo quando descobrimos que o fuso horário havia mudado. Então o que achamos ser 10:15 da manha era na verdade 11:15.
  • Na saída da cidade passamos por um bairro de casas grandes e aparentemente caras. A paisagem estava ficando mais campestre e começamos a avistar uma cordilheira altíssima lá longe. Em certas partes havia córregos de águas cristalinas acompanhando a estrada que já era só subida.
  • Já penetrando numa cordilheira entramos num parque-reserva com seguranças na porteira. Estacionamos perto de um grande chalé que era um hotel e fomos caminhando.
  • Céu azul se misturava com nuvens esparsas que se moviam rapidamente. Estávamos na abertura de uma garganta cercada por montanhas altíssimas de rochas pontudas que alcançavam 4000m: Ala Archa. Em algumas delas via-se neve. Para nós brasileiros era uma paisagem completamente nova e de tirara o fôlego.
  • O começo da trilha era asfaltado beirando um rio de uns 4m de largura, de águas rápidas e cor opalina que abriam seu caminho entre as rochas. O branco da água ficava marcado nas pedras com a decantação de minerais. Esse rio era um dos que abasteciam a cidade e haviam pessoas fazendo picnics em alguns pontos.
  • O asfalto logo terminou e foi substituído por trilhas de terra cercadas de pinheiros de natal e outros arbustos. E também por grandes trechos de rochas que deslizaram montanha abaixo como se fossem rios. Em alguns pontos dessas formações pudemos ouvir agua passando por baixo das pedras.
  • Era só subida e a paisagem foi ficando mais ampla. A pura visão de um paraíso perdido. As montanhas não eram muito verdejantes. Quanto mais alto menos arbustos tinham, até rocha nua se mesclar com neve. Depois de mais de uma semana de pó e construções religiosas medievais, ver tanta natureza era um alivio para nossas mentes e pulmões.
  • De repente uma surpresa: começou a nevar! Até Natascha ficou surpresa por ainda ser muito cedo no ano para isso. Mas durou pouco e foi substituída por chuva que também passou rápida.
  • Continuamos subindo garganta a dentro conversando com Natalia desde politica e sociedade até música e sotaques. Ela era séria, de pouca prosa, mas uma boa moça.
  • Já mais de 14h, paramos para almoçar os sanduíches, pepinos e maçãs que Natascha trouxe. A paisagem era tão vasta que ofuscou a avançada idade do pão e a questionável qualidade do queijo. À frente da trilha avistamos a cachoeira mirrada que comia a rocha verticalmente.
  • Era tempo de começarmos a voltar. Essa história de que para descer todo santo ajuda não é bem verdade. Vários trechos escorregadios exigiam muito mais concentração. Se subimos cantarolando e conversando, a descida foi em silêncio, focada nos passos e no chão. Mas depois de certa altura voltou a ficar fácil e chegamos em baixo bem.
  • Entramos na van com e mente limpa e descarregada, graças a paisagem e o foco na descida, e por isso apagamos quase imediatamente, até chegarmos no hotel. Subimos ao quarto e ficamos lá ate nos chamarem duas vezes para jantar umas 19h.
  • O jantar foi enervante. Salada de repolho, pepino, pimentão, um pouco de tomate e muito óleo para entrada. As pessoas não aprendem que pepino não combina com repolho e que pimentão só serve ao consumo humano sem a pele que é celulose pura e indigesta. Mas isso não foi o pior. O prato principal continha uma versão quente da mesma salada, inclusive o pepino, mais um purê insosso de batata. Supernutritivo. A Tati recebeu um sobrecoxa frita requentada. Que imaginação essa gente tem para culinária! A sobremesa eram uns crepes já frios com mel, que estavam bons graças ao mel.

Centro de Bishkek

  • Um chá de jasmim depois, resolvemos ir conhecer a cidade. Elnura, a recepcionista simpática e sorridente, nos explicou como ir e voltar ao centro de taxi, com nomes de ruas e direções por escrito. Trocamos também $15 com ela, por 37.34 som por cada dólar.
  • Ela chamou um taxi que nos levou ao centro. Para pagar, assim que chegamos perguntei quanto custou a corrida com um gesto. Não entendi nada do que ele disse mas lembrei que Elnura informou que custaria 75 som. O radio do carro sintonizava 107.4 MHz e apontei para o 7.4 que lembra 75. Ele entendeu, concordou, pagamos e pulamos fora. Quem não se comunica se estrumbica.
  • No centro havia grandes edifícios públicos, praças e muita gente batendo perna ou de bobeira. Havia karaokês, bares e buracos vendendo sanduíches de churrasco grego que chamavam de Гамбургер (Gamburger).
  • Caminhamos sem destino e devagar, testando nosso conhecimento do alfabeto cirílico. Passamos por floriculturas, lanchonetes, casas de câmbio. O trânsito era caótico e dirigiam como loucos.
  • Uma hora depois pegamos um taxi que nos levou ao hotel com a ajuda das anotações da Elnura por 70 som e fomos dormir.

De Samarqand ao Kyrgyzstan

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Dia Extra em Tashkent

  • Levantamos umas 7:30 e procedemos ao café. A única coisa diferente que provamos foi o iogurte que não parecia ser industrializado. Era bom e bem gordo, quase uma manteiga. Nunca provei algo assim.
  • Fizemos check out e nos despedimos de Umid que fechava seu turno de 12 horas. Encontramos Nina recepcionando um grupo de turistas e observei que estava com a mesma roupa elegante mais um blazer típico por cima.
  • Encontramos Sacha às 9h e caímos na estrada ouvindo música russa. Era a primeira rodovia duplicada que vimos, apesar de alguns trechos serem bem ruins, outros novos mas sem nenhuma sinalização no chão etc.
  • Iríamos direto tomar o vôo para Bishkek às 17h, mas ligaram para Sacha avisando que foi adiado para 2:30 da manhã! Ele nos levou então ao já conhecido e confortável Uzbekistan Hotel.
  • Não paramos para almoçar na estrada. Só Sacha comprou uns peixões do rio Syr Darya que pescavam clandestinamente e vendiam em pontos de ônibus na estrada.

Pindura

  • Chegamos quase 14h no hotel, mortos de fome. Depois de formalidades no banheiro, decidimos ir a um italiano chamado Bistro que no guia dizia ser bom e caro.
  • A caminhada até lá foi relativamente longa. Sentamos fora e era bem agradável. A garçonete disse que os pratos eram grandes, mas não foi o que achamos. Dividimos uma salada de alface, (sim, isso existe aqui!) tomate, cebola e atum em molho balsâmico e depois um ravioli bem recheado de espinafre com molho napolitano. Estava tudo fresco e muito bom. A Tati tomou um chá gelado com um monte de frutas e eu um suco de maçã com cenoura, muito refrescante. Para a sobremesa Tati foi de crepe de chocolate com sorvete de amora e eu de torta quente de maçã com laranja e geléia de framboesa. Foi a conta mais cara: 30700 sum ou $25. Não tínhamos sum suficientes, não aceitavam cartão de crédito, nem notas de $1, $5. Só de $10 e $20, coisa que não tínhamos. Para as de $50 e $100 dariam troco em sum, coisa que não nos servia para o último dia no país.
  • Então eu fiquei de garantia e a Tati saiu para trocar dólares. Voltou uns 45 min depois e só conseguiu trocar no nosso hotel mesmo. Nenhum banco. Nesse ínterim já estava começando a fazer amizade com as garçonetes.
  • Voltamos ao hotel a pé pelas largas e arborizadas ruas da cidade. A idéia era ir na ópera mas não sabíamos o horário e programação e precisávamos tratar de uma passagem com o Brasil pela Internet. Ficamos a ver e-mails e falar no telefone até umas 18:30 e quando descobrimos que a apresentação era às 18h, desistimos e fomos descansar no quarto até umas 23h.
  • Descemos uma 23:45 e checamos os últimos e-mails pelo celular no ponto WiFi público do saguão, provavelmente o único do país.

O Topolev Russo

  • Sacha nos levou ao aeroporto e nos despedimos porque não deixaram ele entrar. Era burocrático e precisávamos passar por um tipo de inspeção financeira na alfândega além do check in. Coisa de economia frágil.
  • Algumas carimbadas e raios-x depois, estávamos no portão de embarque. O avião era uma lata velha russa modelo TU-154Б e estava cheia de israelenses que encontramos em todas as cidades pelo caminho. Os acentos eram marcados com Α, Б, В, Г, Д, Е, e não A, B, C, D, E, F que estamos acostumados.

Dia Livre em Samarqand

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Museu à Meia Luz

  • Férias é bom e a gente gosta. Gosta muito. Acordamos meio cedo, tomamos banho, café reforçado e… dormimos até às 11h.
  • Saímos andando até o museu de história que ficava em frente ao Registan Square. Ia começar a ICT Expo 2007 ali no dia seguinte e montavam os stands. IT no Uzbekistan de hoje se reduz a 15 stands de empresas de telefonia celular e nada mais. Havia stands que mostravam em letras grandes “CDMA”, coisa que o Brasil quer se livrar rapidamente, por ser proprietário, e trocar pelo padrão aberto GSM que tem mais fornecedores de equipamentos e por isso os preços são melhores.
  • Por 2500 sum por pessoa ingressamos no museu. Englobava história de Samarqand e do Uzbekistan em geral desde a era do bronze até o século XX. Tinha cerâmica, metais, murais, azulejos, esculturas, afrescos, mosaicos, roupas, e referências a povos e costumes. Apesar das hilárias legendas em inglês, o museu estava bem montado e agradável.
  • Estava surpreendentemente vazio, tipo ninguém mesmo, nem mesmo os franceses que encontrávamos o tempo todo.
  • Uma parte do museu estava completamente no escuro. Talvez porque o yurt exposto ali não tenha pago a conta de luz. E havia mulheres tomando conta que dividiam seu tempo entre comer, rezar atrás de umas cortininhas e vender artesanato dentro do museu !

Bozori !

  • Do museu pegamos a rua que dava no Bazar. Estava meio vazio porque segunda o bazar não funciona completamente. Os feirantes faziam marcação homem-homem para oferecer suas nozes, frutas secas, haleua, doces fabricados, belos blocos de cristal de açúcar de uva, marshmellow. Na área de pães vendia-se pães e nada mais. Na de verduras e legumes havia cebolas, pimentões, tomate, pepino, repolho, beterraba, cenoura, coentro, dil, mas nem sinal de folhas verdes como alface ou rúcula.
  • Uma mulher vendia algo amarelo e molhado numa bacia. Olhei intrigado e entendi ela dizer que era figo enquanto já oferecia um para provar. Era de fato um figo bom de um tipo amarelo que nunca tinha visto. Agradecemos e fomos saindo quando fez com os dedos o sinal universal do dinheiro apontando para o figo que tinha dado. Aquilo não parecia correto mas perguntei quanto. Tirou um bloco de dinheiro do bolso e mostrou uma nota de 500 sum. Viramos e fomos embora nervosos. Que mania de querer se aproveitar dos turistas! É o tipo de coisa que estraga o resto do dia, igual ao sorvete do dia anterior.
  • A Tati comeu um somsa bem bom por 300 sum e eu um picolé de mesmo valor, que no dia anterior nos cobraram 1500 sum !
  • Passamos pela parte de packaged consumer goods da feira e entramos em lojas que vendiam tecidos sintéticos de baixa qualidade.
  • Voltamos ao Registan Square pelo mesmo caminho e paramos numa casa de chá em frente para um chá verde por 300 sum.
  • As mulheres na rua freqüentemente vestem a mesma roupa. As vezes é porque os uniformes (hotel, lojas, padarias) parecem, para nossos olhos destreinados, uma roupa como outra qualquer, mas usada por todos igualmente. Mas desconfio (Tati) que eles têm uma quedinha por uniformes ou pelo uniforme, porque várias meninas vestiam-se também de maneira idêntica e todas as crianças da escola são uniformizadas. Até as árvores são uniformizadas: elas usam aquelas meias branquinhas de cal, para afastar os insetos…

Cidade Nova

  • Então decidimos ir para a parte nova da cidade por caminhos alternativos. Entramos por um bairrinho que logo se transformou numa favela a beira de um rio. Miséria é miséria em qualquer canto. Não havia uma alma viva nas ruas.
  • Saímos atrás de uns edifícios que pareciam públicos, e bem perto do nosso hotel. Era a parte soviética (nova) da cidade. Subimos a bela avenida da universidade, entramos por suas arborizadas e amplas travessas. Gente andando nas ruas ou vendo a vida passar, crianças saindo da escola, teatro infantil, confeitarias e atmosfera agradável. Entramos num parque e acabamos saindo numa região comercial com boutiques do interior, pedestres, avenidas movimentadas.

Jantar de Turista

  • Umas 17h nos enchemos e pegamos um taxi que por 1000 sum nos levou ao hotel.
  • Assistimos um pouco de TV, só havia uns 3 canais. Arrumamos as malas e tomamos banho.
  • Na recepção conhecemos o Umid que havia morado 3 anos em Portugal e falava um ótimo purtuguéish. Ele nos ajudou com detalhes do hotel. Havia também uma loja de roupas e coisas típicas que vendia por $500 a mesma roupa que vimos na loja da amiga da Nina por $100, no dia anterior.
  • Jantamos no hotel mesmo. O refeitório estava cheio de turistas. Por $12 por pessoa (caríssimo para o Uzbekistan), num esquema self-service, tivemos um dos melhores jantares da viagem, com várias opções vegetarianas provavelmente devido a demanda dos turistas europeus. Sopas, saladas, panquecas, arroz, tudo bem temperado.
  • 22:30 estávamos dormindo.

Samarqand com Nina

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Ciência Antiga

  • Como o hotel aqui é muito parecido com o de Bokhoro, achamos que iam ser tão chatos quanto eles quanto ao horário do café. Chegamos às 8:50 e vimos uma bela mesa. Nos servimos rápido de frutas, panquecas com queijo, geleias e chá verde. Para nossa surpresa nos esperaram terminar e não tiraram a mesa.
  • No saguão nos esperavam Sacha e Nina, nossa guia. Era uma ucraniana de meia idade, cabelos pretos, olhos e sorriso grandes. Vestia roupas em estilo persa-moderno e apetrechos que combinavam bastante. Veio ao Uzbekistan fazer uma especialização em história da região, trazendo sua paixão pelo assunto, e acabou ficando por aqui. Esse seu lado intelectual somava elegância e veracidade às roupas, e o resultado final era uma mulher doce, atraente e equilibrada.
  • O primeiro lugar que nos levou foi impressionante. Ulug’bek — neto de Timur — foi um rei do século XV que incentivava as ciências e construiu um observatório de estrelas que fomos visitar. Contribui para o desenvolvimento da astronomia e fez medições bastante precisas de tamanho da Terra, distância a estrelas, e duração do ano. Buscava a fusão da fé e do saber. Sua época ofuscou o fanatismo religioso e transformou Samaqand na capital asiática da ciência. Mas foi infelizmente morto pelo filho ciumento e de tendências fanáticas.

Fanatismo Novo

  • Depois passamos pela necrópole onde havia mais mesquitas e túmulos com influência zoroástrica.
  • Ao longo do dia visitamos diversas mesquitas e madrassas. Samarqand tinha realmente porte de capital a julgar pela suntuosidade de suas construções. Nina explicava com bastante propriedade muitos aspectos históricos, geográficos, arquitetônicos, culturais e tradicionais do povo e a relação com a antiga religião zoroástrica que dominava a região antes do islã chegar. Foi nossa melhor guia até agora.
  • Religião lhe interessava muito e contou como muitos peregrinos seguiam sua fé até Samarqand, como uma pequena viagem ao invés de irem a Meca, e beijavam e adoravam elementos sem saber o que significavam ou que não tinham nada a ver com sua religião, como o observatório astronômico de Ulug’bek.
  • Havia falado que gostei de suas roupas então nos levou ao atelier de sua designer favorita. Tati acabou levando uma bela saia toda bordada.
  • Fomos almoçar num bom restaurante na cidade nova. Comemos saladas e conversamos sobre tudo. Queríamos tirar o máximo da cultura e experiências de Nina.
  • Fomos caminhando pela belíssima e arborizada avenida da universidade em direção ao Gur Emir. Vimos os túmulos de Emir Timur, Ulug’bek e outro heróis nacionais. Alguns peregrinos irracionalmente adoravam também aquilo, contou Nina.
  • Na saída, depois de usar o banheiro, pedi a Nina que perguntasse porque cobravam 200 sum para usá-lo se não cuidavam, não limpavam, não havia água e não repunham papel. A resposta da funcionária foi vaga.

Registan

  • Caminhamos por um bairro antigo de ruas apertadas até o Registan Square, ponto máximo de Samarqand. No caminho compramos picolés de valor altíssimo. Com certeza fomos explorados e isso afetou negativamente o resto do dia.
  • O Registan era composto por 3 construções muito suntuosas e bonitas, erguidas entre os séculos XV e XVII. Uma mesquita, uma escola de música e uma madrassa construída por Ulug’bek com inscrições nada religiosas exaltando o saber.
  • Já eram quase 18h e Nina nos acompanhou até o hotel. No caminho vimos um homem fazendo somsas nas paredes de um tandir (forno).
  • Ela contou mais uma história de Khodja Nasredin, esperou o marido chegar, nos despedimos e foi embora.
  • Subimos ao quarto, não fizemos mais nada e dormimos cedo.

Camelos e Samarqand

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Duas Corcovas Chacoalham Mais do que Uma

  • A claridade da alvorada ia entrando pelos pequenos buracos do yurt, mas isso não incomodava o conforto de dormir lá dentro. No café serviram panquecas finas, um algo delicioso entre geléia e compota de damasco, chá verde e outras coisas.
  • Fechamos as malas, largamos na van e os camelos de duas corcovas já estavam a nossa espera. Tarkan foi guiando os camelos a pé enquanto cantarolava algo. Era um sobe e desce morro sem fim, com paisagem homogênea e bela para todo ângulo que se olhasse.
  • No fim da jornada chacoalhadíssima de ±1h, avistamos o lago Aydarkul e um pouco mais adiante nos encontramos com Sacha e despedimos de Tarkan e seus camelos.
  • Depois de se perder um pouco, Sacha nos levou à beira do lago de águas cristalinas e menos salgadas que o mar. Precisávamos de mais poucos graus de calor para entrar de corpo e alma, mas o ligeiro frio convidou só os pezinhos. Caminhamos pela praia do deserto cuja areia era ainda mais fina e macia que as das praias brasileiras. Havia arbustos completamente cobertos por sal.
  • O mesmo cozinheiro dos yurts armou uma tenda perto da praia para servir um almoço só para nós. Tomate, pepino (mas sem faca para cortá-los), peixe frito, pão e uvas e melancia para sobremesa. Chá verde como sempre.

Civilizátsya a Caminho !

  • Caímos na estrada. Aos poucos iam surgindo montanhas na paisagem ainda desértica. Num trecho viajamos por uma planície paralelos a uma cordilheira que subia abruptamente. Um cenário singular.
  • A estrada era de um asfalto velho ou ruim exigindo muitas vezes desviar dos buracos em baixa velocidade, e não permitia passar dos 80km/h.
  • Paramos numa pequena cidade que Sacha não sabia o nome, compramos picolé muito barato e bom e ficamos olhando os artigos da venda: muito chá, cereais e macarrão a granel, barras de açúcar de uvas que parecia um cristal bem formado da cor da polpa dessa fruta. Compramos sabão em pó para lavar a roupa.
  • A paisagem ia ficando verdejante conforme nos aproximávamos de Samarqand e chegando lá Sacha nos deixou no hotel Afrosiyob lá pelas 16h. Xush kelibsiz !!!
  • Subimos ao quarto, tomamos banho e depois usamos a banheira para lavar a roupa. Ela soltou muito pó que foi pelo ralo. Deixamos secando sobre o ar condicionado e na varanda do quarto. Até a manhã seguinte as roupas estavam secas.

Internet e Jantar no Irã

  • Um pouco antes de escurecer saímos para transferir as fotos para CDs e comer algo. Depois de perguntar e andar bastante, achamos uma LAN house que gravou nossas fotos em 3 CDs. A Tati ficou na Internet enquanto isso, e tudo saiu por 3400 sum, bem melhor que os $5/hora do hotel, só para Internet. No espaço que sobrou no último CD, pedi ao rapaz da LAN house preencher com MP3s de música uzbek tradicional. Intercambio cultural é tão mais fácil nessa nossa era digital. Ganhamos uns 400 MB de algo que deve ser o Chico Buarque do Uzbequistão, segundo sua descrição.
  • O rapaz também sugeriu um restaurante chamado Istiqlol e nos metemos num taxi para chegar lá. Só esqueceu de dizer que não seria fácil para turistas. Nem amigável para vegetarianos. Todas as mesas ficavam em quartos privados fechados por cortinas e separados dos outros quartos por paredes de 2m de altura. Não se via ninguém mas ouvia-se bem suas conversas e seus cigarros impregnaram nossas roupas.
  • Tinham cardápios em farsi e em russo, inúteis para nós. Foi provavelmente o pedido mais demorado, mímico e trabalhoso que o garçom que mal falava inglês tirou. E foi baseado em coisas que conseguimos nos entender com ele, e não tanto no que realmente estávamos a fim de comer. Resumindo: “green and tomato salad”, “vegetarian soup”, “chicken kebab”. Foi divertido. Depois descobrimos que esse era um restaurante iraniano e que não era muito bom.
  • O taxi da volta saiu por 2000 sum e fomos dormir.

Sarmish e Nurata com Svtelana

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Invasão de Loira

  • Acordamos às 7h, começamos com as malas e desta vez descemos cedo para o desjejum. Foi meio difícil arranjar mesa e no fim acabamos dividindo com duas israelenses. As frutas estavam realmente extasiantes.
  • Fechamos as malas, fizemos check out, encontramos com Sacha e caímos na estrada.
  • Horas dormidas depois Sacha parou numa fábrica e museu de cerâmica. Vimos o processo de artesanato da cerâmica desde a trituração do barro com moinho movido a burro até o torno mecânico.
  • Estava cheio de turistas comprando tudo. Eu também comprei um blusão de algodão crú decorado com seda por $30, depois de pechinchar pacas.
  • Mais algum tempo dormido depois, entramos no deserto, mas tinha uma aparência diferente do outro. Este parecia mais arenoso.
  • Em Navoy de repente uma loiraça entrou no carro. Svetlana seria nossa guia para Sarmish e Nurata.
  • Vimos ao longe uma usina. Perguntei se era atômica, e Sacha respondeu com um belíssimo “this in atom Uzbekistan no”. Quase todas as suas frases começavam com “this”. Um barato.

Petróglifos e Águas Cristalinas

  • Pegamos uma estrada deserto a dentro e paramos numa pequena ilha de rochas escuras na região de Sarmish. Escalamos um pouco as pedras e Svetlana mostrou os petróglifos, desenhos de camelos, caravanas, bodes cabras, homens em várias rochas. Foram feitas desde a Idade do Bronze (3000 AC) até a idade média. Pareciam ser um tipo de sinalização para as caravanas que passavam exatamente ali.
  • Em Nurata, almoçamos numa guest house que é uma espécie de restaurante sem cardápio. Trata-se de uma casa bem ajeitada com vários cômodos e jardim. Havia também uma lojinha, claro. Serviram saladas sem folhas, sopa de repolho e cenoura amarela, e plov. Melancia, amendoins e uvas secas para sobremesa.
  • Sacha gostava muito de Svetlana porque ela era de linhagem russa e bonita. Conversamos um pouco mais com ela que tinha um inglês relativamente fraco.
  • Na saída esperavam por nós umas meninas de 12 anos com roupa de escola. Quase que profissionalmente pediram que tirássemos fotos com elas e já tinham seu endereço escrito em francês em pedaços de papel decorados com florzinhas que elas mesmas desenharam.
  • A cinco minutos de lá ficavam as Fontes de Chashma onde o genro de Maomé teria batido o cajado para tirar água das pedras. De fato havia uma grande piscina com água limpíssima cheia de peixes que Svetlana contou serem venenosos e por isso ninguém os pesca.
  • Alexandre o Grande achou esse poço e construiu uma torre lá perto, que vimos somente as ruínas.
  • Despedimos de Svetlana em algum lugar na estrada e continuamos para o pouso yurt alguns kilometros dali.

Plantação de Yurts no Silêncio

  • Plantaram no meio do deserto uns 10 yurts. Cada um tem uns 4 ou 5m de diâmetro, inteiro acarpetado, com estrutura de madeira e coberto com algumas camadas de um grosso tecido rústico de lã. As camas eram futons no chão e recebem umas 5 pessoas confortavelmente. Os yurts estavam distribuídos num círculo e no centro havia preparação para uma fogueira. Ducha, casinha e refeitório ficavam alguns metros fora do círculo dos yurts em lados opostos.
  • O silêncio do deserto era a primeira coisa que chamava a atenção. Durante um chá da tarde testamos a quantos metros podia-se ouvir um sussurro. Então saímos para caminhar um pouco deserto a dentro para ouvir o som do silêncio. E se o silêncio está sempre presente no deserto, também está o vento. Parece que o capitão Rodrigo vai chegar galopando (num camelo?) a qualquer momento.

Kaljan no Tear

  • Ao voltarmos, Sacha perguntou se queríamos ir a uma vila a 10 minutos dali. Brinquei dizendo que sim se houvesse sorvete. Na única venda da vila, Sacha traduziu os dizeres da dona: “this in ice cream no”.
  • Dongelek era uma vila pequena e pobre erguida bem no meio do nada. Suas casas simples eram bem espalhadas com muita areia entre elas.
  • Sem muito o que fazer naquele fim de tarde, caminhamos ao léu bem devagar e vimos perto de uma das casas algumas pessoas em volta de um tear. Fomos chegando envergonhados e eles nos chamaram. Bateu um interesse mútuo entre nós, e Sacha tentava ser o interprete porque eles mal falavam russo também. Eram kazakhs, morenos com feições totalmente chinesas.
  • A base do tear era o chão. Fios coloridos de lã se estendiam por uns 10m. Uma moça leve e ágil sentava sobre uma parte já pronta do tecido artesanal e executava o trabalho meticuloso da criação do padrão, fio por fio. Ficamos fascinados pelo seu trabalho.
  • Trocamos perguntas sobre o que, quando, como e onde. Perguntei seu nome, esticando papel e caneta e dizendo o nosso. Escreveu em cirílico, KАЛЖАН (Kaljan). Percebendo meu interesse, ofereceu para que eu operasse o tear. Foi legal.
  • Mesmo sem uma língua comum nos comunicamos ativamente, ofereceram chá (mas não aceitamos) e queríamos ficar mais mas já anoitecia. Fomos embora impressionados com a vitalidade, hospitalidade e simplicidade daquela gente.

Fogueira e Franceses Bêbados

  • Logo depois de voltarmos ao acampamento yurt chegou o ônibus dos franceses. Os mesmos que encontramos no aeroporto ao chegar em Tashkent, no hotel em Bokhoro, e em todos os pontos que paramos no meio do caminho. Eles também já nos reconheciam e era engraçado. Mas o silêncio do deserto terminou ali. Instalaram-se em seus yurts enquanto descansávamos no nosso.
  • Umas 19h fomos ao refeitório, nos cumprimentamos e sentamos em outra mesa com o Sacha. Salada russa, de beterraba, uma de beringela com cebola que foi a melhor até agora, outra de beringela com tomate e pão. Tudo com bastante óleo e nem sinal de folhas. Depois, uma boa sopa de repolho, e carne com batatas num molho bem saboroso. Para o vegetariano aqui trouxeram 3 claras de ovos fritas em bastante óleo. Comemos felizes. Perguntei ao Sacha cadê as gemas, que disse que muitos europeus preferiam assim. Bem, não sou europeu e não sei de onde tiraram que não queria a gema. Mas o Sacha também inventa as verdades dele…
  • Sacha abriu a garrafa de vodca uzbek para experimentarmos. Tinha um aroma forte, não encontrado nas vodcas no Brasil.
  • Os franceses terminaram suas garrafas de vodca e oferecemos a nossa, totalmente cheia. Celebraram, agradeceram e brindaram ao Brasil, à França, à vodca.
  • Sentamos em volta da fogueira onde BLABLA cantava e tocava seu ditur, instrumento de 2 cordas que parecia um pequeno alaude de braço muito comprido e fino. A julgar pelos seus traços totalmente chineses-mongois, ele era um kazakh e estava acompanhado pelo seu pequeno filho de uns 2 anos de idade que roubava boa parte da cena.
  • A noite no deserto é muito fria, todos se aproximavam da fogueira e não se preocupavam porque sabiam que dentro do yurt tudo se mantém bem aquecido.
  • A cantoria terminou eufórica e com danças. Depois de acabar (umas 22h), conversamos com os franceses sobre o islã, integralismo e viagens em geral. Alguns estavam bem altos graças a vodca

Chão de Estrelas

  • Apesar da noite estar bem iluminada por uma meia lua, dentro do yurt não se via um palmo a frente e precisamos usar o display da máquina fotográfica como se fosse uma fraca vela.
  • Dormir no yurt não é propriamente prático, mas é bem roots. Os futons eram deliciosos e davam uma boa sensação de volta às origens.
  • Eu (Tati) saí do yurt no meio da noite e vi o céu mais lindo de toda a minha vida. A lua se retirara e deixara vigilante uma imensidão de estrelas, incontáveis, serenas, donas de tudo. Parecia um sonho de tanta precisão e beleza. Nem um único espaço sem brilho no breu, que ficava ainda mais negro pelo contraste. Acho que eu também contaria histórias de Sherazade sob mil e uma noites como esta.
  • No meio da madrugada as areias do deserto são tão geladas quanto as águas de um rio de neve derretida. Caminhar nessa escuridão, com essa vista e no absoluto silêncio, faz acreditar que pousamos na lua e saímos para explorá-la. Infestado de vida, o deserto é também inspirador e cheio de poesia.

Bukhara com Aziz

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Café da Manhã Apertado

  • Acordamos umas 8 e pouco e chegamos no café às 8:50. Era o mais completo café da manhã até agora, com os figos mais doces que já comi, escuros por fora e amarelos por dentro, outras frutas, muitos pães, queijos e frios, panquecas, omeletes, umas 30 geléias de todas as cores mas sem nenhuma legenda, sucos, etc. Mas pena que mal deu para saborear pois às 8:58 começaram a tirar tudo implacavelmente. Corri para reclamar e mostrar que ainda estávamos lá, mas não adiantou. Regra é regra nesses resquícios de burocracia soviética.
  • Apesar disso, comemos bem, embora correndo para pegar as coisas antes que os funcionários as tirassem. Na saída reclamei com um funcionário que parecia mais sênior. Com uma cara de que já vou tarde me mostrou a placa com o horário do café: 7 às 9.
  • Encontramos o guia: Aziz, um jovem tadjik de Bukhara. O santo não bateu. Ele parecia não conhecer nada senão o blablabla decorado da visita (tele)guiada, não parecia gostar de nenhuma surpresa ou saída do esquema e não respondia direito nenhuma pergunta sobre a vida cotidiana. Pior: só direcionava atenção para as lojinhas e técnicas de artesanato. Além do mais, não tinha nenhum senso de humor e falava o ano ou século, irritantemente, de todos os monumentos. Um robô turístico. As cores de sua roupa eram um bom símbolo de sua personalidade: calça bege, camisa bege, sapato bege.
  • E apesar de Aziz, Bukhara brilha. Madrassas enormes, lindas mesquitas e belas praças com chafarizes. A cidade é antiqüíssima mas foi destruída diversas vezes sendo a mais letal a passagem de Genghis Khan. Por isso poucos monumentos tem mais de 1000 anos e a maioria foi erguida a partir do século XV.
  • Começamos por uma praça com o pequeno mausoléu de Ismail Samani cujos tijolos colocados em diversos ângulos específicos formavam a decoração inteligente. Na hora que estivemos lá, o sol entrava pelas frestas e rasgava o ar com raios brancos.
  • No mesmo complexo havia também a Fonte de Jó onde o próprio Jó da Bíblia teria batido o cajado e feito brotar uma água límpida e cristalina que está lá até hoje. O governo aproveitou e fez lá um museu da água, que mostra os trabalhos de irrigação e os carregadores de água, profissão reputada desde o século passado. Podia-se ver ao longe o que restou da Fortaleza de Emir.

A Casa do Noivo

  • Andamos por uma rua adjacente e Aziz ofereceu conhecermos uma casa típica de um bukhariano. Isso foi realmente espontâneo da parte dele e gostamos.
  • Pediu licença e permissão, e foi entrando. Era uma casa relativamente grande, de um cidadão abastado, com um jardim de rosas interno e uma edícula que iria servir para seu filho morar com a futura esposa. Conhecemos o proprietário e o noivo, mas não entramos na sala nem nos aposentos. A decoração não batia muito com os nossos gostos.

As Árvores Milenares e o Ninho da Garça

  • Aziz nos mostrou uma casa de banhos feminina do século XVI, que segundo a Tati cheirava bem, e outra masculina, que cheirava a muito mofo.
  • Almoçamos na beira do Lyab-i Hauz, um dos antigos reservatórios de água da cidade que hoje tem um papel decorativo na cidade. Em sua beirada haviam árvores retorcidas com sinalização de que eram de 1470, século XIII.
  • Todos os turistas almoçam lá e encontramos o primeira e único grupo de brasileiros ali. Era uma coisa tão rara que ao ouvir português simplesmente chegávamos para conversar.
  • Zanzamos por mais ruas com mesquitas, monumentos, madrassas e minaretes que sempre estavam forradas de lojas com vendedores agressivos. No topo de uma delas havia um gigantesco e impressionante ninho de garça, pássaro popular naquelas freguesias.
  • Entramos numa fábrica de tapetes onde mulheres tímidas e peludas trabalhavam todas as fases da confecção. Usavam fios de seda e era um trabalho interessante de ver sendo executado.
  • No final do dia, já não agüentávamos mais olhar trequinhos e técnicas e tecidos e tesouras e dizer “não, obrigado” para todos os vendedores e artesãos. Este último ponto não é exatamente culpa de Aziz. Praticamente todos os monumentos foram loteados em centenas de lojinhas que vendem basicamente as mesmas coisas. Visitar qualquer monumento significa ingressar num shopping cujas vitrines é a própria calçada.

Dança, Moda, Compras e Internet

  • Umas 17h fomos para o hotel. Sacha agitou um show-jantar para nós mais tarde, e fomos descansar um pouco.
  • Umas 18:30 ele nos pegou novamente e levou a uma ex-madrassa em Lyab-i Hauz. Toda a praça interna foi recheada de mesas e cadeiras para um show de música, dança e moda uzbeke. As mesas já estavam postas com o tradicional chá, saladas, pães e somsas. Achamos que o jantar era só aquilo então mandamos ver. Mas depois veio sopa e um prato principal. Sacha cuidou para que me servissem coisas vegetarianas e deu certo.
  • O show era bem bonito, com muitas dançarinas e intercalavam uma dança com um desfile de moda uzbeke. Eu achei o desfile legal, mas a Tati achou a coreografia das modelos um pouco brega. As roupas eram interessantes.
  • Pena que nos deram uma mesa um pouco distante. Gostaria de ver mais de perto a dança e os instrumentos que tocavam, mas privilegiavam grupos maiores para sentarem mais próximos do palco. Foi uma apresentação bonita e junto com o jantar tinha o preço fixo de $10 por pessoa.
  • Não precisa dizer que o lugar era envolvido por lojas que já havíamos visitado de dia, já conhecíamos os preços e produtos, e já sabíamos o que iríamos comprar. Depois de muita pechincha, mas muita pechincha mesmo, compramos véus sedas, bordados e lindas capas de travesseiros decoradas com bordados de seda de cores intensas.
  • Usamos a Internet precariamente num cybercafe lá perto e voltamos a pé até o hotel meio desesperados porque nossas entranhas já não estavam muito boas, e dormimos em seguida.

Telekomunikatsya Problema

I am here in Bukhara, Uzbekistan, in a LAN house using a dialup connection that gets down every time shared with more 5 other computers.

Do you remember the dial up hell time? This is worse.

OK, the price is as low as the quality: 700 sums per hour. 1276 sums = 1 USD.

I think I’ll write a formal request to Uzbekistan government to change the name of these places from “LAN Houses” to “Shared Dialup Houses”.

O Caminho para Bukhara

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

O Professor de Inglês do Borat

  • Acordamos às 7h, fechamos as malas e fomos para o buffet matinal do hotel de Khiva. Melancia, melão diferente e bom, outras frutas, sucos prontos, ovo estrelado, uma panqueca adocicada de ricota que ficava melhor ainda com um pouco de mel e umas massas doces fritas, além de frios e queijos que não tocamos.
  • Às 9 nos encontramos com Sacha na recepção. Ele fala exatamente como o russo do filme Tudo é Iluminado. Uma de suas pérolas: “I recommendation to you”. Ou cantar “happy birthday to you” para o cão que recebeu todos os restos do almoço mais tarde. Ou gritar “spaghetti” quando tocou Enzo Ramazzotti no rádio. Ou ainda “next you are civilizatsya” para indicar que chegaremos em lugares mais civilizados em breve. Mas nada se compara a quando perguntei se a usina a vista era de energia nuclear e ele respondeu “this in atom Uzbekistan no”.

Paisagens do Deserto

  • Caímos na estrada. Dessa vez dei uma olhada melhor em Urgench. É uma típica cidade de interior mas tem ruas e calçadas largas muito arborizadas, tanto que mal se percebe os postes e fios elétricos externos.
  • Na periferia de Urgench havia muitas plantações de algodão e era época de colheita. Sacha contou que quem trabalha na colheita recebe 300 sum por quilograma, e uma pessoa colhe ± 10kg por dia. Mais tarde paramos para ver a colheita e pesagem e atualizamos o valor para 50 sum. No mercado internacional a tonelada de algodão vale 400 USD, segundo Sacha.
  • Atravessamos o rio Amu Darya a pé sobre uma ponte de metal totalmente remendada. Havia trabalhadores constantemente consertando a ponte. Sacha passou de carro, só fomos a pé porque é legal. Esse rio divide o território Khorezm do Karakalpak e havia um posto policial ali, quase como se fosse uma fronteira entre países.
  • O deserto é lindo. Paramos em alguns pontos altos para ver o rio de longe. Estávamos na época das secas o que fazia o rio ficar pequeno, mas pelas margens era possível entender o colosso que é por volta de março, época das chuvas e degelo.
  • Apesar da aparência árida, não havia 1 m² sequer sem um arbusto de no máximo 1.5m de altura. Na estrada estávamos constantemente quase atropelando pássaros que pousavam e levantavam vôo. Vimos também alguns pequenos animais irreconhecíveis cruzando a pista. Ou seja, como todos os cantos desse planeta, esse deserto era o seio fértil de fauna e flora ricas e próprias.
  • Paramos para almoçar numa casa de chá no meio do nada. Imagine parar para comer numa estrada deserta no interior do Piauí. Deve ser parecido. A idéia era comer peixe do rio. Desceram um pão que estaríamos com sorte se fosse da semana passada e um molho de tomate pronto como entrada. Depois veio um pratão com postinhas de peixe frito. Comemos com as mãos e estava bem bom. 9500 sum para nós três incluindo chá, biscoitos, balas e moscas.
  • Ao longo de toda a estrada desértica, seja perto de alguma casa de chá ou no umbigo de um grande nada, havia incontáveis garrafas de plástico jogadas. Deduzimos que os carros passavam ali e as pessoas lançavam seus lixos imperecíveis aleatoriamente. Como aquilo não se dissolve espontaneamente, ao longo dos anos as garrafas se somavam aos milhares. Uma pequena marca na visão do deserto mas um profundo arranhão na ética dessa civilização.

O Algodão e Uma Breve Bukhara

  • Já perto de Bukhara, vimos a colheita e transporte do algodão. Paramos para umas fotos e Sacha puxou uma prosa com eles. Um deles veio nos dar um punhado de algodão mas mostrei que já tínhamos de outro pomar. Sua primeira ação foi pegar um de nossos chumaços e contar o número de sementes. Pelo jeito isso define a qualidade do algodão porque é da semente que se extrai o óleo, usado na culinária etc. Nunca tinha pensado nisso.
  • Chegamos umas 17:30 em Bukhara e saímos às 9:00 de Khiva. O hotel é do tipo luxuoso-dos-anos-70. No guia diz que ele é um marco da Bukhara soviética. É meio longe da cidade, as coisas não funcionam direito e cobram 5000 sum por hora de Internet. Uma calamidade de caro comparado a outros lugares.
  • Despedimos de Sacha, subimos ao quarto e cogitamos dar um mergulho na piscina mas estava em reforma. Então fomos bater perna e acabamos chegando na cidade velha, com suas casas baixas e muitas lojas para turistas.
  • Descobrimos um pequeno hotel-boutique num bairro que não era dos melhores mas ficava mais próximo do centro que o nosso soviético Palace. O recepcionista era muito simpático e eficiente. Mostrou um quarto que era realmente charmoso, saleta secular preservada, onde se comia etc. Perguntou do Brasil e detalhes de futebol que realmente não sabíamos responder. Não conte para ninguém mas o preço era $50 por noite e realmente valia a pena.

Jantar e Internet no Interior do Uzbequistão

  • Já anoitecia, a fome batia e voltamos ao hotel. Decidimos ir jantar direto no Pelican Cafe, indicado pelo Sacha e uns 800m do hotel. Era uma lanchonete decorada como americana, passava clipes americanos na TV e tinha uma freqüência jovem. Mandamos uma sopa solianka para a Tati e um spaghetti com vegetais para mim. E depois um sorvete com frutas. 7000 sum.
  • Na volta paramos numa LAN house e por 800 sum por hora acessamos a Internet por linha discada. Foi irritante (porque já não estamos mais acostumados) mas funcional.
  • Voltamos para o hotel e chapamos.

O’zbekiston

Eh assim que se escreve o nome do pais que eh muito diferente do nosso.

A coisa mais incrivel eh a etnia das pessoas, ou melhor dizer, a salada etnica delas. Eh russo loiro misturado com mongol e tartaro ouvindo musica americana na MTV. Nunca se perguntaram por que o negocio se “salada russa”? Poizeh, entendemos.

Estamos em Bukhara, chegamos hoje depois de viajar o dia todo pelo deserto, que eh sempre lindo.

Ja passamos por Tashkent que eh bem bonita e arborizada, e Khiva que eh uma cidade-museu. Tashkent tem um ar europeu com edificios stalinistas enormes, avenidas larguissimas e gente bonita.

A comida eh meio turca, meio arabe, meio carneiro e meio oleo. Daqui a 2 dias vamos chegar em Samarkand onde disseram ter o melhor sorvete do pais, ai minha dieta vai se equilibrar 😀

As coisas sao muito baratas. Se a gente se livrasse dessa nossa cara de turista, ia ser mais ainda.

Dia Livre em Khiva

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Quem Não Se Comunica Não Almoça Nem Dança

  • Perdemos o café felizes porque dormimos até tarde. Mas deram um jeito para nos servir umas 11:15. A Tati queria ver mais algumas coisas em Khiva e lá fomos nós.
  • Certa hora deu fome e fomos conhecer o bazar que ficava na parte de fora da cidade. Já tinham desmontado tudo mas vimos um lugar simplório que tinha um placa indicando ser uma casa de chá. Não era um lugar nem uma zona turística.
  • Havia uma moça extremamente bonita parada na porta e fomos entrando. Não havia ninguém comendo provavelmente por causa do horário. Quebramos os dentes para nos comunicar num esforço hercúleo de ambas as partes, até que a dona entendeu que queríamos ver o que ela tinha na cozinha. “Salat”, “nan” e “tchai” foram as únicas palavras que ambos entendemos. O resto que ela mostrou não nos interessou. Então acabamos comendo um pão caseiro bem bom, salada de tomate com cebola e coentro e chá verde.
  • Enquanto comíamos eles não paravam de nos olhar e coxixar de longe. Certa altura chamei alguém e vieram todos, a família toda com todas as crianças. Pedi que sentassem, principalmente a menina da porta que tinha realmente uma beleza e sorriso surpreendentes.
  • Nos divertimos tentando nos comunicar mas foi extremamente difícil. Com ajuda de papel e caneta descobrimos o nome e idade de cada um. A menina bonita parecia estar nos convidando para jantar em sua casa, mas foi tão confuso que pareceu improvável. Então tiramos um monte de fotos, e descobrimos que não eram uma família e que as duas moças só trabalhavam lá.
  • Nessas alturas a dona estava bêbada, começou a falar sem parar, não entendemos nada e para fechar a matraca dela pagamos com a mesma moeda: comecei a falar coisas aleatórias em português. Funcionou.
  • Cena surreal: meteram uma música e nos chamaram para dançar. Uma menininha tirou um monte de fotos.
  • A dona estava bem bêbada e ficava tentando agarrar todo mundo (Tati e Avi) falando “i love you”.
  • Começamos o ritual de despedidas e as moças pediram para que lhes enviássemos as fotos. Estiquei uma caneta e falei as palavras mágicas “e-mail” e “internet”. Elas disseram calmamente “no no, no internet”. Fiquei alguns segundos perdido pensando como iria enfrentar esse desafio enquanto elas escreviam seu endereço num papel. Fiquei mais calmo quando lembrei que existia uma coisa chamada correio físico e agora só faltava descobrir como usá-lo.
  • A conta saiu 1000 sum o que nos revelou o verdadeiro Uzbekistan — literalmente de 5 a 10 vezes mais barato comparado ao já barato circuito turístico.

Outras Aventuras em Khiva

  • Fomos nos aventurar por partes mais externas da cidade e descobrimos uma tal academia de ciências, mas o homem na porta ou não nos deixou entrar ou disse que estava fechado, ou não foi com nossa cara.
  • Voltamos para a muralha e achamos uma rampa para subir nela. Vimos a cidade do alto quando o sol já estava mais baixo.
  • Atravessamos para voltar ao hotel e no caminho tentamos descarregar a câmera para um CD. Cobraram 5000 sum, mais caro que a turística Jerusalém. Não topamos.

Jantar em Khiva

  • No hotel tomamos banho e esperamos a fome bater enquanto relembrávamos o dia. E ela bateu violentamente, o que nos arrancou do quarto em direção ao Farouk, restaurante bonitinho e a céu aberto que tínhamos visto de dia.
  • Não havia praticamente ninguém às 20:00 e começou o ritual de explicar que não comia carne e selecionar as opções. Mandamos ver uma salada oleosa mas boa de beringela, pão fresco, 2 tigelas de lakhman (lámen) e umas fatias de melancia. O lakhman estava bom, mas o serviço não: traziam só 1 guardanapo que tínhamos que dividir e precisei ir até a cozinha para conseguir sal e pedir a conta. Saiu 10100 sum incluindo o serviço, valor que tínhamos aprendido ser altíssimo para o interior do país.
  • Voltamos ao hotel, usamos o computador para transferir fotos para o pen drive da Tati. Internet nem pensar, era por linha discada, 33.6kbps, e não estava conectando. E fomos dormir.

Khiva com Timur

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Sacha e o Caminho de Khiva

  • Acordamos às 5h, fechamos as malas, comemos pouco, rápido e praticamente de pé e nos encontramos com o Sergey às 5:35.
  • Levou-nos ao aeroporto que era num prédio diferente e mais moderno que e o internacional.
  • Fizemos check in observando muitas pessoas tentando furar fila. O cartão de embarque era escrito a mão. Depois do raio-X respiramos o ar pesado da sala de espera devido aos fumante ansiosos que haviam lá.
  • A Tati cochilou no vôo, e eu não.
  • Urgench parecia um aeroporto desolado e saímos do avião a pé direto para o estacionamento de carros. As malas são entregues ali mesmo diretamente do carrinho que vinha do avião.
  • Encontramos o Sacha, nosso motorista de feições russas e dentes de ouro (só os 2 de baixo, e os outro era muito estragados) para os próximos dias. Seu inglês nota 3.5 não intimidava sua comunicação e falava sem parar. Era engraçado.
  • Tentei dormir um pouco esticado na van durante os 30km para Khiva, sem sucesso.
  • O hotel Malika (que significa rainha em uzbek, mas a Tatiana ficava fazendo trocadilhos do tipo “malika sem alçika”) ficava em frente a entrada da muralha da cidade antiga. Na recepção encontramos Timur, nosso jovem guia de 23 anos, com quem combinamos adiar para as 13h o passeio, para tentarmos dormir um pouco. Era 9:30.
  • Antes entramos pelo muro na cidade velha para um chá. Encontramos o Sacha no bar que pediu um café na nossa mesa e não pagou (provavelmente ficou escondido na nossa conta). Então tentou nos convencer em almoçar mais tarde nesse restaurante, tanto que pareceu que iria tirar vantagem. De qualquer forma era muito cedo para pensar nisso, não topamos e voltamos para o hotel.
  • Tati chapou, eu não. Só fiquei com dor de cabeça.

Timur e sua Khiva Khorezm

  • Às 13h nos encontramos com Timur no saguão e fomos caminhando até um restaurante que a Tati viu no guia (Zarafshan). Era aconchegante e sentamos num tipo de cama gigante com uma mezinha mais alta no meio. Timur nos ajudou com o cardápio, pedi 3 saladas e a Tati mandou ver um manti que parece um guioza no vapor.
  • Timur disse que já tinha comido mas comeu também. Tudo bem, porque foi bombardeado por perguntas sócio-político-étnico-econômico-religiosas e foi uma conversa legal. A conta deu uns 9500 sum.
  • Começamos então um longo city tour a pé, que durou 5 horas de longa conversa e histórias de Timur. Percorremos os principais monumentos e pequenas ruas empoeiradas e marrons de Khiva. O monumentos eram decorados com azulejos azuis (alma), verdes (islã) e brancos (paz).
  • Um lugar interessante foi a mesquita Juma Masjid com seus muitos pilares de madeira trabalhada. Um deles foi feito na Índia como premio pela vitória de um “Hércules” khorezm no campeonato mundial de luta. Continha divindades indianas escondidas em seus detalhes. Os Khorezm são uma minoria que vivem nessa região. Quando a Rússia definiu as fronteiras, seu território ficou dividido entre o Uzbekistan e o Turkmenistan.
  • Nesse lugar conversamos sobre religião e contei emocionado sobre o episódio da reza no deserto da Jordânia.
  • Em algum lugar Timur mostrou um poço de água a moda antiga. Pode-se encontrá-los em várias partes da cidade e essa água subterrânea é o que deu origem a Khiva. Ele puxou um balde de água que era limpíssima e bem fria. Eu a provei e tinha gosto mineral.
  • Às 17h fomos assistir um show khorezm típico numa casa de chá. Eu dancei junto e foi muito interessante.
  • Uma menina que tocava acordeon no grupo era lindíssima e perguntamos sobre ela ao Timur, por que não namorava ela etc. Ele contou que ser músico em Khiva era um tipo de subemprego, a posição social dela era complicada e isso dificultava as coisas.
  • Compramos ali umas sedas artesanais feitas a mão, depois da tradicional pechincha. E no caminho para o hotel Timur nos levou para outras lojas onde havia CDs e VCDs de dança. Não compramos mais nada.

Jantar com Intercâmbio Cultural Portátil e Digital

  • Num Bed-and-Breakfast perto da saída da cidade Timur combinou um jantar para nós pois era alto e tinha vista. Iríamos voltar lá às 20:30.
  • Acompanhou-nos até o hotel, cochilamos forte no quarto e tomamos um banho de pouca água, o que nos atrasou para o encontro com Timur às 20:20 no saguão.
  • Chegamos no restaurante atrasados e o proprietário reclamou! Serviram as saladas, um pão não fresco, uns pasteis de carne e de batata que tinham sido fritos horas atrás, chá, água e amendoim doce, uvas passa, peras e maçãs para sobremesa por 5000 sum por pessoa. Timur, nosso guia simpático, disse que só ia nos acompanhar mas filou novamente. Cobraram 10000 sum como que só para 2 pessoas.
  • Ao longo do dia fizemos um intercâmbio turístico, histórico e cultural. Mas agora era hora do intercâmbio digital. Bluetooth ativado em nossos Nokias e lá estávamos a trocar MP3s de nossos países. Timur recebeu Sa Grama, Pau Brasil, Titane, João Gilberto, Sa & Guarabyra e Paco de Lucia. Faltou Ulisses Rocha, Zé da Velha e outros mas ele não tinha mais memória. E eu recebi alguns MP3 khorezm e fotos. É assim que tecnologia derruba fronteiras.
  • Voltamos felizes para o hotel e dormimos profundamente até às 10:30 do dia seguinte.

Tashkent Turística

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

  • Acordamos umas 7:00.
  • O café no hotel tinha pães típicos um pouco secos, peras, maçãs, frutas secas, tomate e pepino frescos, um queijo branco e outro amarelo que eram bastante mixurucas, frios, uvas, sucos de maçã e outra fruta que não soubemos identificar mas que tinham um sabor diferente e bom, cereais simples, leite, iogurte, coisas que estavam entre compotas e geléias de diversas frutas, croquetes fritos de frango e carne, panquequinhas recheadas de carne, arroz cozido no leite que não era doce e rabanada que também não era doce. Haviam ovos expostos provavelmente indicando que poderiam ser requisitados. O café em si era dissolvido em água quente mas havia uma máquina de expresso lá. Foi uma refeição suficientemente boa.
  • Vimos o carro do Sergey lá fora e fomos atrás dele. Aí apareceu a Natascha, nossa guia, e nos cumprimentou. Seu inglês era compatível com o nosso. Ela era filha de russos mas nasceu e viveu em Tashkent a vida toda.
  • Levaram-nos primeiro a um belo jardim chamado Victory Park na beira do rio Bozsu, de águas verdes e rápidas. Havia um memorial à independência de 1991 e um museuzinho que não entramos.
  • Obviamente bombardeamos ela com perguntas sócio-político-étnico-econômico-religiosas, e perguntamos como soa a língua uzbek. Ela foi atrás de umas senhoras com traços mais ou menos tártaros que passeavam por lá e pediu para abrirem a boca. E elas falaram frases simples mostrando seus inúmeros dentes de ouro. Foi o momento mais alto do dia até aquela hora.
  • Perto do jardim ficava a monumental antena de TV cuja arquitetura continha um tripé de tamanho colossal. Parecia um míssil pronto para ser lançado.
  • Depois fomos a um monumento tocante no epicentro do terremoto de 1966 que consistia do chão rachado e uma família parando o terremoto com um gesto sereno. Escultura monumental stalinista, mas bela.
  • Atravessamos um rio que era a divisa entre a cidade nova onde estávamos, e a velha, para onde íamos.

Tashkent Antiga e o Primeiro Corão

  • Fomos a um complexo de edifícios renovados de arquitetura islâmica típica do Uzbekistan. Fica na parte antiga da cidade, pois Tashkent sempre foi um lugar de passagem e troca de mercadorias. Além das ruas labirínticas de terra batida do século XVI, visitamos a madrassa e mesquita renovadas após a independência (e a retomada da fé islâmica).
  • Um dos edifícios continha exposto a Corão mais antigo que existe, escrito poucos anos após a morte de Maomé. Trata-se de um livro enorme com páginas papel de seda de ± 1m². Cada página continha umas poucas frases escritas em caligrafia grossa, grande e bem espaçada. Era proibido fotografar e tivemos que tirar os sapatos para chegar perto.
  • Andamos pelo bairro antigo, onde todas as casas são cercadas por grandes muros para que o pessoal de fora não soubesse a situação econômica de seu dono. Cada casa esconde um pequeno quintal com árvores frutíferas que pode revelar uma pequena jóia.
  • Natascha contou sobre os rituais de casamento, a proteção dos mais velhos, a mudança dos tempos e o fim do comunismo.

Bazar, Almoço e Outros Pontos Turísticos

  • Fomos para o bazar que parece a Feira do Ver o Peso de Belém. Era muito grande. Havia partes abertas que vendiam frutas e legumes, sapatos, roupas, temperos, e uma construção redonda muito interessante onde se vendia nozes, frutas secas, queijos (todos iguais e azedos), picles de vários tipos, conservas, legumes pré-fatiados-na-hora, condimentos, em 2 andares. Todos os bazares tem 2 andares: um para comidas, outra para roupas e outras coisitas. Por exemplo, 1kg de castanha de caju custava, sem pechinchar, 13000 sum ou $10, ou R$20, um pouco mais barato que no Brasil, terra do caju.
  • De lá fomos para uma antiga madrassa que foi transformada em um centro de artesanato onde artesãos mantinham seus estúdios e lojinhas. Todos faziam exatamente as mesmas coisas: caixinhas pintadas da forma tradicional, pinturas islâmicas simétricas de grande precisão e detalhe, e também os mesmos temas em papel de seda ou papiro antigo. Era lindo mas encheu o saco ver tantos artesãos fazerem a mesma coisa com diferenças somente técnicas.
  • Então fomos almoçar no Credo, restaurante estranhinho indicado pelo Sergey. Mesmo sendo domingo, estava praticamente vazio. Comemos umas saladas, carneiro e uma pizza frita de cheiro verde e um queijo meio estranho. Sorvete com nozes no final e chá verde com limão que parece o refrigerante Feel Good do Brasil.
  • Fomos ao pequeno museu de artes aplicadas na parte nova da cidade já com muito sono. Vimos sedas, tapetes, roupas tradicionais, madeira esculpida, cerâmica, instrumentos musicais, jóias, etc. A casa era do diplomata Alexandrovich Polovtsev em 1907 e havia pertencido a algum judeu que a reformou com inserindo alguns temas judaicos como Estrelas de David.

Jantar Turco

  • Fomos para o hotel umas 17h e chapamos até umas 19h.
  • Acordamos e decidimos jantar no Istambul, atravessando a rua do hotel, um turco que a Natascha indicou. Antes de chegar lá demos uma volta numa praça com lago e chafarizes e bares de espeto e de bêbados em volta.
  • No Istambul foi divertido pedir comida. Turcos fumantes se amontoavam para assistir um jogo de futebol na TV. Mandamos ver um prato de vagens, salada de pepino e tomate, e pepino com iogurte (a minha receita é melhor), acompanhado de um pão perigosamente gostoso. A sobremesa foi um preparado de semolina com nozes que minha mãe também sabe fazer.
  • Voltamos para o hotel pela passagem do metrô e demos uma espiada.
  • Já no quarto percebemos como fedíamos a cigarro. Fizemos parcialmente as malas e tentamos dormir. A Tati obviamente conseguiu, mas eu não por causa da soneca da tarde. Passei a noite em claro e sofri no dia seguinte.

Chegando em Tashkent

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Aflição com o Passaporte

  • Pousamos em Tashkent.
  • Na imigração havia 4 guichês e nenhuma coordenação de ordem. As pessoas simplesmente se amontoavam para serem atendidas, sem fila nenhuma. Nunca vi isso.
  • Precisávamos tirar visto mas ninguém nos atendia. Esperamos mais de uma hora até todos terem o passaporte carimbado.
  • As vezes passavam policiais fardados do aeroporto sempre com carimbos pendurados na cintura ao invés de armas. Era engraçado.
  • Um cara de crachá apareceu e falou a palavra mágica: “visa”. Foi o suficiente para darmos nosso passaporte. Falou para esperarmos aí e desapareceu na multidão. Bateu medo, arrependimento e frio na barriga. Não podíamos ter dado o passaporte tão levianamente.
  • Outro cara voltou 10 infinitos minutos depois com os passaportes com visto e cobrou $60 por cada um.
  • Carimbamos os passaportes, pegamos as malas e nos juntamos a multidão quase inerte que precisava passar pela alfândega, também sem nenhuma ordem de fila.
  • Passamos pela alfândega e saímos para a parte externa do aeroporto que parecia o de Ilheus, Bahia. A Tati sentia cheiro de cravo. Pousamos às 7h, saímos do aeroporto às 10h. Bem eficiente.

A Moeda Engraçada

  • Encontramos com o Sergey que nos levou ao Hotel Uzbekistan (mapa). Ele falava pouquíssimo inglês mas era simpático.
  • A primeira impressão da cidade lembrou as capitais do norte como Belém, com suas árvores gigantes.
  • O hotel tem porte stalinista mas a fachada é inteira rendada lembrando temas islâmicos.
  • O carregador tinha pele literalmente rosa com olhos muito claros e as recepcionistas totalmente orientais, muito simpáticas, falavam inglês e atravessamos o grande saguão para falar com elas.
  • Fizemos check in, subimos, tomamos banho e dormimos das 11 às 14:30. O quarto era enorme, a cama também.
  • Fomos trocar dinheiro no hotel mesmo. $1=1274 sum. Mas a maior nota é de 1000 sum e ao trocar $100(=127400 sum) saímos com um incômodo bolo de 15cm de altura em notas. A maior cédula do país, de 1000 sum, comprava uma garrafa de água de 2 litros no hotel. É como se a maior cédula no Brasil fosse de R$5, talvez até menor.

Tashkent Soviética e a Primeira Refeição

  • Saímos para andar. Ruas e edifícios enormes, arquitetura monumental, parece Brasília com um toque de Stalin e um pezinho no oriente.
  • Andamos por uma rua muito larga com árvores enormes e um parque em um de seus lados. Havia uma estátua de Amir Timur, herói nacional do século XIV.
  • Entramos num lugar chamado Mir Burger, anexo ao Mir Stores — um tipo de supermercado com pequeno shopping no andar de cima, onde compramos pasta de dente — mas além de sandwiches haviam outros tipos de comida.
  • No andar de baixo havia o tal Restaurante Anatólia e pudemos montar pratos com vagens, feijão, espinafre com arroz e bolinho de carne com batata. Era gostosinho e lembrava a comida búlgara — ½ eslava, ½ turca — de minha mãe.
  • Uma avenida dava em um tipo de Esplanada dos Ministérios com avenidas, calçadas e jardins larguíssimos e bem cuidados. Conseguimos ler o nome do Ministério das Finanças em alfabeto cirílico. A segunda coisa que conseguimos ler foi СИМРСОНС (Simpsons, propaganda do filme).
  • Zanzamos por lá admirados com a arquitetura de coisas gigantes e principalmente com a variedade étnica e cultural das pessoas. Era mais interessante fotografá-las do que as paisagens. E seu temperamento muda tanto quanto seus traços: alguns são solícitos e simpáticos, outros são rudes, desinteressados ou desdenhosos. Ou pode ser só choque cultural mesmo…
  • Pode-se identificar as etnias pelas roupa (quem conhece). há chapéus quadradinhos, chapéus redondos, chapéus mais muçulmanos ou mais chineses. Para as mulheres, vestidos em geral longos e brilhantes, como se fossem a Scarlett Ohara com vestido do sofá da vovó. Mas tem aquelas moderninhas que se vestem com jeans ou micro saias, sempre cheios de brilhos. Aquele amor oriental por tudo que brilha, porque mesmo o que não é ouro, reluz.
  • A Tati ainda dormia de pé e fomos voltando para o hotel ao anoitecer.
  • Paramos para um café ruim num lugar na praça que parecia um coreto de nossas cidades do interior: totalmente aberto, alto e com tudo de mármore.
  • E lá perto havia uma feira de quadros como o da antiga Praça da República. Mas as pinturas em geral eram bastante bregas.

Jantar Típico e “Caro”

  • Descansamos um pouco no hotel, assistimos Fashion TV, tomamos outro banho e pedimos sugestões de restaurantes típicos.
  • Escolhemos o Caravan porque disseram ser típico e com música típica ao vivo, mas precisaríamos de um táxi.
  • 3000 sum depois, o taxista do hotel nos deixou lá, numa rua de bairro larguíssima e que ele fez questão de lembrar que sediava o consulado de Israel.
  • O restaurante era bem decorado com antiguidades e tinha vários recintos, alguns com mesas com sofás aconchegantes. Sentamos na parte de fora perto da música ao vivo que não era tradicional coisa nenhuma. Jazz meio vagabundo e tocaram até Pantera Cor de Rosa.
  • Para um sábado a noite, o restaurante estava bastante vazio, e havia mesas só com mulheres um tanto vulgares.
  • Depois ficamos sabendo que o lugar era considerado muito caro. 2 cumbucas de saladas boa e outra ruim, 1 chá gelado com berries, 1 pão tradicional, 1 somsa de espinafre (bureka com massa gorda) e 2 sobremesas (prato de frutas secas e maçã assada com pistache) saiu por 21000 sum, ou menos de $20.
  • Ligamos para o taxista Sunat vir nos buscar e voltamos para o hotel quase meia noite.

Towards Central Asia

Tomorrow we are traveling to Uzbekistan, Kyrgystan, Kashgar in China and a few days in Moscow.

Central Asia Map

When I tell this to people their first reaction is always “WTF are going to do there?”. Well, I try to reroute this question to my girlfriend, because I am still not sure. I even don’t know how she convinced me to do this trip. But with her company everything will be a pleasure.

I’ll try to blog the most I can from there, but I guess this region and some parts of Africa are the most remote locations in the world, so I can’t promise any single post.

Top Latin American Movies

A friend from Australia asked me for a list of some great Brazilian and LA movies. This is what I’m sending her.


  • Cidade de Deus
    Brazil. Probably one of the best movies I ever saw. Very violent and based on real facts. Don’t miss it.
  • El Abrazo Partido
    Argentina. Beautiful. Simple and beautiful. The music matches perfectly all parts of the story. I saw it again this week, and it is still great.
  • Nueve Reinas
    Argentina. Very funny, and maybe one of the first of the new movie age from this country.
  • Central do Brasil
    Brazil. Outstanding drama that unfortunately lost Best Foreign Language Film in Oscar 1999 for Benigni’s La Vita è Bella. Central do Brasil deserved that prize.
  • O Xangô de Baker Street
    Brazil. Sherlock Holmes comes to Brazil to solve a case and gets enchanted by brazilian drinks, food and women, and almost loses its focus. This movie is useful for foreigners, and is good too.
  • Whisky
    Uruguay. Sad but very well done drama. In the end you won’t be sure if you hate it or love it.
  • Abril Despedaçado
    Brazil. The tough life of poor people in northeast of Brazil.
  • Machuca
    Chile. Social classes conflicts by the eyes of a child.
    • O Auto da Compadecida
      Brazil. A funny movie that is a summary of a TV series. Adventures of two guys fighting for survival in the most bizarre ways. It is an adaptation of a very important brazilian play from the 70’s that shows many social and folk aspects of our country’s culture. The soundtrack is wonderful, by Sa Grama, a group focused on a very special type of brazilian folk lyric music. Non-brazilians may find difficult to understand the beauty of this movie, but give it a try.
    • El Hijo de la Novia
      Argentina. A very beautiful drama.
    • Kamchatka
      Argentina. Dictatorship and revolution being seen by the eyes of a child.
    • Diários de Motocicleta
      Brazil, Argentina. The Che Guevara movie.
    • Pequeno Dicionário Amoroso
      Brazil. A romantic story, from A to Z.
    • Amores Perros
      Mexico. Just watch it.
    • O Quatrilho
      Brazil. A well done drama about italian imigrants in southern Brazil. This movie could be shorter. Lost Best Foreign Language Film in Oscar 1996 for dutch’s Antonia. Indeed Antonia is a far better movie.
    • Pantaleón y las Visitadoras
      Not really great but just to put Peru in this map. Its a cute movie.


    I am not an expert, and I’m probably missing a few movies. And hope to see more suggestion in the comments below.

    Viagem de Inovação aos EUA

    Andei postando sobre algumas coisas que tenho visto aqui nos EUA, mas não contei o que de fato vim fazer aqui.

    A IBM tem um grupo chamado International Technical Support Organization que produz livros técnicos chamados Red Books. Trata-se de livros gratuitos que podem ser lidos ou baixados do site do ITSO. Pode-se também comprar cópias impressas que geralmente damos para clientes. Os autores são voluntários do mundo todo, geralmente funcionários da IBM, mas também clientes, parceiros ou qualquer pessoa que se qualificar na entrevista feita para a chamada do livro na lista do ITSO. O livro é geralmente escrito em Austin, Texas (há também outras localidades) durante algumas semanas de imersão. Todas as despesas de viagem são pagas pela IBM, tem se a oportunidade de trabalhar com pessoas de diversas partes do mundo, e fazer mais turismo que só o superficial.

    Alguns livros interessantes que o ITSO produziu:

    Bem, vim participar de um livro menos técnico que a média do ITSO. Conta como a IBM criou um programa interno de inovação onde qualquer funcionário pode criar, divulgar e hospedar na Intranet algum software que aumente a produtividade dos funcionários. Qualquer coisa. Desde simples plugins para o Firefox, Lotus Sametime, uma ferramenta de blog corporativo interno, ferramenta de criação de wikis internos, uma aplicação para sincronizar mídia interna com dispositivos móveis, etc.

    Dentro da IBM chamamos essas coisas de inovações e são tratadas como beta, para beta testers ou early adopters.

    Ao longo do tempo elas vão amadurecendo, viram um serviço padrão da Intranet, e as vezes acabam até virando produtos que a IBM vende. Foi exatamente o caso do Lotus Connections, um produto para ser usado numa Intranet e que tem serviços como diretório de funcionários, departamentos e suas linhas gerencias, blogs, tagging tipo del.icio.us, entre outras coisas. O Lotus Connections reune exatamente o que funcionários da IBM andaram usando e refinando ao longo dos últimos anos, e posso dizer que é o que temos de mais útil na nossa Intranet.

    O modelo desse programa de inovação livre é muito parecido com o universo Open Source. As tais “inovações” podem ser comparadas a um software GPL que alguém fez e publicou no Freshmeant.net, este comparável ao portal na Intranet que indexa todas as inovações, mede sua vitalidade, fornece notícias e links para acesso ou download.

    Conversei com muitas pessoas que estão em altos cargos globais, entre eles a CIO global da IBM, e é interessante ver como pensam e as informações que tem acesso. As vezes pensamos que eles estão longe do mundo real mas surpreendentemente tem muito mais noção das coisas do que um gerente de nível mais baixo.

    As pessoas que criaram esse processo de aceitação e publicação de inovações dentro da IBM tem a sensação que inventaram a roda porque é de fato muito bem sucedido e todos conhecem. Mas na verdade funciona igualzinho a comunidade Open Source. Há um quê de liberdade, de esforço por um bem maior, de comunidade. Copiaram sem saber que copiaram.

    A grande inovação está mesmo no fato de que trouxeram a dinâmica da comunidade Open Source na Internet para dentro de uma empresa, para gerar valor de produtividade interna.

    O livro conta mais detalhes. Aguardem a publicação.

    Economizando Energia em Casa

    Ouvi esta manhã na KUT, ótima rádio comunitária aqui em Austin, que alguns estados americanos tem pensado em formas de reduzir o consumo doméstico de energia elétrica.

    Uma das soluções é instalar dentro de casa um mostrador de consumo em dólares e não em indecifráveis kWh. Deram um exemplo de que uma torradeira acusa consumo de US$0.59 por hora enquanto uma lavadora de roupas acusa US$1.09 por hora. Muito mais fácil de entender, não !?

    O dispositivo tem duas partes. Uma para coletar os dados, agregada ao relógio de kWh da casa, e outra dentro de casa funcionando só como mostrador. A comunicação seria por algum tipo de wireless.

    Selecionaram uma população para testar esse dispositivo por algum tempo, e observaram que 75% dos lares passaram a gastar menos energia. Não mencionaram quanto economizaram.

    Mas já é bastante efetivo. E funciona só porque apresentaram o consumo para as pessoas numa medida que todo mundo entende muito bem. Sim, isso é uma questão de acessibilidade também.

    Claro que discutiram também questões de redução do lucro das empresas que provêm energia. Mas pensando a longo prazo, na minha opinião isso é um problema menor e que se ajeita com o tempo.

    Frases Para um Planeta Renovado

    Viva com simplicidade para que outros possam simplesmente viver.


    Adquira menos necessidades.


    Não há poder de mudança maior do que uma comunidade descobrindo o que é importante para ela.
    — Margaret Wheatley


    DIGA ADEUS AOS ANOS DO CARBONO…
    prepare-se para uma revolução na energia !!


    Toda escolha é um voto para o mundo no qual você quer viver.


    O caminho de menor resistência leva ao supermercado.
    — Tom Philpott


    Comida é a única coisa na experiência humana que pode ao mesmo tempo abrir nossos sentidos e nossa consciência sobre nosso lugar no mundo.
    — Alice Waters


    Ache o caminho mais simples e curto entre o planeta, as mãos e a boca.
    — Lanza Del Vasto


    Comida é uma forma de memória profunda. Através dela [pessoas] são ligadas a sua paisagem nativa, ao seu solo, sua água, e suas árvores.
    — Patricia Klindienst


    Os jardins do mundo são uma única democracia gigante.
    — Rudolf Borchardt


    Quando dizemos orgânico, queremos dizer local. Queremos dizer saudável. Queremos dizer ser autêntico às ecologias das regiões. Queremos dizer mutuamente respeitoso entre cultivadores e consumidores. Queremos dizer justiça social e igualdade.
    — Joan Dye Gussow


    O melhor fertilizante são as pegadas do fazendeiro.


    Vida simples, pensamento elevado.


    Tudo está conectado.


    Extraido do Northeast Organic Farming Association of New York‘s Organic Food Guide 2007, distribuido numa pequena feira orgânica em Mount Kisco, NY.

    Passaporte para Entrar nos EUA

    Como comentei no outro artigo, lá fui eu tirar um passaporte novo só porque ele vencia em menos de 6 meses. O visto americano só expirava em 2013.

    Consegui tirar um novo passaporte em uma longa tarde porque sabia tudo que precisava:

    Carta assinada da empresa dizendo que era motivo de trabalho, RG, passaporte antigo, título de eleitor e comprovantes de voto (que obtive no site do TRE), quitação do serviço militar, 1 foto 5×7 com ou sem data. A lista completa está no site da PF.

    E há duas delegacias da Polícia Federal em São Paulo que emitem passaporte com urgência (que é o modelo antigo): a do aeroporto de Cumbica, e a sede na Lapa. Fui na de Cumbica, e pessoas com problema semelhante que encontrei ali me disseram que na sede ninguém sabe nada e não dá certo. Coisas de Brasil.

    Ali eles preencheram um formulário com meus dados e emitiram um boleto de R$202,89 de taxa de passaporte urgente, que paguei no aeroporto mesmo.

    Com toda a documentação pronta e entregue tomei um chá de cadeira de várias horas e obtive um passaporte novo com válidade de 1 ano. Devolveram-me o antigo com suas páginas carimbadas com “CANCELADO”.

    E então descobri que não precisava ter feito nada disso. Vai ouvindo…

    Viagei então com 2 passaportes: o antigo, que expirava em 17/12/2007 (minha viagem é de 6/7/2007 até 4/8/2007, menos de 6 meses antes do passaporte expirar), e que contém o visto americano válido até 2013, e o novo, sem visto, mas que expira em 07/2008. O visto de um com a validade do outro me garantiriam a entrada nos EUA.

    Depois de 2 horas na fila da imigração no aeroporto de New York, perguntei a oficial que carimba o passaporte e efetivamente te deixa entrar no país ou não, se precisava ter tirado esse novo passaporte só porque o antigo vencia em menos de 6 meses, mas bem depois do término da viagem. Ela disse:

    Não é necessário fazer um novo passaporte se o primeiro não vence até o término da viagem e se contém um visto americano válido.

    Ela inclusive confirmou isso com outro colega carimbador. Observei ele abrir um arquivo para verificar.

    Reforçou afirmando que se minha viagem terminasse 1 dia antes do passaporte vencer, também teria me deixado entrar.

    Confirmei a mesma coisa com a companhia aerea, que sabe exatamente quem deve ou não deixar embarcar porque se der problema sera ela a culpada, multada e responsável por achar lugar num vôo de volta.

    Por que essa confusão acontece ?

    Tanto a agência de viagens como a Polícia Federal do Brasil me disseram que se o passaporte vence em menos de 6 meses “há grande probabilidade” de não entrar nos EUA, mesmo com visto válido. Esta informação é inexata e errada, não está escrita em lugar algum e é uma má interpretação de outra coisa: não se pode tirar um visto americano se o passaporte for vencer em menos de 6 meses conforme descrito no site da embaixada americana.

    Perdi um dia inteiro e cancelei compromissos desnecessariamente por causa de má informação da agência e da Polícia Federal do Brasil.

    Atualização de 30/4/2010

    O leitor Luciano Bastos achou no site da embaixada americana a seguinte pergunta e resposta:

    O meu passaporte brasileiro precisa estar válido por seis meses além da data de minha partida dos Estados Unidos?
    Não. Se seu passaporte não estiver válido por pelo menos seis meses a partir da sua data de saída dos Estados Unidos, isso não afetará sua viagem. Os Estados Unidos possuem um acordo com o Brasil pelo qual estendem automaticamente a validade de um passaporte para seis meses além da data de expiração desse passaporte.

    Isso é o ponto 34 na página de Perguntas Freqüentes sobre Vistos, no site da embaixada americana e significa que os EUA te deixarão entrar no país mesmo que seu passaporte expire em menos de 6 meses.

    Sonho acordado antes de viajar

    Não me interprete mal. É de insônia mesmo.

    Vou passar um mês a trabalho nos EUA, viajo sexta, e hoje descobri que meu passaporte vence em dezembro.

    Parece OK, mas estão me dizendo que preciso ter passaporte válido por no mínimo 6 meses. Até dezembro são 4.

    Então ou eu arrisco e vou com esse mesmo, ou viro minha semana de ponta-cabeça mais uma vez para tirar um passaporte em 2 dias.

    Em geral não sou ansioso para viajar. Sou do tipo que faço as malas 20 minutos antes de sair para o aeroporto, chego em cima da hora, não levo a farmácia na bagagem de mão, e na verdade só levo coisas na mão por que vão de carona com o laptop. Viajo light.

    Mas essas regras inexplicáveis de governos brasileiro e americano são o fim. E lá sei vai o meu sono…

    Viagem de Nerd

    Não é de hoje que vos digo que o Google Maps é o melhor site da Internet (depois de um blog ou outro).

    Pois bem, vou fazer uma longa viagem a trabalho para os EUA, com muitas cidades, muitos lugares para ir, vários hoteis, muitos aeroportos. E como todo bom nerd, estou posicionando todos esses pontos em um mapa pessoal.

    meu mapa pessoal

    Ainda mais nos EUA, que está inteiro semanticamente mapeado (na linguagem nerd: the country is entirelly geocoded). Assim posso traçar rotas e imprimir mapas personalizados e não mais quebrar a cabeça procurando os meus lugares em mapas genéricos.

    Não vivo mais sem o Google Maps.

    Pedágios Sem Fim

    Numa viagem de carro ida-e-volta São Paulo-São Carlos talvez gasta-se mais em pedágio do que em gasolina.

    São 2 x 230km = 560km. E de pedágios R$23.8 na ida e R$27.6 na volta.

    Ou seja, o usuário paga R$1 para cada 10.89 kilometros rodados nessas ótimas (porém caras) rodovias.

    Tentei descobrir a média de carros na Bandeirantes e Washington Luiz e assim calcular mais ou menos a renda da AutoBAn e Centrovias (respectivas concecionárias dessas estradas), mas isso parece ser uma informação confidencial, pois nem o Google acha nada. Nem no site da ARTESP — agência que regula transortes em São Paulo.

    A AutoBAn colocou no ar uma página de números das estradas, mas esqueceu o número mais importante: o de usuários que passam (e pagam) por ela.

    km 70 da Rod. Bandeirantes, agoraEu calculo que mais ou menos 10 mil carros passam por dia em qualquer trecho de 11 kilometros. Isso dá uma renda de R$10 mil por dia, ou R$300 mil por mês, para fazer a manutenção desses 11 kilometros. Isso me parece muito dinheiro para um trecho tão pequeno.

    Quando você pegar a bela Rodovia dos Bandeirantes entre São Paulo e Campinas, repare no enorme canteiro central entre as duas pistas. Nunca se perguntou o porquê de todo aquele gramado? Segundo um amigo, o jornal da época dizia que já que estavam abrindo terreno para a estrada, iriam também deixar espaço para um monotrilho de alta velocidade ligando as cidades. Assim, poderia-se morar numa cidade e ir rapidamente ao trabalho na outra.

    Mas pelo jeito o Poder Executivo falhou na execução desse projeto.

    Tanto que no recente pronlongamento da Bandeirantes, de Campinas a Corumbataí, já projetaram e construiram sem esse canteiro.

    Se esse monotrilho existisse, cidadãos como eu talvez tivessem a opção de morar no interior e trabalhar em São Paulo, deixando o carro em casa, diminuindo tráfego e poluição na capital.

    Mas o Poder Executivo não nos ajuda aqui.

    Margaridas do Japi

    Fomos novamente visitar as Borboletas do Japi. A mudança de clima não as mandou embora.

    A Figueira TortaDias lindos de inverno conferiram uma visão mais límpida e nítida da paisagem. Não havia nenhuma nuvem no céu, nos 4 dias do feriado prolongado.

    Somente Suzana estava no comando da fazenda desta vez e contou sobre seus projetos ambientais para a região. Despejou sua sabedoria, simpatia, alegria e experiência de vida por todos os hóspedes, e foi bom.

    As perfumadas flores do lírio do brejo — de origem africana, via tábuas de dormir dos navios negreiros — não resistem ao inverno e deram lugar a enormes margaridas amarelas e brancas.

    Fizemos desta vez um passeio mais curto com os cavalos, mas os belos animais nos agraciaram com uma corrida muito veloz no final.

    Suzana nos levou para conhecer outras trilhas com bosques largos no meio da semi-mata e plantações de eucaliptos, e também a impressionante Figueira Torta.

    A comida continuava abundante e boa. E agora preciso fazer um jejum radical de 20 dias.

    O TucanuçuNo sábado, várias crianças e seus pais vieram passar o dia e encheram o lugar com risadas gostosas.

    Um tucanuçu livre ficou se exibindo por horas a poucos centímetros de nós. Fiz longos filmes. Nunca vamos saber se nós estavamos a estudá-lo ou se era ele quem nos estudava.

    A Casa Gênio no meio da mata continuou nos servido muito bem. E fiquei feliz em saber que elas gostaram do que escrevi sobre a outra visita, e mais ainda, em saber que aquele texto lhes trouxe novos clientes que estavam lá.

    Adoramos novamente e não vemos a hora de voltar.

    O Sorriso do Gato de Alice

    Este post é só para mostrar como a Tatiana, minha namorada, escreve bem pacas.

    Ela é especialista em direito público, entre outras coisas, e foi para Angola ajudar a organizar o Ministério das Telecomunicações, num projeto de uma ONG sueca.

    Este foi um e-mail que ela mandou para todos nós contando suas peripécias, e um apanhado geral sobre esse país que é tão parecido com o Brasil, e sua capital Luanda.

    Luanda não é o que eu imaginava. Ou melhor, não é só o que eu imaginava. Tem um quê de Jardineiro Fiel, daquela Africa de National Geographic, com mulheres que são só curvas, vestidas com cores do Gauguin e que carregam alegremente um balde enorme de bananas sobre a cabeça ou o filho amarrado nas costas com um pano florido. Pobreza africana — mas quase nada de miséria, ao menos a vista e ao menos até agora — de esgoto nas ruas, poeira, cartazes escritos à mão e tudo por fazer.

    Mas Luanda tem também muito de Portugal e muito de Brasil. Há uma familiaridade em tudo, um pouco como se fosse em casa, um pouco como se fosse Salvador. A arquitetura colonial está lá, assim como as pastelarias com pasteis de nata e Santa Clara e um sotaquinho que lembra Camõesh. E essas caras conhecidas, caras de escravos que foram pro lado de lá, mas que continuam os mesmos como se as placas tectônicas tivessem se descolado 20 minutos atrás, separando as famílias aleatoriamente (isso é por causa do meu livro “tudo o que você sempre quis saber sobre o mundo e ninguém te explicou”, que acaba de falar sobre as placas tectônicas).

    Luanda não é Angola. A capital é completamente diferente do interior, pois não sofreu as conseqüências da guerra como o resto do país (os únicos confrontos que chegaram à cidade aconteceram em 1992, a guerra acabou em 2002). Um pouco como no Brasil, Luanda dá a frente ao mar e as costas ao país.

    Depois de ter sido comunista, decidiu-se pelo capitalismo selvagem. Há prédios e empreendimentos brotando em todo o lugar. Os carros estão em todos os cantos, todas as frestas, levantando uma poeira danada e mostrando quem manda aqui. Há congestionamentos quilométricos, mais do que a 9 de Julho na hora do rush (como se isso ainda existisse…). Carros enormes, sinal de que o petróleo e os diamantes estão fazendo uma classe de gente bem rica e outras de sub-ricos e subsub-ricos e assim por diante. E todos têm carros, já que o Estado permite a importação de carros usados.

    Coisa mais estranha, não há violência, segundo dizem os angolanos. Eles vivem querendo saber a razão pela qual o Brasil — que eles consideram um pouco como irmão — é violento. E eis que eu não sei responder.

    Assim como eles, tivemos uma ditadura, depois a ausência do Estado, grande exclusão e desigualdade social, violência histórica e racial, apropriação do público pelo privado, nenhum investimento em educação.

    Por que então a nossa sociedade de homens cordiais decidiu dar tão pouco valor à vida?

    Gente super gentil, sempre sorridente, incapaz de dizer não. Mesmo. Do tipo: você pede uma reunião e a pessoa diz “poish não, certamente”. Você pergunta se 9 da manhã está bom e vem um novo “maish claro”. Só que ela não disse que na verdade ela só entra no trabalho às 10, ou que amanhã não vem porque vai fazer as tranças do cabelo (essa da trança aconteceu mesmo). Só porque não quer te desagradar, afinal a tal da reunião parece tão importante para você… Então você fica esperando umas duas horas e aí ela chega feliz porque não te contrariou. Tô me identificando pacas.

    No trabalho. O Ministério fica em um antigo prédio colonial português a beira-mar. Bonitão. Ficamos no primeiro andar, mas não podemos usar a escada (em madeira antiga escura, com um tapete vermelho) porque ela é reservada para o Ministro. Tem que subir de elevador. Só que o Ministro, quando vem, pega o elevador em vez da escada… Depois conto do nosso exército de Brancaleone aqui, mas eis a moral da história: é tudo uma questão de inteligência emocional.

    Poltergeist de hoje: estou eu atravessando a rua (depois de meia hora ensaiando) quando vejo que o carro que parou para eu passar não tem ninguém no volante. Estarrecida com o fato sobrenatural, dou uma olhada apertada no vidro um pouco escurecido. E eis que está lá, boiando sozinho no preto do estofado, um sorriso. O sorriso do gato de Alice…

    Borboletas do Japi

    A 40 minutos de São Paulo está um dos melhores lugares para se passar um feriado: Fazenda Montanhas do Japi. E foi justamente nesse ótimo hotel fazenda que passamos a última Páscoa.

    Encrustado nos pés da área de preservação da Serra do Japi, é longe o suficiente para abafar o barulho da cidade, e perto o suficiente para não haver desculpas nem dramas para cair na estrada. Logo ali, em Jundiaí.

    (interaja com o mapa para conhecer a região)

    O hotel fazenda é um complexo de 8 lagos rodeado por morros de mata virgem e flores perfumadas. É muito bem cuidado, com bosques de árvores, campos de grama aparada e borboletas, muitas borboletas. Uma visão bucólica do paraíso.

    Casa principalA Casa de Pedra é a principal e tem uns 3 quartos para hóspedes, lounge, lazer, etc, e fica na subida de um morro, de frente para o lago principal, o que lhe confere uma bela vista de contemplação. Mas ficamos na Casa Gênio, afastada uns 400m (veja no mapa) e praticamente no meio do mato, com 2 suites, sala, cozinha e varanda, cujo caminho até a casa principal passa por um bosque de amoreiras, com borboletas por toda parte.

    Suzana e Hanah lideram tudo não como donas de uma pousada, mas como anfitriãs em sua sala de estar, almoçando junto e contando as histórias de gerações passadas da família e da fazenda, a relação da região com a cultura da uva, e depois eucaliptos, etc.

    A casa principal foi construída sobre ruínas seculares de jesuítas. Para evitar intervenções de estilos muito contrastantes, toda a arquitetura nova é rústica, mas com um inconfundível toque feminino e confortável. As constantes borboletas dão o toque final ao visual leve e colorido.

    Trilhas na mataPara os aventureiros há as trilhas por dentro da Serra do Japi, beirando rios de águas cristalinas, árvores primárias, perdendo-se e achando-se ao sair em outro ponto inesperado da fazenda, despreocupadamente, guiado pelas infindáveis borboletas.

    É tão perto que no sábado chamamos os amigos de São Paulo para virem almoçar e passar o dia, nadar no lago, remar no caiaque, andar a cavalo, contemplar as borboletas na paisagem florida.

    É tão longe que a noite vimos um céu escuro e estrelado, típico dos lugares afastados. Aí a lua cheia logo nasceu e mandou as estrelas embora. Mas no dia seguinte, as borboletas continuavam lá.

    Os bons cavalos nos levaram ao topo de um morro cuja paisagem lembrava Stonehenge. Muitas rochas. E borboletas. E o Pico-do-Jaraguá lá longe.

    As redes sob os eucaliptosFazer três refeições daquelas por dia era desencorajador para nós, visitantes deslumbrados com a leveza de tantas borboletas. No café da manhã, além dos bolos e pães caseiros, deixavam umas chapas de ferro sobre o fogão a lenha para prepararmos nossos próprios sanduíches ou panquecas. Tinha que preparar sempre dois: um para matar a fome e outro para exercitar a pretensão de sanduicheiro-chapeiro-cozinheiro.

    O almoço era concorrido com quem só vinha passar o dia, mas ao sentarmos nas mesas da varanda alta, contemplando os lagos e as borboletas, tudo se acalma. Se demandávamos demais do almoço, as redes de balanço sob o bosque de eucaliptos gigantes nos chamavam para um cochilo. Quanto mais altos, mais sensíveis são os eucaliptos às brisas que vem e vão, e juntos formavam o sonoro coro da canção de ninar que combinava com a rede.

    Mesas na varanda altaO sino do lanche da tarde nos despertava, e aí as estrelas eram o suco de erva cidreira e a torta de banana com aveia.

    À noite prometíamos tomar só uma sopa, mas não dava para resistir. A situação se complicou no sábado à noite: o forno de pizza estava quente, e a pretensão de cozinheiro pôde novamente ser exercitada ao montar as deliciosas redondas. Era a última noite.

    No domingo choveu como o batismo dos céus. As borboletas foram se esconder, mas não por muito tempo. Logo voltaram.

    Mas já era hora de partir. O consolo ao voltar para São Paulo era o céu de um cinza homogêneo e denso como uma redoma, mas às seis da tarde o sol atravessava-o por baixo alaranjando toda a cidade. Era um lindo jogo de contrastes brilhantes e cinzentos que fez surgir um arco-íris intenso estampado sobre o cinza. Pudemos vê-lo inteiro, de ponta a ponta. Cena de rara beleza na cidade.

    Naquela hora, já em São Paulo, lembramos das borboletas. E sentimos saudades delas.

    (fotografias e seus autores estão no site da fazenda)

    Abraço dos Dois Irmãos

    Sol atrás dos Dois IrmãosDescolei umas horas livres no fim da tarde, na praia de Ipanema.

    Mergulhei perto do posto 8, no Arpoador. O mar estava pouco agitado mas muito gelado. Brrrrr: águas oceânicas.

    O horário de verão terminou final de semana passado, então acho que estamos no outono. Nesta época o sol se põe exatamente atrás do Morro Dois Irmãos, que marca o fim do Leblon e o começo do Vidigal.

    Conforme o sol ia baixando, formava dois enormes braços de raios com a sombra do morro no miolo. O efeito era os Dois Irmãos abraçando a cidade. Muito bonito e inspirador. E pelo jeito a cena já serviu de inspiração para outras pessoas.

    Centro do mapa
    no mapa
    Morro Dois Irmãos
    no mapa
    Posto 8
    no mapa
    Arpoador

    Enquanto assitia aquilo, parado, de pé no calçadão, pessoas passavam por mim. Um rapaz com camisa verde-amarela, andando de costas para o morro, tascou o último naco de seu espetinho-de-gato, e, exatamente em frente a um cesto de lixo grande, laranja e chamativo, lançou o espeto vazio ao ar. O espeto caiu na areia, e o papel que o envolvia foi para a calçada. Ele fez questão de não mirar no cesto !

    O que faz um ser humano ter tal atitude? Ô povinho! Acabou com minha contemplação…

    Mesmo assim o Rio de Janeiro continua lindo.

    A Paradise on Earth

    Last weekend we traveled to the Paraty bay area, a place that I visit since I was a kid. But this time was very special because I knew a new paradise: Saco do Mamanguá.

    They say there is only one fjord in Brazil, which is the Saco do Mamanguá. To get there we traveled by car to Paraty Mirim, then took any traineira (a small and slow fisherman’s boat) that was siting on the beach waiting for tourists. You don’t have to setup an appointment or pay in advance. Just go. They use to charge R$35 per hour, for any number of persons up to about 10. We did everything in 4 wonderful hours.

    Mamanguá is an 8km-long arm of the Atlantic ocean, far enough from Paraty to look as an almost untouched paradise. It has small clear water, isolated beaches, perfects for snorkeling, or simply for relaxing. In addition we were blessed by a beautiful shiny day, thats why I can’t avoid using the “paradise” word all the time.

    The whole region deserves a visit, and thats why I’m writing this in english, to inspire non-brazilian folks come visit my beautiful country. But instead of a stream of words I invite you to explore the interactive map below. Click on the markers () to see more information and local photos.

    Center of map
    map
    Saco do Mamanguá
    Saco do Mamanguá
    map
    Paraty Mirim. A small and old village 18km far from Paraty. This is where we met Nelson and his “traineira” to take us to Saco do Mamanguá.
    map
    A typical building in Paraty
    A typical building in Paraty
    map
    Le GiteFazenda Graúna. Go to Le Gite D’Indaiatiba, a beautiful pousada and restaurant by Olivier and Valerie. This restaurant is very expensive (about R$150 for two, no wine), but very good too. This place is in higher altitudes so in clear sky days you can have lunch contemplating the wonderful ocean down there.
    map
    TrindadeTrindade and Laranjeiras. Trindade was a small fishermen’s village that turned to be a place that many hippies go nowadays. Larangeiras is a village of very expensive and big cotages.
    map
    Ilha do Algodão.
    map
    Exit from main road (Rio-Santos, BR-101) to the road that takes to Paraty Mirim.
    map
    Fazenda São Roque. There is nothing here, not even a good beach, but this is where I use to stay when I go to this region. No hotels nor pousadas.
    map
    Thermonuclear power station of Angra dos Reis
    Thermonuclear power station of Angra dos Reis.
    map
    TaritubaTarituba. Used to be a small village and beach where simple fishermen live and work. They still live there, but all their wives opened simple restaurants along the shore and around. Due to the excess of fishermen boats (called “traineiras” in portuguese) this beach is dirty and not apropriate for swiming. Nowadays you may find some nightlife in Tarituba on weekends or holydays.
    map
    Mambucaba. This is well organized village built for the engineers of the Angra Dos Reis’ thermonuclear power station. It has the most beautiful beach on the region, with clear waters. This place is almost outside the bay so you will find surfists riding the waves. This beach is always full of young people.
    map
    Ilha do BreuFazenda São Gonçalo. A private farm with a calm beach, good for children, easily accessible only from certain points. You’ll find places to park your car and walk for 3 minutes to the beach. If you want, you can pay R$7 per person to a fisherman and he’ll take you and your family to the Breu (the picture) or Pelado island, right in front of the beach. You will stay on clear water beaches with big stones full of aquatic wildlife. Bring your diving mask and snorkel. There is also a rustic restaurant there, where you can chill out having a caipirinha de maracujá (passion fruit caipirinha) or água de côco (coconut water) with fried fish. Don’t miss their mandioca frita (mandioca is something similar to a potato but only available in Brazil).
    map
    The Iriri waterfallsCachoeira do Iriri. Coming from Paraty to Rio, right before the São Gonçalo farm complex, there is an almost unaccessible beach that you will see from a hill on the road. A reference is a red and huge cellular antena. On the other side of the road there is a bus stop and a trail into the forest. A 3 minutes walk will take you to a beautiful clear water river with a natural pool and waterfalls. You will see a closed house but you are not transpassing. Just chill out there the whole afternoon after the beach. You can stay under the waterfall to heal your backs. If you feel adventurous, look for a jungle trail right on the side of the pool, going uphill. It will take you to the second floor of rocks, but there is nothing there. Keep on going up until you find the river again on the third floor. Look down and you will see your non-adventurous friends that stood on the first waterfall. Say hello and goodby, because we are not finished. Walk by the river for 3 minutes until you see a huge natural water pool with another waterfall. You’ll be probably alone there. This is a window to paradise. Just don’t miss this point.

    Other things to do

    • Walk around in old Paraty area and remember that you are visiting one of the eldest places in Brazil. Enjoy the rich nightlife with live music. The city is always packed by tourists from all parts of the world.
    • Have a light vegetarian meal in the Ganges, close to the famous Pousada do Sandi. Or choose one from the tons of restaurants around. In Paraty you should have seafood.
    • Have an icecream in a place called Sorveterapia. The owner is a sort of researcher in the art of icecream making, and has developed a very light and natural formula to produce it. Very unexpensive too.
    • Going north on the BR-101 road (also known as Rio-Santos) you will find many beaches. The most important ones are marked on the map. Ask also about the big number of waterfalls. Some of them you can see from the road, coming down the mountains big and white. My preferd is Cachoeira do Iriri, hidden but marked on the map.
    • Going south thowards Ubatuba there are some famous beaches too, as Prumirim, Ubatumirim, Almada, Praia Vermelha, etc. But I don’t use to go there very much: the closer you get to Ubatuba, the crowder will be.
    • If you have an off-road car or jeep, leave Paraty to west, towards Cunha, through the old way. There are some more waterfalls on the go, nice handcraft shops, restaurants and amazing tropical landscapes. Cunha is known as home of excellent ceramicists, so look for their studios. Have a meal in the Restaurante Uruguayo.
    • You will see a lot of rain in all that region too, almost every day. This is a bless that you should contemplate quietly. The rain smells absolutely delicious over there.

    Ponto de Luz

    Queda d'água na pousadaDias atrás tirei umas férias curtas e resolvi conhecer o legendário Ponto de Luz, pousada zen na Serra da Mantiqueira, quase divisa entre São Paulo e Minas.

    A viagem foi fácil, pela Rodovia Fernão Dias. Depois, uma bela estrada até Joanópolis e depois uns 19km de estrada de terra até a pousada. Este último trecho tem belas paisagens rurais de colinas, pomares e criação de gado. Há bastente gente morando ao longo da estrada. Havia muitas bifurcações e encruzilhadas, sempre sinalizadas com o caminho a se tomar para chegar a pousada. Saí às 11:00 de São Paulo e cheguei umas 13:30, prontinho para almoçar.

    A pousada é propositadamente rústica-chique, como tantas outras por alí, em São Francisco Xavier, Gonçalves, Monteiro Lobato, etc. Como a região é montanhosa, é também cheia de rios, e a propriedade era cortada pelo Ribeirão da Vergem Escura (afluente da bacia do Rio Piracicaba) cujas pedras formavam um grande poço que convidava para um banho. Nos dias em que estive lá, a água estava um pouco barrenta por causa das chuvas, mas em outras épocas o rio tem águas cristalinas. Há um belo caminho aberto até o rio, e perto da margem colocaram uns assentos que serviam para nada além da pura contemplação da natureza.

    Centro do Mapa
    no mapa
    Hotel Ponto de Luz

    (interaja com o mapa)

    Rede na varanda do quartoA grande sacada do arquiteto foi construir a pousada na encosta do morro. Isso funcionava bem para dar vista alta, de qualquer ponto da pousada, para o outro lado do rio e para colinas verdejantes e arborizadas. Inclusive do refeitório e da varanda dos quartos com sua rede de balanço.

    E falando nisso, a comida era bem simples mas muito gostosa, essencialmente vegetariana, às vezes com uma opção de frango ou peixe. Sempre havia sobremesas dietéticas. O serviço era ótimo, atencioso, e a inclinação exotérica da pousada parecia plantar uma consciência holística nos funcionários.

    Só o preço foi na minha opinião um pouco além da conta. R$204 pela diária, incluindo as 3 refeições mais o lanche da tarde. Por pessoa. Estou acostumado a viajar pela região e sei que os preços não são bem esses. Mas calculei que no valor há uma boa lapa de moda de turismo exotérico. Aí fiquei surpreso que no final ainda me convidaram a pagar 10% de taxa de serviço opcional que é dividida entre os funcionários no final do mês. Argumentei que a pousada como um todo já era um serviço, e que não fazia sentido uma taxa de serviço sobre um serviço que por sinal já estava bem pago. Acabei sucumbindo porque continuar a discussão ia ser constrangedor para a situação. Terminou mal explicado.

    Havia uma agenda de atividades diárias, com caminhada leve de manhã, algum tipo de hidroginástica antes do almoço e meditação no fim do dia, logo depois do lanche da tarde. Experimentei lá, pela primeira vez, a meditação dinâmica, especialmente desenhada para pessoas estressadas da cidade grande, como eu. Bem legal. Mas, como toda meditação, exige disciplina para se fazer todos os dias. No segundo dia meditamos num pequeno templo charmoso, construido a toque de caixa para a visita de um guru indiano.

    TerapiasDepois da meditação dava um pulo na piscina aquecida onde ficava de molho até a noite. O clima não estava convidativo para a piscina aberta e fria. O resto do tempo passava na rede da varanda do quarto, lendo, ouvindo música e observando as colinas tranqüilamente. Ou dava uma olhada na lojinha anexa, cheia de coisas no melhor estilo “além-da-lenda” (a coleção de CDs para vender era ótima, e levei alguns títulos). Ou ainda pode-se fazer uma das terapias e massagens disponíveis em seu cardápio de serviços, cobrados a parte, claro. Nos finais de semana parece que há palestras e atividades musicais, mas infelizmente não pude ficar para ver.

    O pessoal da pousada conta que há hóspedes que reclamam que não há “nada” para fazer lá, nem telefone, nem TV, e acabam fugindo de volta para sua cidade agitada.

    Bem, eu não sofro desse mal e ficaria lá pelo tempo que fosse, porque o Ponto de Luz é um lugar de paz contemplativa.