BrOffice Chega ao Varejo

Ia a um grande hipermercado na região da avenida Pacaembú em São Paulo quando me deparei com essa loja de Internet no estacionamento. A palavra “compatíveis” me chamou a atenção.

BrOffice em Cybercafés

Entrei para perguntar.

  • — Companheiro, o que é esse Word compatível ?
  • — Ah, é um programa aí que é compati…
  • — Tá, mas qual é o nome desse programa?
  • — É um que chama BrOffice.
  • — Muito obrigado. Tchau.

Se um cybercafé — que ganha a vida só com esse tipo de serviço — pode ser independente o suficiente a ponto de usar somente BrOffice, qualquer um também pode.

Você, usuário de alguma suite de escritório paga, te desafio a usar BrOffice.org, Symphony, Lotus Notes 8 ou qualquer outra suite baseada no OpenOffice.org por duas semanas e ver como se sai.

Mandando Ver no Pilates

Acabei de voltar de uma super aula de Pilates !

Não iria fazer vocês, caros leitores, perderem tempo em ler um post sobre isso, se Pilates não fosse algo realmente sensacional.

Uma aula de Pilates

Quando perguntei para a minha namorada qua ktsu era esse negócio de Pilates, ela explicou da forma mais sucinta e precisa possível: é um tipo de yoga ocidental.

Eu sou o maior sedentário de todo o universo conhecido, mas depois de treinar quase desleixadamente por uns poucos meses, sinto me mais forte, fisicamente equilibrado, mais fino, mais forte, mais conciente do meu corpo e com mais vontade da fazer mais.

Funciona assim: faço uma aula por semana, com um professor dedicado para mim e isso me dá deireito a mais uma aula de match, que é grupal, com outros tipos de equipamentos. Então acabam sendo +/- duas aulas por semana.

O foco do Pilates é nos músculos ditos mais importantes do corpo: a barriga e as costas. Se você não os tem, não tem nada.

Pilates tem a ver com cair fichas. Cada professor tem um estilo próprio, foca em pontos sutilmente diferentes e lá vai mais uma ficha caindo. As vezes, parado no meio do corredor e conversando com alguém no trabalho, a simples posição parada, de pé, faz cair outra ficha porque agora meus músculos tem outros estímulos. Essas fichas tem a ver com posições que cansam menos, com músculos que nem sabia que tinha, etc.

Para os sedentários é no mínimo mentalmente muito interessante, e altamente recomendável. Por um sedentário assumido e incorrigível. Bem, quase incorrigível.

Homembit e Seu Novo Blog

Homembit parece nome de super-herói.

Apesar de isso só existir em quadrinhos, há um Homembit circulando entre nós e seus atos tem sido bastante heróicos ultimamente.

Estamos falando de Jomar Silva, diretor da ODF Alliance Brasil, pessoa com quem tive o prazer de trabalhar em diversas frentes, principalmente na saga da definição do voto do Brasil/ABNT no caso OpenXML.

Ele acabou de migrar seus pensamento para algo que finalmente podemos chamar de blog. Como de costume, seu feed está exposto na minha barra lateral e sugiro assinarem.

Se vocês achavam que o meu blog era fonte para as últimas novidades de ODF e padrões, esperem só até ver o dele. Um dos posts mais chocantes ainda está na primeira página, sobre o real compromisso da Microsoft com o OpenXML.

Chico Buarque e Seu Tanto Mar

Quem é que já foi ao bar Bom Motivo em São Paulo e não ouviu a canção Tanto Mar de Chico Buarque? O público no bar se empolga e bate palmas sincronizadamente durante a música. Coisa que só se vê lá.

Este é o video da música:

Poucos sabem que essa canção, que parece ingênua e alegrinha, parabeniza Portugal pela sua Revolução dos Cravos que derrubou a ditadura daquele país.

A letra foi censurada no Brasil porque ela é claramente uma nostalgia antecipada desejando que o mesmo acontecesse por aqui, bem no meio do nosso período de ditadura.

A versão que ouvimos em todo lugar tem uma letra atualizada de um período pós-ditadura. Mas a nostalgia ainda está lá: “Foi bonita a festa pá, fiquei contente. ♫ Ainda guardo renitente um velho cravo para mim. ♫ ”

Segue a letra original da canção, censurada e rara no Brasil.

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo pra mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também que é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

Se você for ao Bom Motivo, se o Luiz estiver ao violão, se tiver sorte, ele vai tocar a versão censurada da canção. Se não tiver sorte, tu podes protestar e pedir que ele toca.

Linux por todo lado

Seguindo o espírito de bisbilhotar os sistemas alheios, este feriado observei mais algumas novidades:

Sabrico Volkswagen
Ajudando minha namorada a comprar carro, observei o uso do emulador de terminal seguro PuTTY na loja da Sabrico. Parece que o sistema de estoque e preços deles é centralizado e acessado por SSH. Apertando o olho em partes da tela, uma barra de status mostrava o logon do vendedor e a palavra “LINUX”, provavelmente para indicar a plataforma daquela sua versão do sistema de gestão. Ou seja, esse sistema crítico roda em Linux na Sabrico e é acessado com segurança usando tecnologias Open Source: SSH.

Hospital São Luiz
Encontrei com um amigo antes de uma aula de Yoga. Começou ter dores fortes e acabei levando-o ao pronto socorro do hospital. Como não tinha muito o que fazer, observei novamente o uso do PuTTY nos PCs da sala de enfermagem. No conteúdo da tela não havia muitos indícios de o servidor acessado rodar Linux, mas julguei que a probabilidade era altíssima. Outra coisa que me chamou a atenção foi o nome do servidor acessado pelo PuTTY: SRVIBM. Mais chance ainda de ser Linux, porque todos os servidores da IBM suportam este SO. Agora, há uso mais crítico para Linux do que em um renomado pronto socorro ?

Houve uma época em que empresas gastavam fortunas com licensas de emuladores de terminal, para acessarem seus servidores UNIX. Ah, e eles eram inseguros e sem criptografia, usando telnet puro e simples. Hoje Open Source está, com segurança, de ponta a ponta: do servidor ao emulador. Soluções de segurança são importantes o suficiente para terem que ser um commodity: devem ser baratas e fáceis de usar por toda parte. E o movimento Open Source tem o mérito de ter barateado e “commoditizado” esse mercado.

Parabéns às duas empresas !

E você? Onde mais tem visto o uso de Linux?

BlogPlex IBM

Tenho lido os bloggers da IBM todos agregados em um BlogPlex. Tem um time fera ali:

  • Cezar Taurion. Analisando com insights refrescantes simplesmente tudo o que acontece em TI. Open Source, Second Life, Web 2.0, Grid, Mobilidade, ODF.
  • Mario Costa. Web 2.0, colaboração e ferramentas, ODF.
  • Carlos Sena. Web 2.0, colaboração, ferramentas para gerir portais e dicas muito interessantes.
  • Edson Oliveira. Ferramentas Lotus.
  • Avi Alkalay. Eu pego carona na sabedoria deles e falo de mais de tudo um pouco. A facção TI do meu blog é agregada no BlogPlex.

Não deixem de conferir.

Cerveja Que Late Não Morde

Ainda da série traduções espetaculares, tem também esta foto de um cardápio onde o proprietário do estabelecimento se preocupou em traduzir algumas palavras para que turistas não se percam. Não sei se funcionou.

Cerveja que late

Juro que não coleciono essas coisas. Simplesmente aparecem na minha frente.

Esta, um amigo que acabou de voltar do Nordeste me mandou. Segundo ele, é do cardápio do restaurante Canion, na praia de Coqueirinhos, localizada ao sul de João Pessoa, Paraíba. Devem ter usado essas ferramentas de tradução online.

Coloque-se no lugar de um turista que não fala português e vai ler este cardápio. Acho que eu sairia correndo.

Linux no SERPRO

Não é novidade para ninguém que o SERPRO usa Linux massivamente.

Mas só para constar, hoje fui na unidade de São Paulo e logo na recepção, o PC da moça do cracha rodava Linux. Bisbilhotando a tela, vi no taskbar o Firefox, Thunderbird e a aplicação que cadastrava visitantes rodava dentro do Lotus Notes, tudo sobre Linux e KDE.

Na sala de conferências, o PC disponível para os apresentadores também rodava Linux e as apresentações eram esperadas no formato ODF.

Parabéns SERPRO.

Voltando às Raizes na UNESP Rio Claro

Tive a honra de ser convidado a palestrar sobre ODF no SECCOMP — evento de TI da UNESP Rio Claro. A coincidência é que eu mesmo me formei naquele curso, naquele campus, 12 anos atrás.

Já rodei o Brasil visitando diversas universidades de tecnologia e é bom ver como o nível do curso de Ciências da Computação da UNESP Rio Claro ainda está entre os mais a altos do país, ainda mais nesses tempos em que universidades (particulares) aceitam alunos sem nem sequer prestaram vestibular.

No meu tempo, o campus era conhecido por seu enfoque em hardware e robótica. Hoje os alunos mostravam cartazes sobre diversos trabalhos orientados a Web Services, posicionamento geográfico, aplicações distribuidas, mídia, etc.

Os alunos nem sabiam do antigo e esquecido foco em robótica. Tudo mudou porque entre o meu tempo e os dias de hoje, houve um divisor de águas gigantesco: surgiu a Internet, que aumentou o interesse em padrões, interoperabilidade etc.

A palestra foi sobre o Formato OpenDocumet e muitos alunos já conheciam e estavam engajados nesse assunto. Foi legal conectar idéias de ODF com a Web 2.0, evolução das comunidades e Open Source.

A certa altura, perguntei no auditório quais linguagens os alunos conheciam. Fiquei pasmo em observar que a linguagem oficial ainda é Pascal estruturado. É claro que os autodidatas depois (ou antes) se aventuram por C++, Java e outras.

Mas em pleno 2007, época em que Programação Orientada a Objetos reina absoluta em qualquer ambiente de desenvolvimento profissional, o primeiro contato dos universitários não pode mais ser só com Programação Estruturada. Hoje, POO já tem novos aliados como Programação Orientada a Aspectos e outras.

Isso é na verdade culpa da grade aprovada no MEC ou outras burocracias deste tipo. Para mudá-la, os estudantes devem se unir, tomar a mão dos professores e pedir a mudança dessa grade.

Vamos fundar o movimento Crie Objetos Já !

Jogo Sobre !

Adivinha qual é o texto que aparece quando você perde o jogo Brick Breaker em um Blackberry 8700 configurado em Português ? Blackberry 8700

Vou dar outra chance, para você ver mais de perto.

Se te pedissem para traduzir “Game Over” ao pé da letra, palavra por palavra, o que você diria?

Jogo Sobre !

Game Over:Jogo Sobre

Apesar do FUD na Mídia, ODF Está Vencendo

Graças a algumas notícias rasas e um tanto irresponsáveis que andaram saindo na mídia brasileira e internacional sobre um tal “abandono do ODF pelos seus criadores”, algumas pessoas ficaram confusas. Saibam que é tudo distorção de fatos.

Aconteceu que a OpenDocument Foundation, que não criou o ODF, começou a se interessar por uma tecnologia do W3C chamada CDF, que é interessante mas bastante imatura ainda. Fiz uma análise mais técnica no post anterior.

Jomar — o homembit — da ODF Alliance Brasil também fez alguns comentários em um artigo na SoftwareLivre.org e em seu blog.

Nos e-mails que andaram circulando por aqui sobre o assunto, um bem interessante foi o do Roberto Salomon, integrante ativo da ONG BrOffice.org, que me liberou um Ctrl-C+Ctrl-V para cá.

De: Roberto Salmon (Arquiteto de TI na IBM Brasil e integrante do BrOffice.org)
Data: 05/11/2007 15:03
Assunto: Re: ODF abandona apoio a padrão próprio

Li essa notícia mas não fiquei tão surpreso quanto outros com a súbita mudança de opinião da OpenDocument Foundation. Em especial com o novo posicionamento do Gary e do Sam (com quem troquei muitos e-mails no passado). Acho que no novo posicionamento reflete um ressentimento pessoal e não uma posição técnica.

Apesar do nome, a OpenDocument Foundation foi criada para acobertar um projeto comercial que seria constituído no plug-in “DaVinci” que seria capaz de dar ao MS Office a capacidade de ler e gravar arquivos ODF de forma transparente e com total fidelidade de formato. Este plug-in foi anunciado, alardeado mas nunca mostrado e nem teve o seu código liberado.

Em pouco tempo, no entanto, o Sam descobriu que não havia financiadores disponíveis para custear o projeto. Os grandes, em especial a Sun, ou se posicionavam por um modelo 100% ODF nativo ou produziram seus próprios plug-ins. Estas ações derrubaram a possibilidade da OpenDocument Foundation se estabelecer como a referência para a conversão de documentos.

Apesar do nome, a OpenDocument Foundation nunca foi uma organização oficial do ODF. Lembre-se que o padrão é mantido pelo Consórcio OASIS e não pela fundação.

A declaração do Gary, citada como sendo “A verdade é que o OpenDocument nunca foi concebido para atender às exigências de mercado”, na verdade foi a de que o ODF não foi pensado para atender às exigências de interoperabilidade impostas pela Microsoft com a sua “convergência” para o OOXML. Isso é fato. A função do ODF não é ser compatível com o MS Office, na verdade, o ODF deve ser implementado por produtos e não se dobrar às peculiaridades de cada fornecedor de software.

Dizer que o ODF reflete a maneira como o OpenOffice.org faz as coisas é no mínimo desconsiderar os anos de discussão onde Boeing, o Estado de Massachussets, IBM, Sun e outras entidades definiram o que hoje é o ODF.

Infelizmente, acho que esta nota é o canto do cisne de quem já foi um grande incentivador mas que resolveu sair atirando por não contar mais com apoio nem da comunidade nem das empresas que um dia lhe deram atenção.

Só complementando, o Rob Weir tem um comentário que vale a pena no seu blog: http://www.robweir.com/blog/2007/10/cracks-in-foundation.html

Um apelo à mídia: por favor exercitem sua responsabilidade tradicional que sempre demonstraram e pesquisem mais sobre o assunto, ouvindo outras fontes e outras opiniões antes de escrever algo tão sensacionalista como aquela matéria.

iPhone no Brasil

Parece que o iPhone está invadindo o Brasil. Não há acordos comerciais entre Apple e AT&T que segurem o desejo das pessoas por objetos de desejo. E cá entre nós, o iPhone é um objeto de desejo responsa.

Já vi alguém ostentando um em um restaurante, outro de um amigo arquiteto que comprou nos EUA e mandou desbloquear por R$200.

E hoje mesmo no trabalho um aficionado me mostrou seu novo iPhone de 8GB que comprou por US$299 e desbloqueou sozinho com um certo software chamado anySIM. Contou que há alguns métodos de desbloqueio, todos gratuitos. Há também um tipo de serviço pago que garante desbloquear sempre que houverem atualizações de firmware.

Na hora do almoço flagrei uma colega nada geek saindo do elevador com um iPhone na mão. Certeza que foi o marido geek dela que desbloqueou.

Não é a toa que o primeiro presidente da IBM — Thomas Watson — já dizia “Good Design is Good Business” incentivando edifícios com boa arquitetura etc. A Apple investiu todas as suas fichas em usabilidade e produtos muitíssimo bem acabados e conquistou o mundo.

Semanas atrás foi anunciado que a Apple atingiu um valor de mercado maior que a própria IBM.

Sorveteria Frutos do Cerrado em Goiânia

Depois você me diz se isso é uma dica quente ou bem gelada.

Passando por Goiânia, não deixe de visitar a Sorveteria Frutos do Cerrado. Começaram fazendo picolés caseiros de frutas da região e acabou virando uma cadeia de lojas.

O sorvete é excelente, feito com muita polpa da fruta. O de graviola foi o mais lotado de graviola que já provei. Há também o de gabiroba, pequi, buriti, jaca, cajá com sal e outras frutas que nunca ouvi falar. Provei também um Romeu e Julieta feito com queijo mesmo. Bem interessante.

Ainda bem que vi a sorveteria em um dia e fui conhecer só no outro, preparando-me com um jejum de almoço a fim de traçar uns 8 picolés. A sorveteria é mesmo um ponto turístico.

Além do mais, Goiânia está muito bonita. Flamboyants frondosos e floridos disputam espaço com centenas de mangueiras carregadíssimas. O povo é aberto e simpático e as mulheres são lindas e de tirar o fôlego.

Vale uma visita, principalmente se você for solteiro.

Um Dia de Caos Aéreo

Acordei pouco antes das 6 da manhã, engoli o café e desci para encontrar com o taxista marcado às 6:50.Pegamos um trânsito caprichado e chegamos 7:35 em Congonhas.

O vôo da Varig sairia às 8:35 para pousar 9:20 em Santos Dumont. Vôo curto e rotineiro. Mas Santos Dumont estava fechado por mau tempo no Rio e o avião que nos levaria estava preso lá.

Colocaram-nos no primeiro avião possível e finalmente decolamos umas 9:45 para pousar no Galeão.

Minha agenda era uma reunião preparatória de manhã na IBM para deslanchar um projeto na reunião da tarde em outro lugar. Atrasar a primeira não era o fim do mundo. A segunda era a importante.

No Rio só chuva, não daquelas de cair o mundo, mas das que chove constantemente por horas sem fim. Alagou tudo, fechou o túnel Rebouças e a cidade parou. Por telefone, alguns cariocas me disseram que aconselhavam não sair de casa.

A Varig anunciou que um ônibus nos levaria do Galeão p/ Santos Dumont, mas não vi nenhum sinal. As companhias de táxi de guichê exibiam uma placa escrita à mão: ESTAMOS SEM CARROS. A fila do táxi de rua no desembarque estava cheia de gente e desolada de carros. Eu que sou manjado de aeroportos subi até o embarque e esperei 1 minuto até um dos táxis amarelinhos descarregar alguém.

Às 11h estava saindo do Galeão rumo ao Botafogo.

Combinei o almoço por telefone mas gastei 1h no carregado trajeto entre a Ilha do Governador e a Praça da Apoteose, perto do centro do Rio. Das vias elevadas via-se várias ruas alagadas e carros parados. O rádio, de tempos em tempos, dava informações desesperadoras sobre o trânsito.

Perto do centro me avisaram que a reunião foi cancelada por causa do caos. Ter acordado de madrugada, tomado vôo, gastar mais de hora no trânsito, ficar sem almoço, de repente ficou sem propósito.

Pedi ao taxista dar meia volta e me levar de volta ao Galeão. Ainda bem que não havia trânsito para voltar.

Cheguei no aeroporto umas 13h, pedi para me colocarem no próximo para Congonhas e 13:40 estava com o bilhete das 14h na mão.

Almocei um Cheetos enquanto passava pela fila da segurança extremamente ineficiente da Infraero do Galeão. Formavam fila única a metros de distância e seguravam as pessoas enquanto cada passageiro era atendido. Durante os metros de caminhada da boca da fila à boca do raio-X, o segurança, seu auxiliar e a máquina ficavam ociosos. Some esses segundos ao final de um dia e terá horas de diversos desperdícios.

No gate, o vôo já tinha saído e começou um pequeno tumulto porque diversas pessoas não ouviram o chamado. Íamos pegar o próximo que pousaria às 14:30 mas que só pousou umas 15 e pouco.

Enquanto isso, fui traçar o pior sanduíche natural de atum de todo o universo conhecido. Era só maionese e pão velho por R$5,50.

Acabamos embarcando só umas 15:40. Seguraram mais um pouco o avião para pegar os passageiros de uma conexão de Caracas o que aumentou ainda mais o nervosismo de algumas pessoas cujo vôo original era às 7:10 da manhã.

Quando todos estavam embarcados e acomodados, o comandante anunciou que Congonhas — nosso destino — havia fechado por mau tempo. Então alguns cariocas desistiram e saíram do avião. Sorte deles que ainda não tinham saído de sua cidade.

Pessoas gritavam sugerindo descer em Cumbica, mas minutos depois o vôo foi liberado para Congonhas. Vai entender. Decolamos 16:40.

Pousamos 18:05 porque ficamos uns 40 minutos dando voltas no ar esperando liberação de Congonhas. Pessoas que tentavam vir para São Paulo desde cedo puxaram palmas aliviadas ao encostarmos na pista molhada do aeroporto.

Em casa mesmo só cheguei às 19h, 13 horas inúteis depois de ter acordado.

O saldo é de quase R$600 de passagem, uns R$160 de taxis, muito saco cheio e doses consideráveis de junk food. Tudo isso para nada.

É fácil botar a culpa no mau clima. Mas se existisse metrô nos aeroportos a reunião não teria sido cancelada e nem eu nem as outras 5 pessoas que vinham de outras partes do país teriam perdido viagem. Não teríamos sido vítimas do trânsito.

O saldo positivo foi ter encontrado diversos conhecidos em todos os aeroportos, inclusive uma velha amiga querida, que estaria no mesmo vôo ao Rio se não tivesse atrasado tanto a ponto de ela perder sua reunião, e nem embarcar. E as infindáveis horas em táxis valeram a pena quando botei em dia a conversa com amigos. A outra coisa que compensou é que entre uma espera e outra, provei o milkshake do Bob’s que um amigo tomava, de maçã com canela, melhor que o clássico — e único que conhecia — Ovomaltine.

De resto, o meu dia foi pro brejo.

Adeus Tipuana

Deu uma ventania aqui no bairro no domingo a noite e não choveu. Mas foi o suficiente para estremecer as bases da velha Tipuana de frente de casa.

Esta madrugada ela caiu do nada. Só porque estava velha e podre por dentro.

Velha tipuana caida

Ela caiu às 3 da manhã e parece que amassou um pouco o teto de um carro do outro lado da rua.

Os bombeiros começaram a picotá-la às 5h com motoserras barulhentas. Mas o pior foi a incompreensão dos carros que buzinavam sem parar. Poxa, um pouco de respeito pela querida árvore morta.

Tipuana oca

A árvore estava oca por dentro e tinha raízes pouco profundas, incompatíveis com sua idade e tamanho centenário. A certa altura, os bombeiros acharam um ninho de abelhas ou algo do gênero e se empenharam para retirá-lo com cuidado e tentar guardar o mel que escorreu. Alguns provaram e gostaram. Parecia até que o principal momento de seu trabalho era marcado por esse achado.

Tipuana fatiada

Adeus Tipuana. Nossa rua vai ter menos cara de alameda sem você. Mais ainda quando sua irmã ao lado foi também cortada este ano.

O único consolo é que a nova árvore que será plantada no lugar vai absorver bastante CO2 para crescer.

Mais sobre Netiqueta

Aquela amiga das mensagens relatadas no outro post me respondeu.

Se desculpou, justificou que é novata e que só encaminha as que acha realmente interessantes. Perguntou também se eu gostaria de continuar recebendo. Ela é muito educada.

Respondi isso:

Oi Selma !

Não causou problema nenhum.

Mas é que como só recebo esse tipo de mensagens de você, perco os parâmetros sobre como avaliar a importância do que você me manda.

Como existe a tal etiqueta no mundo físico, existe a Netiqueta na Internet. Acredito que você não ia gostar de receber na sua casa 80 cartas físicas por dia de textos genéricos julgados lindos ou inteligentes, etc. Te daria trabalho em separar isso da correspondência importante. Então não justifica lotar a caixa postal das pessoas só porque é mais fácil enviar eletronicamente do que pelo antigo correio.

Gostaria de continuar recebendo de você e-mails que você mesma escreve. Comunicação pessoal, não mais generalidades do mundo alheio.

Beijos grande !
Avi

Acho que agora ficou tudo entendido.

Viagem ao Umbigo do Mundo

Viagem ao Umbigo do Mundo

Tatiana e eu fizemos uma viagem absolutamente incrível para o outro lado planeta — a Ásia Central — região que muitas pessoas mal sabem que existe.

Fizemos anotações detalhadas, dia após dia, sobre todos os lugares que passamos, pessoas que encontramos e impressões que tivemos. Os links abaixo vão te levar às mesquitas do Uzbequistão, montanhas do Kyrgyzstão, ao caldeirão social da China, e a exuberância de Moscow.

Foi uma viagem de conhecimento, então os relatos estão recheados de mapas, referências na Wikipédia, fotos e videos. Além de impressões gerais, e observações sobre etnias, línguas, religião e coisas que não existem na Ásia Central logo abaixo.

Viaje conosco !

Uzbequistão

Viagem ao Umbigo do Mundo

Kyrgyzstão

China

Moscow e Paris

Impressões Gerais

Eu recomendo fortemente qualquer pessoa fazer viagens desafiantes. Dificilmente nossa cultura e pontos de vista vão crescer se passarmos 7 dias coçando num resort.

Pode ser qualquer lugar: Amazônia para urbanóides, Islã para ateus, Las Vegas para saudosos marxistas.

Além do gostinho de poder contar que fomos para lugares que muitas pessoas não sabem nem pronunciar o nome, o desafio nos fez pensar muito sobre a história do mundo, o fluxo das etnias humanas, sociedade, economia, comida, fé, religião, e principalmente sobre nós mesmos e o que de fato somos.

Viajar pela Ásia Central não foi nada difícil. As pessoas são amigáveis e bonitas, os hotéis são confortáveis, cidades bem equipadas. E se você não for se meter no Afeganistão ou no Kashmir, a paz reina.

Etnias

O Uzbequistão faz fronteira com o Irã, antiga Pérsia, que definiu o tipo étnico da região há milênios. Mas a região foi também berço de incursões militares gregas de Alexandre o Grande e Genghis Khan. Isso conferiu uma mistura incrível de traços, cores de olhos e línguas.

É comum ver persas claros, loiras de olhos puxados, ou mongois de olhos verdes. E vimos mulheres realmente lindas.

O noroeste da China não é chinês. Pelo menos não no esteriótipo de chinês que as pessoas costumam ter na cabeça. O noroeste da China é tão persa quanto o Uzbequistão.

Já o Kyrgyzstão tem olhos mais puxados do que o noroeste da China. Se te teletransportarem para lá de olhos fechados, vai dizer que está no interior da China.

Línguas

Toda aquela região, inclusive o noroeste da China fala dialetos muito parecidos, todos derivados de língua turca. Uzbeque, Kyrgyz e Uyghur são línguas 95% similares e todos se entendem pela lingua falada.

O problema é ler e escrever. As línguas escritas no Uzbequistão são o russo (alfabeto cirílico) e o uzbeque a décadas escrito em cirílico. Mas recentemente o governo decidiu dar um passo no sentido da modernidade e maior integração com o ocidente adotando alfabeto latino como o oficial para escrever uzbeque.

No Kyrgyzstão eles não ligam muito para relações internacionais, então continuam escrevendo kyrgyz em cirílico mesmo. E na China, o povo Uyghur se orgulha em manter as tradições usando o alfabeto árabe (diferente da língua árabe) para ler e escrever.

Mas isso não tem muito problema porque o Uzbequistão é o maior produtor de videoclipes da região e todo mundo acaba ouvindo música Uzbeque que obtém de DVDs pirateados.

Há ainda inúmeros outros povos na região, que falam dialetos parecidos: os Khorezm, os Kazakhs, Tajiks, etc.

Fé e Religião

Esse foi um dos aspectos mais interessantes da viagem. A região é predominantemente islãmica. É incorreto dizer que são árabes porque estes são os que vivem na Península Arábica, milhares de quilómetros a oeste da Ásia Central.

Mas é um islã leve. Se não visitássemos os lugares históricos talvez nem percebêssemos. No Kyrgyzstão é mais leve ainda. Não há uma conexão muito grande com isso por lá.

Só a China nos surpreendeu. Sim, a China. Foi somente alí que vimos mulheres de rostos cobertos e fanatismo um pouco mais evidente. Isso acontece porque há um preconceito mútuo entre os chineses Uyghurs (predominantes no noroeste do país) e os chineses Han (os de olhos puxados). A conseqüência é que a minoria Uyghur acaba se voltando mais para sí, fomentando tradições e costumes em torno da religião. Ao longo dos séculos, costumes temporais, tradições sociais e leis religiosas se confundem e tudo vira sagrado sem se saber exatamente o motivo.

Coisas que não existem na Ásia Central

  • Preço estampado em qualquer mercadoria. O preço é feito sempre na hora, conforme a cara do freguês e o humor do vendedor. E sempre há margem para pechincha.
  • Adoçante dietético. Nenhum restaurante tem, mesmo se pedir.
  • Coca-Cola Light ou qualquer outro refrigerante dietético.
  • Folhas tipo alface, rúcula ou agrião. Nem na feira. Quando pedíamos a “Salada Verde” do cardápio de alguns restaurantes, era de coentro, cheiro-verde e dil. Uma salada de temperos verdes.
  • Saladas sem coentro.
  • Comida quente sem carne ou sem qualquer gordura animal. “Tem carne nisso aí?”. “Não, só bacon pra dar um sabor”.
  • Comida sem óleo.
  • Facas que efetivamente cortam. Todas eram cegas.
  • Guardanapo limpo sobre a mesa assim que se senta. Sempre tínhamos que pedir.
  • Guardanapo usado que fica na mesa mais de 3 minutos. Os garçons tinham algum tipo de obsessão em recolhê-los assim que fossem usados ainda que pouco.
  • Hoteis com cama de casal. Mais raro que mosca branca.
  • Área ou quarto de hotel para não-fumantes. Em qualquer sala de espera, restaurante, quarto de hotel etc, fumavam sem parar de todos os lados.

Petit Comité com Pintia Tempranillo 2001

Pintia Tempranillo 2001Ao entrarmos em sua adega pessoal, mais de 800 garrafas gritavam “pick me, pick me”. Nossa ansiosidade era tanta que o termômetro mostrou aumento de temperatura de 17 para 18°C. Sacamos um Pintia Tempranillo 2001, da região do Toro na Espanha. Um supervinho com aromas que nunca havia experimentado antes.

É muito chique ter uma adega particular. Mais chique ainda saber quais vinhos servir e tal. Muito chiques esses meus amigos.

Foi um petit comité que desafia o paladar, como todos os que eles nos convidam. Uma outra vez naquela mesma sala renasci (já meio bêbado, confesso) quando ele serviu algo que nem sabia que existia: pequenas garrafas de vinhos de sobremesa com uvas de colheita tardia. Ele gostava mais do deslumbrante sul-africano, mas eu me apaixonei mesmo pelo Henry Cosecha Tardia 2003, argentino da Lagarde.

Naquele dia, as outras pessoas continuavam falando de estátuas, o Crescente Fértil, chicle de bola, sei lá. Mas eu me deslumbrava na viagem dos vinhos. A quantidade de perfumes e complexidades que pode uma garrafa conter desafia qualquer lei da física.

Petit comité no LosPara a sobremesa de ontem, abrimos um Alvear Pedro Ximénez Solera 1927 (sim, você leu o ano corretamente), extremamente doce, licoroso, de textura espessa, com aroma de calda de figos, para acompanhar um revezamento entre sorvete Häagen-Dazs Praline e queijo tipo roquefort, este último bastante salgado, como de costume, para balancear a doçura do vinho.

Aguardamos ansiosamente a próxima oportunidade, e acho que vai ser regado a Zinfandels que eu trouxe da Califórnia.

Second Life e Orkut

Tenho ouvido algumas pessoas que acho bem pragmáticas desistirem do Second Life.

Eu também desisti. É ruim de usar, nunca tem ninguém e o mais importante: não consigo voar direito. De que adianta um mundo 3D se não consigo levitar como nos meus melhores sonhos ?

A revista Wired publicou uma matéria de capa dizendo que o SL estava às moscas.

O primeiro mundo 3D que ouvi falar foi o There.com. Talvez tenha mais gente lá.

O desafios desses mundos 3D é conseguirem fazer as pessoas desejarem entrar lá. O que você faria no Orkut se todos os seus conhecidos não estivessem lá? Também não entraria. Só vai dar certo quando alguém descobrir a fórmula do Orkut.

Falando em Orkut, para mim ele é o primeiro mundo virtual bem sucedido. Todos os elementos dos mundos 3D estão lá, menos o fator 3D. O Orkut é um software cujo algoritmo imita uma festa. Pense nisso.

É bom lembrar que quando um mundo 3D bombar como o Orkut, vai também ter os mesmo problemas dele: spam, questões técnicas de escalabilidade, ausência de fronteiras para línguas, etc. Este último pode ser visto como algo bom, mas foi exatamente isso que fez o Orkut estacionar em outros países assim que o Brasil o invadiu.

Como tecnologia, os PCs ainda não estão prontos para 3D. Ainda são lentos e teclado e mouse são excessivamente 2D para esses mundos. Quando um mouse 3D, óculos estereográfico e placas de vídeo muito poderosas estiverem presentes em todos os desktops, esses mundos 3D vão bombar e eu vou poder finalmente voar.

Mas por enquanto eu prefiro ser realista.

Caça à Pirataria?

O Rui e o Andre me fizeram voltar no tempo.

Eu lembro exatamente o dia que fecharam o Napster, na época o único serviço P2P que prestava.

Eu mandei as pessoas lembrarem daquela data como sendo o dia que a indústria fonográfica perdeu a guerra contra as redes P2P. Sim, porque a partir dali as pessoas iriam achar outras formas mais eficientes e não-derrubáveis de compartilhar conteúdo. De fato surgiu a rede Gnutella, o Kazaa e o incorrigível BitTorrent.

E para quem achar esses métodos de download muito complexos, há ainda hordas de amantes de música que simplesmente disponibilizam links de RapidShare em seus blogs contendo álbuns completos.

Mas minha previsão se esqueceu de um pequeno detalhe: o fechamento do Napster marcou também o fim da guerra para a indústria do cinema e TV.

Cara indústria de distribuição de conteúdo (Warner, Sony, EMI, etc), a Internet transferiu o poder para as pessoas. Conforme havia profetizado Doc Searls em seu Mundo de Pontas.

Sottozero já era, se vira

Eu lembro quando a sorveteria Sottozero abriu sua primeira loja na Rua Augusta em São Paulo.

Quilômetros de paulistanos se empacotavam na rua para mandar ver aquele sorvete novo e diferente. Eu demorei mais de ano para provar por que não sou muito chegado em lotação.

Inesquecível também quando finalmente fui agraciado pelo seu sorvete ultra-sofisticado. Tinha um sabor temporário chamado Fantasia de Laranja que era nada menos que apoteótico. Só uma vez na vida.

Isso foi há muitos anos. Ontem levei uma prima americana para se sorvetar na Sottozero da Sumaré. Fiquei meio chateado. Eles ainda têm uma lista comprida de sabores pitorescos mas a qualidade enveredou para bem regular. Antigamente seu sorvete ineditamente cremoso escorregava da pá, hoje é tão duro quanto as massas de supermercado. E alguns sabores têm um final nítido de artificial, a começar pelo de graviola que provei ontem.

Uma pena tanto talento de confeiteiro se curvar à necessidade de aumentar os lucros.

De sorvete bom em São Paulo há a Offelê na Lorena. Prove o de castanhas portuguesas (marrom glacê), zuppa inglese, e o de milho se tiverem. E na Parmalat pode-se elevar a alma com os espetaculares Canela e Cookies ao Porto, por caros R$7 o copinho. De supermercado tem o de Abóbora com Côco da La Basque que é absurdamente bom e caro ao mesmo tempo. A Ofner também sempre fez um sorvete responsa daqueles que preenchem até o vazio da alma.

Agora, o melhor sabor de sorvete do universo é o de Bacurí, uma fruta do norte. Em Sampa, de tanto que martelo, começou a ser servido em alguns lugares. Tente num bar chamado Feira Moderna (rua Fradique Coutinho perto da rua Wizard) ou uma pequena cafeteria que fica no Itaim Bibi, na rua Jesuino Arruda entre ruas João Cachoeira e Manuel Guedes.

Destaque para uma sorveteria de Paraty chamada Sorveterapia, na avenida da entrada da cidade. O dono é um cara simples e que faz os sorvetes com as próprias mãos observando altíssima qualidade dos ingredientes sempre naturais. Ele gosta de fazer experiências e o que vende hoje é resultado de anos de alquimia refinada.

Deveriam erguer uma estátua em homenagem ao cidadão que inventou o sorvete. Sua importância histórica é maior que a de figuras como Stalin, e o bem que fez à humanidade é comparável ao de Einstein.

Banana Verde

Esta semana fui atualizar a maior lista do mundo de restaurantes vegetarianos em São Paulo, para adicionar também um mapa interativo e as últimas novidades, e esbarrei no Mude o Mundo que availou o Banana Verde.

Fiquei com água na boca e fui almoçar .

Restaurante bem bonito, bem localizado na Vila Madalena. Não é self-service como a maioria dos vegetarianos. O esquema é o mesmo do Gaia, com duas opções de entradas, pratos principais e sobremesas.

Fui num tabule de quinua para começar, depois num pene ao sugo com bastante brócolis e queijo, e no creme de papaya com morangos. Feel Good para acompanhar.

Estava excelente e muito bem servido. Mas quem tiver estômago grande pode repetir, eles trazem mais pelo mesmo preço.

Entre as opções sempre há uma ovo-lacto-vegetariana, e outra 100% vegetariana (vegan) para agradar os salvadores dos bichos.

Dentro do restaurante há uma lojinha de coisas naturais e livros de bem estar, incenso, velas e outros apetrechos zen. Me divirto com essas coisas.

Meu celular captou uma rede WiFi que o gerente gentilmente me deu a senha, e usei a Internet entre um prato e outro.

Funciona de terça a domingo só no almoço, R$20 e R$22 finais de semana e feriados, e inclui tudo menos a bebida.

Pode ir. Eu recomendo.

Feel Good


Feel GoodConheci a uns meses atrás o chá verde Feel Good.

Hoje acho que é a melhor bebida gelada que se vende por ai. É levíssimo, sem açúcar e tem um sabor inusitado.

Na Ásia Central toma-se isso — mas em versão quente — o tempo todo e em todas as refeições. Quando adicionavam lima (que no resto do mundo é conhecido como lemon) o sabor ficava igual ao Feel Good. Bem bom.

Agora que voltei ao Brasil, vi que lançaram mais um sabor, o de laranja com gengibre. Não demorei para provar e é bom também, mas prefiro o tradicional com seu sabor, assim, tipo, pitoresco.

Tem também o de soja, mas não sou muito chegado e nunca provei.

Não é em todo restaurante que se acha o Feel Good. Mas se tiver a oportunidade, eu recomendo provar.

Como promover a Netiqueta ?

Nós que já somos cidadão idosos da Internet conheçemos bem a Netiqueta. Mas sempre vão surgindo a mãe de um amigo, a sobrinha que cresceu ou o humanista que achava que a Internet era só para geeks etc que entram na rede e ficam somente a repassar piadinhas ou tralhas que recebem de sei-lá-quem.

Sobre o problema de todos os endereços, inclusive o meu, ficarem expostos na repassagem eu já nem esquento. O que mais me preocupa é que passo a desconsiderar e-mails dessas pessoas, e acabo perdendo contato digital com elas. Ai quando me convidam por e-mail para alguma festa, ou mandam uma mensagem realmente para mim, passa despercebido.

Eu sou meio cascagrossa e nas vezes que dava esse toque à pessoa, ela geralmente se ofendia e me mandava para aquele lugar. Então parei de dar o toque e tento conviver com isso.

Mas resolvi dar o toque novamente para uma amiga querida. Respondi isso:

Para: Selma
Assunto: Re: Fw: Re: Re: Re: “O AFOGAMENTO DE LULA…”{ABRA É ÓTIMA E NOVA}

Selma, eu reluto muito antes de dar essa dica para as pessoas, mas chegou a hora.

Como você espera que eu leia algum dia uma mensagem que você realmente precisa que eu leia, que a “Selma escreveu para o Avi” ?

Só recebo e-mails genéricos de você, que geralmente não tenho tempo de ler porque sei que são impessoais.

Não quero perder contato digital com você, mas por enquanto seus e-mails estão sendo tratados pelo meu sistema como “repassador generico, arquivar sem ler”.

Então a dica é: valorize suas mensagens, enviando para as pessoas somente o que for realmente pessoal entre você e elas.

Obrigado,
Avi

Lanço uma pergunta no ar: qual é a melhor forma de dar esse toque, sendo delicado e efetivo ?

Outra pergunta: como os sábios e idosos cidadãos da Internet lidam tecnicamente com isso? Regras de arquivamento automático no GMail? Filtros REGEX para /Re: Fw: Re:/ ?

Moscow, Paris, São Paulo

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Parque Izmaylovsky

  • Levantamos às 8h, fizemos o grosso da mala e saímos com planos de conhecer o Измайловский парк (Izmaylovsky park), atravessando a rua do hotel
  • Para um sábado de manhã estava completamente vazio. Esperávamos ver pedestres, esportistas, bicicletas, etc. Mas nada. No máximo havia um ou outro par de amigos tirando fotos ou sentados comendo e bebendo. Em uma das entradas do parque, um carro estava parado com o som bem alto e algumas pessoas dançavam e bebiam em volta. A balada da noite anterior ainda não tinha acabado.
  • Vimos um lago no mapa, mas não o encontramos. Nem sabemos se fomos exatamente em sua direção. Muitos cachorros viviam no parque, provavelmente abandonados pelos seus donos, e as vezes eles latiam em coro.
  • Nos perdemos e tivemos que voltar correndo para fechar as malas e nos encontrar com o taxista na hora marcada.
  • Nem tínhamos tomado café e paramos em um dos terríveis supermercadinhos do outro dia mas dessa vez só levamos iogurte de beber e bolo pronto, para comer enquanto andávamos até o hotel. O bolo ostentava amêndoas na parte de cima, mas na primeira mordida ele nos enganou: era de amendoim.

Passaportsky Problema

  • Tomamos banho correndo, fechamos as malas, descemos para o check out, e o Victor estava a nos esperar com outro motorista. Pediu desculpas por não estar no aeroporto na chegada, mas não foi culpa dele. E nos deu um envelope com os 1700 rub que tínhamos gasto com o taxi da chegada. Muito nobre da parte dele. Então nos deixou com seu motorista e nos despedimos.
  • Pedi ao motorista (com muita mímica) que parasse em algum lugar para trocarmos os Rublos que sobraram para dolar e ele deu uma volta considerável para passar no centro. Conseguimos boas taxas, mas talvez não compensou a volta.
  • Apesar de ser sábado, pegamos muito trânsito inclusive nas highways. Ele se encheu e pegou algumas vias alternativas que andavam melhor. E chegamos no aeroporto sãos, salvos e na hora certa.
  • As russas que trabalhavam no check in da Air France/Aeroflot não eram de muitas palavras. Aliás eram de bem poucas palavras. Eram mesmo bastante secas. Mas fizeram seu papel e pronto. Despachamos as duas mochilonas diretamente para São Paulo porque a Tati havia deixado uma bolsa com roupas limpas em Paris na escala do começo da viagem, na casa de conhecidos.
  • Depois do check in você não pode ficar zanzando no aeroporto. Tem que passaportar e entrar direto nas salas de espera. Nesse processo, uma militar com cara de durona liberou a Tati e segurou meu passaporte e cartão de embarque. Não havia muita comunicação. Pediu para eu esperar logo ali, e eu perguntei “what is the problem?” e ela respondeu “problema, problema”. Ai meu Deus.
  • Depois de esperar alguns bons minutos de pé apontei para o relógio indicando que tinha um vôo para pegar. Veio um oficial fardado com um inglês razoável e disse que meu passaporte teria que passar por uma vistoria dupla. Não entendi se era problema específico com o meu passaporte ou se tinha sido escolhido aleatoriamente.
  • O oficial também disse que o vôo não pode decolar sem a autorização “deles” e que eu podia ficar tranqüilo. Aquilo não me tranqüilizou muito porque demonstrava muito poder: se eles podiam segurar um avião, podiam muito bem segurar um zé mané como eu também. Então ele sumiu.
  • Vários outros minutos depois e sem ninguém para falar reclamei com a durona novamente. Ela não estava muito aí e mandou continuar quietinho. A Tati foi comprar vodka de presente no free shop.
  • Já chamavam o nosso vôo para o embarque e comecei a surtar. “Ô durona, como é que eu fico aqui?” é o que eu queria falar, mas me limitei as mímicas.
  • O oficial baixinho e loiro e que gostava de dizer que tinham o poder nas mãos reapareceu. Informei-o que já chamavam para embarcar e ele novamente disse que não decolariam sem a ordem deles, mas era para eles não decolarem sem mim. Disse que meu passaporte tinha um problema de rasura no ano de validade. O “8” do “2008” era meio diferente dos outros algarismos. Eu custei a perceber isso. Ele pegou meu passaporte de dentro do guichê da durona para me mostrar. Achei que tinham levado-o para outro lugar para ser analisado, mas não: ele ficou com a durona que não fez checagem dupla nenhuma, pois carimbava outros passaportes da fila.
  • Eles me devolveram o passaporte e saí com a impressão de que aquilo foi puro terrorismo psicológico sem nenhuma base, e que a data de validade do passaporte podia até estar escrita a mão. Além do mais, havia entrado e saído de uns 4 países sem problemas, inclusive na Rússia, e não era ali, na saída do país, que tinham que encrencar.

Paris, Cidade das Luzes

  • Pegamos o vôo da Air France a tempo e o nível de simpatia já mudou quando um comissário francês percebeu que éramos do Brasil, disse que gostava muito de nosso país e nos deu um tratamento especial.
  • Entramos tranqüilamente na França e encontramos o Larbi, amigo da Tati, que veio nos pegar de carro. A Tati ia ficar alguns dias em Paris e o meu vôo era dali a umas 7 horas, o que nos dava tempo para passear mais em Paris.
  • Chegando na cidade, o trânsito de sábado estava péssimo. Estacionamos e fomos a pé até um bar na beira de uma represa no meio da cidade. Parecia que o Rio Sena começava ali. Mas estava lotado e fomos embora.
  • De metrô, fomos até Montmartre e de lá a pé até a Basílica de Sacré Cœur (mapa). As ruas sempre cheias de turistas. Perto da basílica, muitos jovens se amontoavam na escadaria para se assistirem e também a showzinhos de voz e violão amplificados que aconteciam esporadicamente lá. Um pouco mais afastado, um homem tocava violão mais seriamente e soltou um samba sem que pedíssemos. Seu CD, que estava à venda, tinha outros temas brasileiros e também Street Beat do David Hewitt, uma música lindíssima e pouco conhecida.

  • Quando dizem que Paris é a Cidade das Luzes, saibam que é com bastante propriedade. Ela emana beleza, humanidade, diversidade, cultura e bem estar.
  • Ao caminhar pelas estreitas e belas ruas de Montmartre sentimos isso. Casas aconchegantes se mesclavam com pequenos parques e chafarizes, onde crianças construíam seus castelos de areia e adultos jogavam bocha. E também placas de sítios históricos, herdades e bustos de cantoras que deixaram saudade. Mais cafés charmosos com mesinhas na calçada.
  • Paramos num desses para encontrar com outro amigo da Tati, o François, e comer algo. Era um lugar descolado e moderninho com direito a garçom que fazia gracinhas. A certa altura o cozinheiro azulão trouxe um balde para uma das mesas e fez saltar nossos olhos enquanto enchia de chocolate líquido do balde as travessinhas de petit gâteau que seriam assadas em seguida. Ao terminar o importante trabalho, traçou tranqüilamente, sentado no mesmo lugar, um sanduíche de baguete, enquanto conversava com alguns garçons e outras pessoas de pé. Uma cena tão parisiense.
  • Começou a anoitecer e esfriar e tínhamos que voltar ao carro do Larbi de metrô. Fomos ao apartamento dele, tomou banho enquanto a Tati embrulhava uns presentes e fomos de metrô à festa de aniversário da Clarie, outra amiga da Tati.
  • Se no metrô de Moscow há só loiros, o de Paris é uma salada étnica. Havia 3 mulheres negras vestidas com turbantes e tecidos coloridos, falavam uma língua bonitinha, rara de se escutar no Brasil, de sílabas simples com vogais que se repetiam. Larbi disse que provavelmente eram da África Subsariana. De qualquer forma, era uma delícia ouví-las conversar, mesmo sem entender uma palavra sequer. O mais engraçado era a combinação turbante e brinco LV da Louis Vuitton.

Hoje Terra é Pequena

  • Clarie mora num apartamento de uns 50m² (o m² é muito caro em Paris e é comum as pessoas morarem com pouco espaço), com sala, cozinha, quarto, banheiro e um terraço exclusivo que é o forte do apartamento. É um pouco maior que o apê do Larbi. Umas 10 pessoas alegres estavam de pé e se dividiam entre o social e assistindo um jogo importante de Rugby que passava ao vivo na TV. Foi divertido mas pena que já tinha que pegar o RER (trem intermunicipal) e tomar o vôo para o Brasil.
  • Tati me levou a estação correndo e me pôs no trem. Poderia ter feito isso sozinho, mas como estava atrasado, uma francesinha esclarecida foi importante para me colocar no trilho certo sem perder tempo. A despedida foi encurtada pela chegada do trem. Ela voltou para a festa da Clarie, e eu estava a cominho do Brasil.
  • O trem quase vazio parou em todas as estações e ninguém entrou nem saiu. O caminho era longo e fiquei apreensivo em chegar tarde. Mas cheguei bem na hora do embarque.
  • No vôo fechei os olhos tranqüilo, alimentando a saudade que em breve estaria morta. Saudade da família, sobrinhas, de casa, dos amigos, do bairro conhecido. Da língua que domino as gírias, o sotaque, a cultura local.
  • Compilei um pouco as memórias das últimas semanas e cheguei a conclusão que além do muito que descobri sobre muitas coisas, aprendi também sobre mim mesmo, sobre a Tati, sobre o que é viajar. E que viajar é, em parte, voltar para casa crescido e com vontade de abraçar o mundo.
  • Gilberto Gil já dizia: Antes mundo era pequeno porque Terra era grande / Hoje mundo é muito grande porque Terra é pequena / Do tamanho da antena parabolicamará.

Moscow do Kremlin

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

  • Fomos tratar do desjejum o mais longe possível do barzinho do dia anterior. O Izmaylovo Alfa-Beta era um edifício similar ao nosso, mas mais orientado a serviços, ou seja, tinha pequenos restaurantes, cafeterias e lojas de todos os tipos lá dentro. Um restaurante árabe exibia doces típicos e folhados salgados com ótima aparência. Escolhemos um de queijo e outro de queijo com alho. Estavam excelentes. Mas não aceitavam nem dolar nem cartão, e tive que ficar novamente como garantia enquanto a Tati trocava no guichê ao lado.
  • Gastamos o resto da manhã inteira mandando e-mails para os amigos que encontraríamos em Paris no dia seguinte e fazendo ligações. Só conseguimos sair do hotel às 13h.
  • Tomamos o metro até o Kremlin e compramos o ingresso por 300 rub.
  • Segundo o guia, as melhor atrações são fechadas ao público, visto que ali é ainda a sede do governo central. Dentro de seus muros, o Kremlin parecia um bairro bonito de largas ruas arborizadas e poucos carros. Além dos inúmeros prédios históricos que ainda serviam ao goveno russo, havia também um teatro ativo, muitos dos canhões que Napoleão perdeu na guerra, monumentos, um sino gigantesco (o maior sino do mundo, que nunca tocou pois se quebrou antes de ser implantado) e uma praça dominada por igrejas que foi o principal alvo de nossa visita. Todas as igrejas tinham a mesma decoração medieval soturna. Já havia me acostumado.
  • Em uma delas, alguns distintos homens e mulheres vendiam juntos CDs de coral religioso russo por €15 ou $20. Perguntei se dava para ouvir e um deles disse que cantavam a cada 10 minutos na igreja, para minha alegria. Montei em cima e fui contar para a Tati que havia encomendado uma surpresa para ela. Claro, ficou curiosa.
  • Sentamos e esperamos. Poucos minutos depois eles tomaram posição e soltaram lindamente a voz. Não durou 5 minutos. Bem, era só uma demonstração. No fim não comprei o CD de preço salgado.
  • Visitamos outras igrejas na mesma praça. Algumas eram usadas pelos reis e tinham seus tronos. Outras tinham túmulos de nobres famosos. Mas todas com a mesma imagem de um Jesus magro, triste e de cabelo estranho, e outra da Maria com seu filho pródigo com cara de adulto que parecia um mini ET.
  • Batemos perna de baixo de chuva mais um pouco pelo Kremlin e saímos.

A Catedral Colorida

  • Demos a volta por fora do Kremlin para chegar na famosa Catedral de São Basílio que é o ícone mais famoso de Moscow. É de fato muito colorida e pelo ângulo que vinhamos parecia totalmente assimétrica, o que conferia uma beleza irreverente.
  • Tínhamos poucos Rublos e tivemos que dizer que um de nós era estudante para conseguir meia entrada. A inteira custava 100 rub. Lá dentro não impressionava muito. Uma igreja ortodoxa comum. Não fosse por outro ótimo coral, desta vez inteiramente masculino, dando uma canja para vender CDs diria que nem precisávamos ter entrado.

Ovos Fabergè

Fabergè Egg

  • De lá corremos de volta para o museu Kremlin Armoury, que tínhamos comprado ingresso junto com o do Kremlin, por 350 rub cada. Tínhamos hora marcada para às 16:30, provavelmente para espalhar com previsibilidade os visitantes.
  • O Armoury é um museu exuberante de roupas, carruagens, armas e armaduras, jóias, tronos, louças, prataria e arte da monarquia pré-soviética. Suas peças encarnavam o melhor estilo rococó como uma carruagem toda dourada com relevos barrocos. Uma beleuza.
  • Entramos de bico num grupo cujo guia era simpático e cativante. Aprendemos um monte.
  • Um dos pontos altos era a pequena vitrine que exibia os famosos ovos Fabergè entre outras jóias dessa antológica joalheria de São Petersburgo. Era de fato impressionante a outra categoria a que pertenciam essas peças de lindos detalhes e mistura inusitada de materiais.

Caça ou Vegetariano ?

  • Não tínhamos almoçado e estávamos famintos. Decidimos ir jantar de metro no único vegetariano que aparecia no guia: Mantram. Era um restaurante-loja natural-boutique de roupas zen com ar de descolado. Tinha uma variedade grande de comidas expostas e com boa aparência. Mas o esquema não era muito familiar: escolhia-se algo individual, uma salada de brócolis por exemplo, que então colocavam numa cumbuca e custava ± 50 rub cada. O preço individual para cada coisa inibia montar um prato com diversidade. Fomos embora chateados comentando que o Brasil precisava exportar a idéia de restaurante por quilo para a Rússia, talvez para o resto do mundo.
  • O guia falava de um restaurante chamado Bege, perto dali. De fato todo bege, bonito, moderninho mas pequeno. Tanto que a recepcionista disse que toda as mesas estavam reservadas. Pena.
  • Decidimos sair andando, passamos em frente ao Mantram novamente, e mais abaixo topamos com um restaurante em que muita gente se amontoava na porta. A Tati ficou na fila enquanto entrei para ver. No bar tentei me comunicar com mímica, a mulher do caixa não entendeu nada, a garçonete idem, mas o barman tinha mais vontade e nos entendemos.
  • Tinham uma mesa bem bonita de saladas e algumas coisas quentes. Resolvemos ficar e a garçonete nos levou para uma mesa no andar de baixo. O teto era baixo, meio abobadado e de tijolos e a decoração era de temas rurais e de caça. Tudo isso conferia um ar de taberna ao lugar. Havia outras mesas vazias nesse andar e não entendemos porque as pessoas esperavam na fila.
  • Demorou para sermos atendidos, o garçom precisava trazer pratos para a nossa mesa para podermos nos servir. Mas ai rolou e mandamos ver o self-service por 270 rub por pessoa.
  • Uma menina muito loira da mesa ao lado, de uns 6 anos, ficou brincando com a Tati tirando fotos dela. E a Tati entrou na brincadeira.
  • Era sexta-feira e depois do jantar resolvemos dar uma volta nas ruas lá perto, pois estávamos perto de um dos bairro elegante e boêmios de Moscow. Vimos novamente a loja de departamentos Цум (Tsum), hotéis novos, etc.
  • Voltamos ao hotel e fomos dormir.

Moscow com Estilo

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Péssimo Café

  • Não jantamos e acordamos com fome. Perto do hotel haviam diversos estabelecimentos que eram uma mistura de microsupermercado e padaria. Numa delas dois rapazes comiam de pé salgados e tomavam café e isso nos inspirou a ficar lá.
  • Erro crasso. Dividimos algo como um pastel frito de 25cm de comprimento recheado de repolho. Só uns 10% de sua área continha recheio, e mesmo assim era pouquíssimo e mal temperado. Tinha sido frito horas atrás, esquentaram no microondas o que garantiu textura de borracha, e a massa nem sequer era boa. Tínhamos também pedido um outro de maçã, assado, igualmente péssimo. Ao pedir o chocolate quente, perguntei se era feito com leite, e de fato era, mas só com o suficiente para poder dizer que levava leite, ou seja, umas duas gotas. O café da Tati estava igualmente aguado.
  • Aquilo foi tão péssimo e de mal gosto que nos perguntamos se faziam de propósito, ou se lhes faríamos bem em avisar que serviam coisas intragáveis. Deixamos pra lá.
  • Pegamos o eficiente metro e saímos por acaso na frente de uma loja-conceito da Nokia onde gastei meia hora enquanto a Tati estudava o guia.

Gorki Art Nouveau

  • Descemos uma alameda arborizada mas lá embaixo nos demos conta que era o sentido errado. Não perdemos a viagem porque encontramos por acaso o restaurante Кафе Пушкинъ (Cafe Pushkin), restaurante elegante que vimos no guia e fizemos reserva para o jantar.
  • Voltando pela avenida chegamos na bela casa-museu do escritor Maxim Gorki. Por fora a casa não tinha nada de mais, um jardim comum e tal. Mas dentro, do chão ao teto, tudo era arquitetado e decorado no melhor estilo Art Nouveau. Destaques: a madeira do piso tinha linhas arredondadas que se encaixavam e desenhavam formas da natureza. As portas e batentes eram grandes e bem feitos sempre com relevos de formas arredondadas e fluentes. Mas nada se igualava a lateral/corrimão da escada. Toda de pedra polida, começava em baixo com uma luminária com braços de polvo e subia em arranjos fluidos, ao longo da escada em meio-caracol, até o próximo andar. O peso e grossura da pedra cinza eram contrabalançeados pelas leves linhas naturais e se equilibravam na função de segurança de um corrimão. O belo ou o funcional? A boa arquitetura nunca vai deixar você escolher somente um. Os dois devem estar sempre juntos.

Almoço Moderninho

  • Ao leste da casa de Gorki, caminhamos por Tverskoy até a Kamergersky Per que é uma calçadão só para pedestres, moderninha, com gente bonita e restaurantes fancy. Aproveitamos para almoçar numa lanchonete meio natural que vendia baguetes, saladas e sopas em vitrines chamada Праим Стар (Prime Star) parecida com a Prêt-à-Porter de Londres. Comemos uma baguete com atum e salada e um roll de frango satay, mais bebidas e salada de frutas por 290 rub. Não queríamos comer muito pois estávamos reservando apetite para o jantar.
  • Ainda assim, fomos para outra lanchonete fancy e mandamos ver uma torta de frutas vermelhas. Ainda ficamos lá muito tempo observando as pessoas que entravam frenéticas em busca de um almoço rápido.

Шоколад (Chocolad)

  • Depois fomos para Teatralnaya, uma região com muitos teatros, inclusive o Bolshoi, e lojas de marcas famosas. Começou a chover e nos refugiamos em algumas delas, dando uma de excêntricos conhecedores de moda. Os artigos eram muito caros e de alta qualidade.
  • Em uma loja italiana de sapatos masculinos, a música ambiente era erudita e os sapatos tinham uma qualidade e mistura de materiais que eu nunca vi na vida. Os modelos não iam muito com o meu gosto, mas mesmo assim fiquei impressionado. Os preço estavam na casa dos 43000 rub ou algo em torno de R$4100 por um par de sapatos.
  • Numa cafeteria da rede Кофе Хауз (Coffee House, que estava em todo lugar) chamaram uma garçonete que arranhava o inglês um pouco melhor. Queríamos um chocolate (шоколад) quente e ela sugeriu um que era diferente do que imaginávamos. Muito grosso, muito forte, praticamente para se comer de colher. Bem bom, por 129 rub cada. O WiFi da cafeteria não era gratuito.

Metropol e Coral Russo

  • Então fomos atrás de conhecer o famoso Metropol Hotel seguindo o guia. Chegamos em uma avenida larga e movimentada e do outro lado havia o restaurante Metropol, a boutique Metropol, o night-club Metropol e outros estabelecimentos Metropol bem elegantes. Nada de hotel. Ele ficava no mesmo bloco, mas se entrava por uma travessa pequena que custamos a encontrar.
  • Era chique, decorado em estilo entre art nouveau e algo anterior, mais romântico. Ostentava riqueza e elegância. O que impressionava era seu restaurante. Um salão enorme mas aconchegante com um teto ligeiramente abobadado todo feito de vitrais com temas floridos. Algo impressionante. Nos grandes hotéis de Las Vegas pode-se encontrar réplicas deste estilo mas só ali respirava-se a autêntica vibração de uma Rússia exuberante, monárquica e pré-revolução. Não dá para imitar isso e poucos lugares do mundo ainda sustentam esse espírito além da decoração.
  • Voltamos para a rua e nos demos conta que estávamos muito próximos da Praça Vermelha, que estava nos planos só para o dia seguinte, mas fomos espiar mesmo assim caminhando por ruas apertadas.
  • Chegamos na Praça Vermelha umas 17h por um canto onde havia uma igreja cujo sino estava tocando a chamar para o horário da reza. Só nos demos conta disso quando o sino parou e a voz do padre e de um coral saíram pelos alto-falantes da rua. Estávamos do lado, resolvemos ver a reza.
  • Tinha acabado de descobrir algo novo na vida: corais religiosos russos são uma jóia da música erudita e bastante populares. Três homens e duas mulheres cobertas por véus mal eram vistos atrás de uma divisória, mas cantavam tão lindamente! Eram afinados, harmonizados e imprimiam todo seu coração e fé no cantar.
  • Enquanto isso o padre circulava a igreja balançando um incenso em pêndulo. As pessoas chegavam e saíam, geralmente fazendo o sinal da cruz e demonstrando devoção.
  • A igreja era decorada com aquelas pinturas medievais tristes e magras carregadas de ouro. A certa altura o padre entrou numa saleta separada por uma portinhola e conduziu a liturgia de lá, revezando o que se ouvia com o coral, que era o que mais me interessava, e um outro auxiliar que lia ou rezava coisas em diversos pontos fixos da igreja. Este último era um tanto veloz e procedural e, portanto, frio. Mas graças ao coral e algumas vibrações do padre, foi uma cerimonia tocante e emocionada no geral.
  • Ficamos lá um bom tempo, mais para ouvir as incursões do coral. Muitas pessoas ascendiam velas em estações dedicadas a isso e resolvi fazer o mesmo. Comprei a mais barata por 5 rub, acendi, agradeci a oportunidade de ter conhecido a jóia cantada e voltamos ao circuito turístico.

Jantar Chique

  • Já anoitecia e a Praça Vermelha ficaria para o dia seguinte. Mas precisávamos enrolar até as 20h para o jantar que havíamos marcado. E nada melhor que um shopping center para passar o tempo.
  • Uma das laterais da Praça Vermelha é o enorme Shopping Gum (Гуm) com seu edifício gigantesco e de linhas aristocráticas. Não conseguia imaginar o que um edifício daquele tamanho era nos tempos Soviéticos.
  • Dentro havia lojas das marcas mais sofisticadas da Europa e do mundo. E preços altíssimos também. Eram três corredores a perder de vista de tão compridos, ligados por pontes em seus andares superiores. Haviam também chafarizes inteligentes e decoração neo-clássica.
  • Paramos para descansar e matar o tempo em um restaurante cujas mesas ficavam sobre uma dessas pontes. Na mesa ao lado, dois rapazes de uns 13 anos treinavam suas aulas de perspectiva, desenhando as compridas linhas do edifício enquanto conversavam e riam. Aquele era um bom lugar para isso, devido à altura e visão panorâmica do shopping.
  • Fomos, debaixo de chuva, até o metrô, pegamos o trem e descemos na estação Mayakovskaya porque o guia dizia ser a mais bonita da cidade. No teto da estação, havia mosaicos cujos temas se intercalavam entre a aviação e algum esporte, sempre com detalhes soviéticos como a estrela e a Foice e o Martelo. Não saímos para a rua e pegamos outro trem para chegar no Кафе Пушкинъ (Cafe Pushkin) que reserváramos de manhã.
  • Às 20h o restaurante estava cheio, mesmo com chuva. Ainda bem que fizemos reserva, a recepcionista lembrou de nós assim que entramos e imediatamente nos levou para uma boa mesa. A iluminação era bem baixa e aconchegante. Mantinha a decoração de uma aristocracia do século XIX e junto com a iluminação dava a sensação de realmente estarmos jantando naquela época.
  • Enviaram um garçom com um inglês razoável que nos entregou o cardápio inglês-francês. Era divertido notar que as descrições dos pratos em inglês eram bastante diferentes dos mesmos em francês, então lemos os dois e interpolamos para entender melhor o que iríamos comer.
  • A Tati pediu duas entradas: cogumelos gratinados em bastante creme em uma cumbuquinha de barro, e pelmeni (um tipo de ravioli russo) recheado de salmão temperado com ervas por cima e creme de leite a parte. O primeiro estava ótimo e bem consistente e o segundo foi bom. Eu achei que as ervas dominaram de mais o sabor e fizeram o salmão sumir.
  • Eu pedi uma salada individual de folhas, tomate, pepino, aspargos e outras coisas, que por si só já era uma refeição de tão bem servida. E um peixe que não reconheci o nome acompanhado de espeto de legumes, batatinhas assadas com molho de creme, e não-lembro-mais-o-que. Veio um peixe com cabeça e tudo (que eu dispensaria) e o prato no geral estava ótimo. Era bastante comida.
  • Demos uma olhada na carta de vinhos. Reconhecemos o argentino Alta Vista, vinho barato, de razoável a simples, cujo preço no restaurante era tão alto e incompatível que apaguei da memória. Com base nisso comparamos os outros vinhos da carta e resolvemos que seus preços eram altos de mais para o alto risco de levar coisa ruim. Não pedimos vinho.
  • A conta saiu 2480 rub que pagamos com cartão. Não dava para incluir o serviço e tivemos que deixar cédulas a parte para o garçom. Foi uma ótima noitada e valeu a pena.
  • O restaurante foi elegante e caro, mas voltamos de metrô mesmo para o hotel, debaixo de uma chuva intensa. Às 23:15 estávamos na cama.

Moscow Circense

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Metrô de Moscow

  • Acordamos antes do despertador, umas 7h, comemos frutas e milho em lata no quarto e preparamos uma mochila com tralhas para passar o dia caminhando em Moscow.
  • Descemos umas 10h e trocamos só uns $20 rublos porque o cambio do hotel não parecia ser dos melhores.
  • Caminhamos até o metro praticamente seguindo o fluxo das pessoas. A estação Partizanskaya tem estátuas bem soviéticas de partidários, homens e mulheres armados.
  • Tudo no metro é pesadão e feito para durar para sempre. Não necessariamente bonito. Todas as paredes são de mármore branco, cinza ou cor de carne, os trens são muito compridos, de metal grosso, robustos, rápidos e barulhentos. Tanto que não dá para conversar sem gritar durante a viagem e é comum ver pessoas com fones de ouvido engraçados e enormes que anulam ruídos externos. A viagem é longa e veloz de uma estação a outra, o que mostra que a cidade é grande, mas vê-se estações em toda parte, o que prova que a malha do metro é densa e eficiente.
  • Uma coisa que chama muito a atenção são as escadas rolantes. Tinham aparência industrial pesadona, bem soviética, antigas mas que transmitiam confiabilidade eterna. Feitas para durar para sempre. Nunca vimos uma quebrada e nem havia opção de escada tradicional ao lado. Nem pudera, pois transportavam pessoas por uns impressionantes 70m diagonais. Nunca vi escada tão comprida.
  • Elas não eram uma conveniência. Se quebrassem as pessoas provavelmente não teriam forças para subir a pé e esperariam serem consertadas. A viagem até em cima era veloz, íngreme e longa o suficiente. A Tati teve uma leve tontura pela mudança de referência de equilíbrio.
  • Eu bati uma foto lá de cima e saímos na rua. Uma mulher decidida me puxou pela mochila e reclamou algo em russo sem parar de andar. Fiz cara de “não entendi nada” com um sonoro “what ?” e ela fez sinal de fotografia com gesto negativo. Ou estava comunicando que era proibido tirar foto na estação — o que achamos improvável — ou avisava que não permitia tirarmos foto dela, usar sua imagem, etc. Ah, faça-me o favor. Coisa de ocidental ultracivilizado. Sem parar de andar, desistiu de reclamar pela ausência de meio de entendimento.

Spa, Consulados e Catedrais

  • Descemos na estação Arbatskaya e caminhamos pelas ruas de Arbat e Kropotkinskaya. Conseguimos trocar dólares num banco a 24.7 rublos por dólar. Uma boa taxa.
  • Para um brasileiro médio, Moscow é uma cidade cara. Em media, as coisas têm valores um pouco mais elevados que a parte cara de São Paulo. Apesar disso, pode-se encontrar coisas baratas também.
  • Bateu uma fominha e numa barraca no calçadão de Arbat e comemos umas burekas gostosinhas por uns 16 rublos cada. 600ml de Coca Light custavam 32 rublos nessa mesma barraca.
  • No fim do calçadão havia um supermercado elegantérrimo que vendia importados e outras delicadezas. Caríssimo também.
  • Entramos num bairro de ruas apertadas onde estavam todos os consulados: México, Canada, Áustria, Camboja e outros. Alguns ficavam em casas históricas ou de arquitetura art-nouveau.
  • Numa venda compramos um picolé Mega de cassis e frutas vermelhas, uma variedade que nunca vi no Brasil. Num dos congeladores havia caixas de produtos Sadia. Fiz questão de conferir que era feito no Brasil. E em outro dia vimos produtos da Perdigão mas que só reconhecemos pelo logo. Na Rússia chama-se Фазенда (Fazenda).
  • Um spa zen bem bonito, pequeno e escondido tinha serviços de massagem de 1.5h de duração por 2600 rub.
  • Entramos numa igreja ortodoxa pela primeira vez e vimos um estilo completamente diferente da católica: não há onde sentar, é perfumada de incenso e cheiro de velas queimadas, menos profunda, menor e decorada com pinturas de Jesus, santos e santas por toda parte. O estilo das pinturas é seco, simples, triste e plano, como as pinturas medievais pré-renascentistas, no pior estilo século XI. Incrível como 10 séculos depois o estilo não muda.
  • De lá fomos à Catedral Cristo Salvador que foi reconstruída em 1997. Seu estilo e magnitude não combinam mais com esta era e gerou muita revolta quando foi construída.
  • Almoçamos no restaurante Artist’s Gallery por 335 rub por pessoa num self-service que chamam de business lunch. Foi a gloria poder escolher entre tantas saladas frescas de folhas e com menos óleo. O restaurante era bonito também, uma casa antiga e bem conservada. Um dos salões tinha pé direito altíssimo e vitrais coloridos. Dava quase a sensação de estarmos a céu aberto.
  • Siando do restaurante vimos um prédio de arquitetura muito moderna, com vidro, estruturas expostas e formas inquietantes.

Circo

  • Atravessamos o rio Moscow que tem uma respeitável largura com o dobro do Tietê em São Paulo. Tentamos ir ao parque descansar um pouco, mas instalaram uma roda gigante dentro e outras diversões e cobravam entrada de 50 rub.
  • Desistimos e atravessamos a avenida para o parque anexo a exposição de arte e cochilamos num banco. O fuso horário da China ainda fazia efeito sobre nós.
  • Fomos pegar o metrô para nos levar ao Grande Circo de Moscow, perto da universidade.
  • Era uma construção redonda e relativamente moderna. Cabiam milhares de pessoas lá circundando o palco inteiro no centro abaixo. Parecido em forma mas menor que o MGM Grand em Las Vegas.
  • Compramos ingressos pelo preço: 300 rub. Haviam mais baratos e mais caros até uns 1700 rub que ficavam na beira do palco. Na sala de entrada vendiam tranqueiras e haviam bichos incomuns para as crianças segurarem e tirarem fotos.
  • A apresentação começou às 19h e tinha mais de duas horas de duração, um pouco comprida de mais apesar do intervalo. Palhaços modernos e talentosos, multinstrumentistas e que dançavam sapateado, cavalos e cavaleiros dando saltos perigosos, camelos, malabaristas e trapezistas aéreos, focas espertas enormes, leões e dançarinos e efeitos de raio laser dividiam o palco versátil que virava ringue de patinação no gelo e piscina profunda.
  • É um espetáculo bonito e que vale a pena, mas é bem tradicional e coisas como Cirque du Soleil já estão um passo a frente.
  • A mudança do fuso horário nos derrubou e fez a volta para o hotel parecer mais longa do que realmente era. E chegando lá ainda fizemos algumas ligações VoIP antes de chapar umas 23:30.

O caminho para Moscow

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Voando na Sibéria

  • Vamos hoje fazer Kashgar-Urumqi-Novosibirsk-Moscow. Uma longa viagem com muita troca de aeronaves e re-check-ins.
  • Às 7:30 fomos fazer check out e encontrar com Anwar. A moça da recepção se ausentou e voltou minutos depois com uma camiseta que deixei no quarto para o santo, o que significa que ela mesma foi fazer a verificação de saída. Quando digo que esse hotel é meio miserável vocês precisam acreditar em mim.
  • No aeroporto, Anwar nos pôs na fila, deu o xerox do fax do bilhete dos vôos dizendo que isso era suficiente, se despediu e nos deixou. Não foi muito calorosa a despedida.
  • Varias pessoas tentavam furar a fila do check in no aeroporto. Impressionante como uma sociedade cheia de regras não consegue respeitar as mais óbvias.
  • Depois de respirar muita fumaça de cigarro na sala de espera, tomamos o vôo Kashgar-Urumqi da Hainan Airlines num Boeing moderno.
  • Já em Urumqi, um chinês de dentes completamente marrons nos pegou, deu o bilhete até Moscow, e nos levou ao outro terminal — o internacional —, concorrendo com os carros pois não havia calçada. Nos colocou numa fila qualquer que não andava e se despediu. Depois descobrimos que a fila era a do vôo para Baku no Azerbaijan. Mudamos para outra que só tinha loiros e que ia para a Rússia.
  • No check in a minha mala estava 3kg acima dos 20 permitidos. O funcionário colocou minha mochila de mão no lugar para passar no peso, mas despachou minha mala mesmo. Que trambique !
  • Queríamos gastar os yuan que sobraram, mas depois do check in não tem mais volta nem lojas. Os oficiais que carimbam passaporte só chegaram umas 14h. O Duty Free estava fechado. Só um bar/loja vendia de whisky a plantas e castanha de caju. As garçonetes andavam com um bolo de dinheiro na mão, vendiam agressivamente, e tinham olhar de “mani mani mani”. Falavam inglês precário, com muito sotaque e orientado a valores. Os preços obviamente variavam de acordo com a cara do cliente, e sempre perguntavam quanto ele pagaria depois que fizesse expressão de “está caro”. Uma bonita caixa de chá de jasmim muito perfumado começou por 150 yuan mas o levamos por 100 yuan. Uma barrinha de chocolate começou em 15 yuan e saiu por 10 yuan.
  • O vôo da Siberian Airlines estava vazio. Era um A319 novo decorado com cores fortes, modernas e bonitas. Tinha o mesmo espírito jovem da Gol. Voamos esticados, confortavelmente, conversando sobre a impressionante história da URSS/Rússia que líamos no Lonely Planet e o que iríamos ver nos próximos dias.

Tajiks na Sibéria

  • O pouso em Novosibirsk foi perfeito. Fica bem no meio do enorme pais, na Sibéria. A paisagem é completamente plana, sem nenhuma montanha para nenhum horizonte que se olhasse. E as cores eram de outono em todos os terrenos loteados, plantados e já colhidos para o inverno. Pena que não conhecemos mais da Sibéria.
  • No aeroporto entramos na fila do passaporte. Havia ao lado um bloco de rapazes chegando do Tajikistan. Uns 80, todos com os mesmos traços e cara de perdidos e inseguros, e só 2 mulheres. Estávamos em outra fila, não sei porque. Tinham dificuldade de manter fila e se amontoavam para serem atendidos. Quando chegava a vez do próximo, uns 4 davam passo para frente ao mesmo tempo mas só um vencia. Não os culpo pois não havia sinalização alguma de fila. Um funcionário gritava em russo de tempos em tempos algo como “ai, quero ver fila aqui, formem uma fila, aqui, bem aqui, por favor, uma fila gente, desamontoem”. Então davam uns passinhos para trás em bloco, nada que parecesse uma fila, e passava 1 minuto e reamontoavam de novo. Cena cômica.
  • De repente uma tal de Julia apareceu chamando pelos nossos nomes. Disse que iria nos ajudar na transferência para Moscow. Orientou na passaportagem, apresentou a Anastacia que iria ajudar com malas e tal. Esta nos levou para outro terminal, nos colocou para esperar numa sala elegante com WiFi de graça que não funcionava, levou nossos passaportes e voltou minutos depois com o cartão de embarque. Fomos superbem atendidos, também não sei porque (será que as mãos do Alê chegaram até Novosibirsk?). Até parecíamos VIPs.

O Poente Eterno

  • A entrada no avião russo foi sem finger, sem guarda-chuva, molhada e fria.
  • Decolamos em Novosibirsk às 19:50 GMT+7 e pousamos às 20:30 GMT+4 em Moscow. Demos 1/8 de volta ao mundo em 4 horas de viagem, quase tão rápido quanto a rotação da própria Terra.
  • Decolamos já a noite e voamos direto para o oeste, atrás do sol já posto. Com tanta vontade que ele chegou a nascer novamente para nós. De fato, durante as 4 horas da viagem o sol se manteve praticamente estático no horizonte e só desapareceu quando pousamos. Um fenômeno natural que só pode ser observado na nossa era de jatos.

Mapa: de Novosibirsk para Moscow

Universo Paralelo

  • O aeroporto de Moscow é enorme e iluminado. Havia um grande número de veículos de serviço circulando e muitos aviões. Mas onde estavam os nomes familiares? KLM, Air France, American Airlines, British Airways, Alitalia são substituídos por nomes que nunca vimos: Domodedovo, Kras Air, Berlin Airlines, Continental Airlines, S7 etc. Os aviões também eram diferentes, grande parte russos, com 3 turbinas na cauda, nenhuma nas asas e bico de outro formato. Era tudo muito igual e muito diferente, como pousar na capital de um universo paralelo.
  • Como nossos vôos foram todos mudados, chegamos em horário diferente do previsto pelo pacote e ninguém esperava por nós segurando plaquinha com nosso nome. Desesperamos. O aeroporto de Moscow, apesar de moderno, não eh exatamente amigável a quem não fala russo.
  • Muitos homens nos abordavam em russo oferecendo taxi de $80 a $50, mas dava medo. Eu só pego taxi assim no Brasil, onde sei julgar bem a intenção por trás do tom da voz. A única vez que tentei isso, em Buenos Aires, não foi uma viagem muito confortável e o cara tentou me enrolar. Então compramos esse serviço com cartão de crédito em um guichê por 1700 rublos, ± $70, e fomos acompanhados por um segurança até o carro. Dor de cabeça para que?
  • A saída do aeroporto foi intransitável e demorada. Vimos um novo terminal moderno, lindíssimo e enorme sendo construído.
  • Por volta das 22h, a viagem até o hotel durou uma meia hora sem nenhum trânsito. Começamos por algo que parecia a Rodovia Ayrton Sena, depois highways urbanas e um pouco de ruas de bairro até chegar no hotel. Moscow tem uma dimensão completamente maior que as outras cidades desta viagem. Muitos carros modernos, asfalto de primeira, placas claras, enormes e bem iluminadas, muitos outdoors, postos de gasolina e canteiros bem cuidados. Aroma de primeiro mundo. Moscow é uma velha Europa que contém a magnitude das highways americanas, uma mistura que me agrada.

Olá Internet

  • O hotel Izmaylovo é um complexo de edifícios enormes construídos para as olimpíadas. Tem 8000 camas e dizem ser o maior da Europa. Põe inveja também nos monumentais hotéis de Las Vegas. Ficamos no edifício Vega (Вега) de 3 estrelas.
  • Enquanto Tati fazia o check in, achei uma rede WiFi aberta e rápida disponibilizada pelo hotel. Liguei meu celular bacana, conectei-o por VoIP ao serviço do Gizmo e fizemos ótimas ligações para o Brasil. Checamos e-mail também, fiz backup deste diário e a Internet é linda.
  • O quarto parecia ter sido entregue ontem pelo reformador. Carpete novo, moveis modernos, banheiro limpíssimo de louça nova. Ganhamos inclusive um upgrade para um quarto com cama de casal.
  • Tomamos um banho maravilhoso sem molhar o chão do banheiro e fomos dormir quase meia noite.

O Lago Karakul

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Himalaya e Pamir

  • O cafe servido no hotel era idêntico todos os dias. Mesmo pão, mesma geleia, mesmo iogurte. Ainda bem que compramos umas frutas para variar.
  • Às 9h encontramos com Anwar e o Sr. Gwan e nos mandamos ao lago Karakul por uma estrada asfaltada. Tentamos dormir o caminho todo mas aparentemente os motoristas chineses são formalmente instruídos a usar muito a buzina, com longos apertos irritantes.
  • Paramos no mercado de uma vila no caminho para comprar nan e romãs tao doces como eu nunca vi.
  • A paisagem foi ficando montanhosa e muito bonita, apesar de completamente árida. Rumávamos ao longo de um rio quase seco em direção a montanhas altíssimas de pico nevado que Anwar disse ser do Himalaya. Isso ergueu bastante o meu humor. Disse também que o Pamir era parte do Himalaya. A estrada levava ao Pakistan e era bem melhor que a que ia ao Kyrkyzstan.
  • O lago tem talvez o mesmo tamanho da Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio, mas é mais comprido e com certeza mais raso. Era envolvido primeiro por planícies de pastagem rala e depois por montanhas nevadas. Anwar disse que sua água é potável. Era também de um verde-turquesa incomum e arbitrário que saltava aos olhos no meio da paisagem desértica.
  • Estava razoavelmente frio mas o forte vento gelado fazia ser um pouco sofrido ficar lá. Não estávamos preparados para aquilo. Depois de uma caminhada, voltamos para o carro.
  • Fomos para o outro lado onde havia uma grande planície bem delimitada pelas montanhas e o lago, e onde camelos, jumentos e iaks pastavam livremente. Pulamos uma cerca, corremos atrás dos bichos fujões, tiramos umas fotos e voltamos para o carro quentinho.

Caça ao Sorvete de Ouro

  • Dormimos praticamente toda a volta e chegamos em Kashgar umas 16:30 secos por um sorvete. Marcamos com Anwar jantar às 20h, despedimos e fomos bater perna.
  • Perto da rua das lojas e galerias encontramos uma feira que parecia a sucursal chinesa-han do Mercado de Kashgar do dia anterior, que era mais uyghur. Muitos restaurantes/barracas de lamen e umas carnes estranhas. Conforme passávamos nos chamavam para comer.
  • Nos enchemos de procurar um sorvete descente e tascamos uns picolés vagabundos por 1 yuan cada.

Regras Sociais

  • Ai entramos em um restaurante fancy chamado Eversun Cafe, de “westfood”. Tinha ambiente agradável, tocava uma musica zen e o cardápio era bem mais caro que a média, mas ainda barato para padrões paulistanos. Pensamos em pedir ao Anwar nos levar para jantar ali mais tarde, mas precisávamos arquitetar como burlar seu preconceito aos chineses-han, e ver se seu budget do dia para refeições cobria aquela conta.
  • Chegamos no hotel umas 19h e tentamos usar a Internet lá mesmo, em computadores bem piores, link mais lento, por 8 yuan a hora (contra os 2 yuan do outro dia). Deixaram-nos instalar o Gizmo para telefonar mas não funcionou. Respondemos uns e-mails, organizamos umas fotos e Anwar chegou.
  • Levou-nos a um restaurante paquistanês atravessando a rua que era feio, tinha moscas e não inspirava. Sugeri irmos ao uyghur do primeiro dia, pedimos basicamente as mesmas coisas e foi ótimo.
  • Conversamos sobre casamento e dote, virgindade, aborto, independência das mulheres e dos jovens. A certa altura não olhava mais para a Tati devido as coisas que ele dizia, como a mulher ter que casar virgem, ser impura caso contrário e ser inaceitável um casal morar junto sem estar casado. Ficou um pouco constrangido no final porque, acredito eu, nossos argumentos eram muito mais fortes e bem embasados.
  • Talvez Anwar não seja a melhor pessoa para defender sua civilização, mas todos os exemplos que dava mostravam como essa sociedade era materialista, voltada às aparências, machista e atrasada aos nossos olhos ocidentais, apesar de ter uma veste espiritual e altruísta. O mais impressionante para nós foi ver até que ponto esses códigos estavam gravados em seu Eu porque mesmo vivendo um casamento aparentemente infeliz — ou ao menos indiferente —, Anwar continuava defendendo a virgindade, a compra da esposa pelo futuro marido, a castidade antes — e até depois — do casamento, e desprezava a “sujeira” das relações sexuais e a vilania do prazer.
  • Depois de nos despedirmos, comemoramos a sorte de termos nascido numa sociedade como a nossa, mesmo com todas as suas imperfeições.
  • Chegamos umas 22h no quarto, fizemos as malas, tomamos banho e fomos dormir.

O Mercado de Kashgar

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The Silence of the Lambs

  • Anwar decidiu ir primeiro ao mercado de animais. Ele estava um pouco de mau humor e tivemos de convencê-lo a não esperar no carro e vir conosco. Depois entendemos porque.
  • A feira funcionava ali há 6 anos, uma área murada do tamanho de um campo de futebol. O chão é uma mistura de cascalho, bosta seca e restos de capim da comida dos animais. Ovelhas de bunda gorda, peludas ou tosadas, jegues, camelos, cavalos, bois, muito pó, homens sujos vestidos com roupas muito similares se confundiam com turistas de roupas coloridas de tecidos de alta performance, câmeras pesadíssimas e cara limpa.
  • Animais amarrados tentavam copular exasperadamente e molhavam o chão.
  • A sonoplastia vinha do mugido das vacas, do berro das ovelhas, dos urros dos jegues. Mas a tudo isso se sobrepunha as discussões acaloradas das negociações dos uyghur, que pareciam que iam sair no tapa, mas terminavam apertando as mãos sorridentes.
  • Na saída, uma ovelha jazia morta com o pescoço cortado e o sangue derramado no chão. Um rapaz muito eficiente fez um buraco em sua perna traseira e soprava para a pele desgrudar. Quando se afastava para tomar fôlego, tinha sangue ao redor da boca. Depois começou a fazer incisões em locais precisos e remover a pele cirurgicamente, tudo diretamente sobre o chão da rua. Essa é a origem da carne e não o bem de consumo que supermercados vendem em embalagens a vácuo. Muitas pessoas parariam de comer carne se vissem essa cena dantesca com mais freqüência.

Negócio da China

  • De lá fomos ao mercadão de fato. Imagine o Mercado Municipal de São Paulo, mais a rua José Paulino com suas lojas de tecidos, as lojas de roupas feias do Brás, algumas partes da Sta Efigênia e seus componentes eletrônicos, mais dezenas de camelôs de sapatos de todos os tipos inclusive usados, mais vendas de vestidos de festa, ternos, sedas, cashmere, artesanato, especiarias, higiene pessoal, louça, lataria, frutas e legumes. Esse é o mercado de Kashgar.
  • Não há compra sem pechincha porque o preço é feito de acordo com a cara do freguês. Nunca está escrito sobre o produto e o preço final pode ser menos de 50% do primeiro preço. Esses caras inventaram a lei da oferta e da procura.
  • Em certos lugares havia tanta gente, e-bikes, motos e carga passando que tínhamos que nos segurar para não nos perdermos um do outro. Mesmo assim não fazíamos a menor ideia de onde estávamos e foi um barato.
  • Umas 14h encontramos o Anwar no lugar combinado e ele nos ajudou a comprar chá de especiarias. Mas o homem moeu demais e virou um pó que deixou a Tati chateada. Moer assim é coisa de quem faz temperos e não chá. De qualquer forma, o saco fechado deixava um perfumado aroma de cardamomo e cravo no quarto do hotel.
  • Do mercado fomos almoçar perto do hotel. Anwar pediu a comida mas esperou na rua. Estava em jejum.
  • Depois fomos ao hotel, dormimos até umas 17h e fomos bater perna na avenida de lojas chinesas, a principal da cidade.

Han chinese

  • Numa livraria compramos todos os exemplares do Mister O e Mister I, quadrinhos simpáticos sem palavras.
  • Entramos em shoppings, galerias, vimos restaurantes han-chineses autênticos, compramos roupa sem falar 1 palavra de Chines. Uma calculadora pode ser um ótimo mecanismo de comunicação. Finalmente conhecemos a China chinesa.
  • Na saída de uma grande galeria, já escuro, casais dançavam como em dança de salão ao ar livre. Não entendemos se era uma aula ou se estavam se divertindo. De qualquer forma entramos e gastamos os passos que tínhamos aprendido nas aulas no Brasil.
  • Um senhor escrevia no chão aquela caligrafia bonita com agua e um pincelzão molhado. As frases saiam na vertical. Outro homem andou nervoso sobre a caligrafia, gritando com o escritor a ponto de espanta-lo para outro lugar na praça, sem dizer uma palavra. E continuou a escrever.
  • Voltamos ao hotel para encontrar Anwar que atrasou meia hora. Ele apareceu com sua e-bike e nos deixou dar uma volta. Eu quero uma e-bike: completamente silenciosa, forte o suficiente mas com pouco torque, confortável e fácil de usar. A bateria tem autonomia de uns 100km e passa a noite recarregando numa tomada simples. Custa uns 3000 yuan e todos tem uma porque o governo proibiu o uso de motocicletas de combustão no centro das cidades por serem perigosas e barulhentas. Seria uma ótima solução para cidades como São Paulo, se tivéssemos mais faixas para bicicletas.
  • Nos levou a um restaurante muito elegante que um holandês no hotel disse que parecia caro mas é barato. Anwar pediu uma sopa de carne com legumes para a Tati e um arroz branco com legumes para mim, além de um preparado quente de berinjelinhas com molho de tomate bem apimentado. Estava tudo ótimo.
  • Aquilo era considerado um restaurante fast food apesar de não parecer. Na verdade todos que fomos eram assim, e a comida de fato chegava rapidamente. Restaurantes normais servem banquetes para varias pessoas, e a conta sairia uns 200 yuan. Mas nestes não chegava a 70 yuan.
  • Conversamos sobre coisas leves, línguas, a sociedade Uyghur, vícios, vida noturna, e um imaginário “Uyghuristan”. Anwar disse que uyghur são muito ciumentos e tem dificuldade de trabalhar em equipe pois brigam entre si, mas ao mesmo tempo todos churingas tem talentos. Estávamos todos felizes e foi agradável.

Internet subversiva

  • Precisávamos descarregar a câmera e havia uma enorme LAN house ao lado. Na bagunça da fila para se registrar, Anwar disse que esta era “muito chinesa” e havia outra perto dali mais uyghur, com cabines privativas e menos fumantes. Por causa do excesso de fumaça acabamos seguindo ele.
  • Por 2 yuan por hora recebemos ótimos computadores com Internet muito rápida. Era um lugar com muitos salões grandes e poltronas confortáveis. Deviam haver mais de 100 máquinas ali.
  • Ao plugar o iPod para receber os arquivos, dava tela azul sempre. Tive que usar o PC do administrador no quarto de dormir dele, onde havia espaço exato só para mais a cama.
  • Estava tudo em chinês e operamos os PCs baseado na lembrança da posição dos ícones e opções dos menus. Se fosse Linux, como isso muda em cada distribuição, provavelmente estaríamos completamente perdidos e não iríamos conseguir usar nada.
  • Não havia nenhum software de VoIP e nem tentei instalar porque percebi que o PC era todo protegido e de uso restrito. Não havia MSN Messenger instalado e no lugar usavam um tal de QQ. Depois reparei que isso era comum em outros lugares. Vi muitos ícones do KDE no desktop. Selecionei o do Konqueror mas abriu um programa que não conhecia.
  • Acessar a Internet tem uma burocracia considerável na China. Todo mundo tem que apresentar documento, ser registrado e se fizer algo subversivo tem que prestar contas para a rapaziada do Mao. Após apresentar os passaportes, nos deram um usuário e senha. A máquina deslogava após 1 hora de uso.
  • Pessoas iam lá principalmente para jogar, para surfar um pouco na Internet ou para assistir filmes e seriados. Isso mesmo: uma pagina interna indexava filmes e episódios de seriados já baixados disponíveis em seus servidores. Um clique no browser abria o player e a sessão começava. Só descobri isso porque foi o que Anwar fez (e me mostrou) enquanto usávamos o ciberespaço. Ele na verdade só vinha para LAN houses para isso. Nem e-mail tinha e acabei criando um GMail para ele.
  • Chegamos no hotel 1h da manha, tomamos banho e chapamos imediatamente.

Kashgar, China

Estamos desde sexta a noite em Kashgar, uma China das Arabias. A unica coisa que lembra China aqui eh que algumas lojas tem letreiros em chines, todo o resto eh arabe, inclusive a fisionomia da maioria das pessoas que eh de um povo chamado Uyghur.

Deveria existir um Uyghuristan, mas a China nao deixou e mantem essa gente meio socialmente oprimida.

Hoje fomos ao mercado de domingo, que eh uma mistura de Mercado Municipal, Festa do Peao de Barretos, R. Santa Efigenia, e a feira do bairro, tudo somado e multiplicado por 12.

As coisas sao bem baratas, inclusive eletronicos e comida que continua apimentando nossas entranhas. Estou tentando balancear as coisas com sorvete e cha verde. Vegetarianos sofrem aqui. Ou tem carne ou eh cozido com carne, nao tem muito jeito. Esta eh uma China muculmana/iraniana/persa, nao budista.

De qualquer forma, soh agora comecou a me cair a ficha do barato de viajar por lugares completamente diferentes do nosso mundo. Gosto daquele ditado: soh podemos saber realmente quem somos se conhecermos pessoas completamente diferente de nos. Esse deveria ser o ditado da diversidade porque soh experimentando mundos novos anulamos vicios e habitos do mundo em que vivemos, e o que sobra eh a essencia de nos mesmos. O delta.

OK, viajei na viagem…

Amanha vamos para o lago Karakol com a promessa de paisagens de tirar o folego. Ai temos mais 4 dias de Moscow.

Nasdravia, Namaste, Xush Kilibsiz, Hair Hosh e bye bye

Kashgar: Uma China das Arábias

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

  • O café era servido das 7:30 às 8:30, horário nada amigável para turistas. Chegamos mais de 8h, muitas coisas já haviam acabado e não tinham o costume de repor. Nada de frutas, nem queijo, nem suco, nem água. Só alguns tipos de pães fritos ou no vapor, dumplings recheados de verduras, ovos fritos, umas verduras cozidas, chá e cafe. Nos safamos com uma geleiazinha escondida atrás do repolho refogado com pimentão.
  • Às 9h encontramos com o Anwar e fomos à parte histórica da cidade, que tinha muito em comum com as cidades antigas que vimos em Tashkent, Khiva e Bukhara.
  • Fomos primeiro na mesquita Id Kha, a maior e mais antiga da China. Foi construída com o dinheiro de uma milionária que estava indo em peregrinação para Meca, não pode seguir em frente porque havia problemas na Índia e acabou presuntando por aqui mesmo. Daí pegaram a grana da véia e construíram a bela mesquita. O mais bonito mesmo era o jardim de rosas e árvores (poplars) interno à mesquita. Dentro, a estrutura conhecida de gesso colorido, pilares decorados e uma curiosa influência chinesa na decoração dos tetos, com flores e brilho de naca.

Esconda Seu Rosto, Mulher !

  • Saímos da mesquita para ver a rua dos artesãos, próxima. Andamos pelas ruas cheias de lojas de artesanato e outras coisas lá perto. Uma loja de instrumentos vendia dutors de vários tamanhos e também violinos, contra-baixos, e outros instrumentos feitos ao estilo dessa região. A Tati comprou um de brinquedo para o Leozinho.
  • Vimos um ourives trabalhando o ouro, um carpinteiro rapidamente transformando tocos de madeira crua em peças acabadas para moveis, com ajuda do torno elétrico.
  • Haviam também muitas mulheres com o rosto completamente coberto por véus grossos e 2 meia-calça sobrepostas. Anwar disse que isso servia para que mulheres casadas não sejam olhadas e cobiçadas nas ruas. Ele achava isso correto. Argumentei que isso era problema de quem olhava e não da mulher, mas disse que isso é uma superstição que respeitam.
  • Chegamos numa esquina onde dezenas de pessoas se amontoavam em pequenos círculos. Estavam comprando e vendendo celulares usados em frente a uma galeria de lojas e oficinas focadas em celulares. É o mercado de pulgas de celulares. Olhei alguns preços mas fomos embora.
  • Almoçamos cedo e sem fome em um restaurante popular onde se divide a mesa com outras pessoas. Anwar decidiu horário, local e o que iriamos comer sem fazer demais pesquisas de mercado. Nem esquentamos. Pediu uma sopa de macarrão com carne para a Tati, lamen vegetariano para mim e dumplins (pão cozido no vapor) supostamente vegê de abobora, mas tinham pedacinhos de carne dentro e muito gosto de gordura animal. Anwar esperou fora porque estava em jejum do Ramadhan e não queria ficar olhando a comida.
  • Fomos ao Banco da China trocar dinheiro. $1=7.43 yuan.

Conflito de Culturas

  • Depois fomos ao túmulo de Apa Hodja, líder local do seculo XVII que foi para o Tibet, descolou um grau de monge e voltou para reinar e cometer um monte de atrocidades. Há divergência na história contada pelos Han-chineses e os uyghur. Segundo os han, lá estaria enterrada a concubina do imperador chinês (the fragrant concubine), então pouco importaria o Apa Hodja. Para os Uyghur, a concubina decidiu espalhar os seus perfumes por outras bandas e jamais foi enterrada lá. Não soubemos direito por que, mas era uma questão importante. Tanto que a placa oficial do local fazia questão de frisar que o governo chinês respeitava a liberdade religiosa e vivia em paz com suas minorias. Falô, então.
  • Usamos uma placa trilíngüe de No Smoking para aprender a caligrafia árabe e chinesa e um pouco da língua uyghur.
  • Anwar queria nos levar para ver artesanato numa fábrica de tapetes mas preferimos tomar sorvete. 6 yuan compraram 2 copos com 3 bolas médias cada de um sorvete nota 6.5. Anwar também não chegou perto devido ao jejum.
  • Começamos às 9h, trocamos mais dinheiro e fomos ao famoso mercado de domingo de Kashgar.

Oração Fria

  • Depois Anwar me levou para rezar numa mesquitinha. Havia lhe pedido essa oportunidade. Levou-me primeiro a um banheiro público em frente. Avisou que seria mal cheiroso mas necessário. Comparados a uma pessoa do século VIII, ele e eu estávamos assepticamente limpos, mas fomos ao ritual da limpeza. Deu-me um jarro d’água e me mandou a um lugar semi-privativo para lavar as parte íntimas. Depois sentamos num banquinho e mandou lavar os pés. Perguntei se era necessário, porque estávamos atrasados e meus pés estavam limpos. Comandou que sim e obedeci. Lavei também o rosto e ouvi algumas pessoas limparem as vias respiratórias. Um detalhe: o lugar era tão mal cheiroso que só entrar lá já me fazia sentir mais sujo.
  • Atravessamos a rua, entramos na mesquita e pegamos uma espécie de segundo turno da reza daquela hora. Éramos uns 8 homens rezando num espaço para 15 pessoas. Um homem vestido bem simploriamente parecia dirigir. Durou uns 10 minutos. Ao terminar todos saíram como desconhecidos que eram.
  • Voltando ao carro, Anwar perguntou-me porque fiz movimentos diferentes dos demais e expliquei que, para mim, foi um pouco difícil ficar ajoelhado. Não estava acostumado a essa posição como eles, e por isso me mexi um pouco durante a reza. Ele disse que não era bom que eu fizesse a minha própria reza.
  • Essa foi a segunda vez que pratiquei a reza muçulmana. A primeira foi no deserto da Jordânia, indo para Petra, em um silêncio sem fim, com Ashraf, um muçulmano moderno e de cabeça aberta, sem restrições de horários ou dogmas de limpeza obsoletos ao homem urbano do século XXI, e que foi antecedida por ótimas discussões filosóficas inspiradoras. Se aquela vez foi sincera e simples, esta foi mecânica e rebuscada. Se a outra foi ampla e inspiradora, esta foi escura e cheia de graxa. Se aquela foi emocionante e inesquecível, desta vez foi para preencher o tempo.

Tecnorogia Chinesa, né?

  • Fomos à esquina dos computadores e no subsolo havia uma galeria bem parecida com os Standcenters de São Paulo, mas as divisões entre as lojas não eram claras e todos pareciam vender para todos. Olhei rapidamente algumas lojas e no fim comprei 1 leitor de cartão SD para USB, 1 adaptador bluetooth USB, 1 cartão micro-SD de 2GB para meu Nokia E61i, 1 hub USB 2.0, 1 pen drive de 2GB, 1 adaptador Sony de Memory Stick Duo Pro para Memory Stick normal, 1 HD Hitachi de laptop de 160GB e 1 adaptador USB para o HD, tudo por $156. No Brasil só o HD iria custar uns $250. Foi difícil convencer a vendedora aceitar uma das notas de $20 que estava mais gasta, mas deu tudo certo. Pedi para testarem todos esses storages transferindo um monte de MP3s uyghur e chineses para eles. Intercambio cultural é tão mais fácil nessa nossa era digital.
  • Dispensamos o Anwar e decidimos comprar tranqueiras no supermercado e comer no quarto. Tínhamos poucos yuan, mas compramos frutas e suco para o café da manha, salgadinho, milho em lata, chocolate e sabonete para não ter que usar o do hotel. No caminho a pé para o hotel, uma vendinha fazia nan (pão) no tandoor. Compramos 1 por 1 yuan. Estava quente, fresco e delicioso. Chegaram no hotel praticamente só as migalhas para contar historia.
  • Tomamos banho, assistimos TV com filmes nacionalistas chineses, vimos muitas propagandas incompreensíveis mas muito bem feitas e divertidas e 21:30 estávamos dormindo.

Chegando em Kashgar

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Neve !

  • Acordamos às 5h bem dispostos. No café nos deram um prato com fatias de salsichão frito, fuzili cozido na agua, um ovo cozido e salada de tomate e pepino. Mais manteiga e pão que no dia anterior já estava velho. Esta, adicionada ao fuzili, ficou ótima.
  • Caímos na estrada ainda no escuro e dormimos mais um pouco. A paisagem de planícies nuas envolvidas por montanhas ainda era impressionante.
  • Vez ou outra grupos de animais cruzavam a pista. Cavalos, bois, ovelhas e camelos. Os kyrgyz eram nômades e no último século muitos passaram a ser nômades somente no verão. No inverno voltam das pastagens para suas casas fixas. Fazia frio e os animais corriam provavelmente para se aquecerem.
  • Conforme a altitude aumentava a paisagem mudava de um pouco nevada a completamente branca.
  • A certa altura pegamos outra estrada para visitar Torugard que ficava a mais de 4000m de altitude. Um pouso para caravanas do século X ou XI (a mais antiga de toda viagem) no meio de um cenário completamente branco e gelado. Pitoresco. Brincamos um pouco com a neve e tiramos umas fotos.

Hora do Rush

  • Voltamos para a estrada de terra e dormimos mais um pouco. Estávamos no meio do nada indo para a fronteira com a China. Nada menos que 60km antes da fronteira havia o primeiro posto de inspeção e próximo dele havia uma fila enorme de caminhões-containers voltando para a China.
  • Quanto mais nos aproximávamos da fronteira, mais intenso era o tráfego de caminhões. Os caminhões chineses eram modernos e coloridos de marcas nacionais e os kyrgyz eram cinzentos e velhos, sempre da marca russa Kama3.
  • A estreita estrada de terra, mais a neve, mais o trafego intenso, mais os desfiladeiros, faziam a velocidade media ser baixíssima. Constantemente parávamos e esperávamos fora do carro. 200m antes da fronteira um dos caminhões chineses deslizou e bloqueou a pista. Mas depois de muito trabalho conjunto de outros caminhoneiros, inspirados pelo boneco de neve da Tati, ele conseguiu sair.
  • Chegamos na fronteira umas 13:30 e ficamos sabendo que outro caminhão deslizou no lado chinês. Isso era especialmente ruim porque só atravessaríamos se o nosso novo guia conseguisse chegar da China para nos pegar. Trocaríamos de condução também. Não sabíamos quanto tempo ele iria demorar, não dava para telefonar.
  • A fronteira não passava de uma cancela de ferro mais uma casinha no meio de um grande nada de montanhas nevadas. Alfandega e burocracia ficavam, vários kilometros antes e depois. Era sexta-feira e o posto fecha no final de semana. Se o guia chines não aparecesse teríamos que passar o final de semana arrumando o que fazer no Kyrgyzstan. Nossa última refeição foi às 5:00 da manhã e por sorte a Natalia trouxe um tipo de balas duras de queijo seco, salgado e coalhado, típicas dessa região, que ficamos chupando para enganar o estômago agonizante.

China Ma Non Troppo

  • Antes das 15h nosso guia chegou. Despedimos de Natalia e Sacha (que iriam passar mais algumas horas de mal retorno antes de conseguir almoçar) e trocamos a van por um carro sedan urbano.
  • Anwar era nosso novo guia. Homem simples, simpático e falava um inglês bem razoável. Apresentou-nos ao Mr. Ma, o motorista, dinâmico, veloz, muito comunicativo apesar de ser enorme e não falar uma palavra em inglês. Ambos tinham os olhos muito pouco puxados, eram chineses de nascimento mas de minorias uyghur (Anwar) e hui (Mr. Ma).
  • Viajamos por longos e estreitos 87km de estrada de terra, boa parte com neve e caminhões parados. A neve ia sumindo conforme descíamos, e a paisagem deste lado da cordilheira era completamente diferente. As rochas apresentavam um tipo de erosão escultural e tinham muitas cores. Fomos constantemente beirando um rio que ao longo dos milênios formou um canion cortando as montanhas de geologia moderna. Em épocas de cheia sua largura era de ate uns 100m mas a julgar pelo muri da estrada, não chegava a 2m de altura. Mas nessa época do ano não passava de um córrego que deixou um leito seco e infértil de cascalho.
  • A paisagem humana do lado chines é igual: kyrgyz criadores de ovelhas, cavalos, camelos, moradores de yurts e semi-nômades.
  • A estrada virou um bom asfalto logo antes do posto da alfandega (87km depois da fronteira, mas em uma região menos insólita). No posto tivemos que descarregar, preencher uns formulários, apresentar passaportes. Ônibus e caminhões de mercadores uyghur, kyrgyz ou sabe-se lá o que iam para a China carregadíssimos de tapetes e outras mercadorias. Eles furaram a fila algumas vezes. Havia também um free shop ali que vendia principalmente bebidas e cigarros. Todos os fardados eram etnicamente chineses, apesar daquela região ser dominada por outros povos.
  • Passamos a alfandega, recarregamos o carro e fomos atacados por cambistas. Despistamos todos. Em breve a estrada se transformou em duplicada e os 80km restantes passaram rápido. Fizemos os 170km em pouco mais de 3 horas.

Uma Beleuza de Hotel

  • Nos levaram ao hotel Seman que Anwar tratou de orgulhosamente vender como excelente e de propriedade de um uyghur. A recepção era iluminada com poucas lampadas fluorescentes de padaria, o que tornava tudo meio esverdeado. Mas isso era fichinha perto da decoração com espelhos fumê e temas floridos em alto relevo de gesso colorido coberto de purpurina que dominavam as paredes e teto. Um calafrio subiu pela espinha. O chão do refeitório era lavado tipo 2 vezes por mês e o banheiro era tão mal cheiroso quanto um banheiro público.
  • Sobre o quarto, motéis de beira de estrada eram mais bem decorados para nossos padrões ocidentais. Encheram as paredes com os tais gessos coloridos pintados de dourado em algumas partes. Tivemos que mudar de quarto porque o primeiro estava completamente empregnado de cigarro. A banheira era desnivelada, o chuveiro molha todo o banheiro, não davam tapete para o chão, o sabonete era muito mal cheiroso, forneciam só ½ rolo de papel higiênico por vez, os azulejos eram mal remendados e uma placa de plastico mal pendurada sob a pia escondia o encanamento. Não dava para juntar as camas, os móveis eram velhos e riscados, não havia onde colocar e abrir as malas, não há onde pendurar toalhas usadas e as cortinas eram das mais vagabundas. Ainda por cima o quarto era no 3° andar e não havia elevador. Só não dava para dizer “não é 3 estrelas nem aqui nem na China” porque estávamos na China.

Povo Uyghur 360°

  • A hospitalidade de Anwar se sobrepôs a sua sensibilidade para entender que estávamos há 2 dias viajando assados e sem banho e nos convocou para jantar em 10 minutos.
  • Ele nos levou a um restaurante de comida uyghur atravessando a rua. Era tudo que nossos intestinos sofridos não precisavam naquele momento. O hotel me deixou nervoso e descontei boa parte no doce Anwar que não tinha nada a ver com isso.
  • O restaurante tinha a mesma decoração do hotel com o acréscimo de muita fumaça no ar. Mas a comida estava ótima. Ele pediu um ótimo lámen vegetariano leve e sem pimentão para mim e um mais caprichado para a Tati. E mais vagens com pimenta e gergelim, uma salada de cenoura, pimentão e pepino bem apimentada e outra que tinha base similar mas com menos pimenta e mais cominho, e também um prato de pepino fatiado que refrescava os outros ardidos. Veio também uma verdura que parecia um hibrido de acelga e cebolinha cozida com algum cogumelo que parece alga, e estava bem ardido. Destaque para o chá, de aromas bem mais complexos que o insosso verde dos dias anteriores, com cardamomo, cravo, açafrão, jasmim e outra especiarias.
  • Estimulado por nossa curiosidade, Anwar contava orgulhosamente sobre a região, a sociedade uyghur e como era sutilmente oprimida pela maioria chinesa do pais. Os uyghur são muçulmanos e etnicamente parecidos com os uzbekes e persas. Sua língua é também similar, e usam o alfabeto arábico. Contando, temos as línguas uzbek, kyrgyz e uyghur todas muito similares e derivadas do turco, mas usam o alfabeto latino, cirílico e árabe respectivamente. Uma salada etimológica.
  • O doce Anwar era um resultado confuso de antigas tradições, regras para um mecanismo social que deixou de existir e costumes vencidos. Um abismo de gerações isolado em sua cultura parou de perguntar o porquê de tudo aquilo e ao longo dos seculos a ação desprovida de pensamento transformou tudo em leis sagradas inquestionáveis. Essas mesmas características são encontradas em qualquer sociedade religiosa fechada e secular, como a judaica e outras.
  • A discriminação faz os uyghur se voltarem e valorizarem mais ainda suas tradições. Era o islã menos aberto de toda a viagem. Anwar contou que teve um casamento arranjado pela família, que tinha antes uma namorada que gostava muito e demorou para responder se gostava da atual esposa. Mesmo assim contou com orgulho como os índices de divórcio eram mais baixos entre os uyghur. Com altivez ingenua disse que deserdaria o filho se ele se casasse com uma chinesa, kyrgyz ou americana. Seu ponto era que tinha que ser muçulmana. Mais ou menos, porque kyrgyz e khazaks (de traços mongois) também são muçulmanos mas foram rejeitados de sua lista de namoradas ao filho, que continha uzbekes, tajikes e outros grupos persas.
  • Uma pessoa menos religiosa, talvez menos vitima da sociedade ou de uma sociedade mais aberta, e que tem parâmetros de outras culturas acaba fazendo simples perguntas que deixam pessoas como Anwar sem resposta e talvez sem chão.
  • Depois do jantar finalmente tomamos um longo banho e fomos dormir assistindo TV sem entender nada, mas achando um barato. Estava passando o filme Alexandre O Grande, bem conveniente para nossa viagem.

Rumo a Kashgar via Naryn

Este relato é parte de uma viagem à Ásia Central que começa aqui.

Almoço no Yurt

  • Após uma ótima noite de sono, acordamos dispostos, tomamos café junto com um grupo de Singapura. Esperamos a Natalia e caímos na estrada.
  • Dormimos um bom pedaço da estrada até chegarmos em Koshkor, uma pequena vila onde iríamos almoçar.
  • Chegamos a uma guest house onde haviam vários turistas assistindo uma viva mulher fazendo artesanato com lã.
  • No quintal da casa haviam vários yurts para turistas. Antes visitamos a loja de artesanato onde haviam vários artigos de lã e feltro, provamos vários chapéus típicos, tentei tocar os instrumentos de corda e a Tati acabou levando um camelo de lã para o Thomas.
  • Entramos os quatro para almoçar no yurt. Haviam várias geleias na mesa e o melhor pão da viagem até agora. Provamos também umas frituras com gosto de nada que vimos vendendo por kilo nos bazares.
  • Uma senhora trouxe uma chaleira antiga chamada samovar que mantinha a agua para o chá quente, transferia para uma chaleira menor e de lá servia para cada um.
  • A entrada foi uma salada de cenoura com massa de arroz em formato de tagliarini, temperada com balsâmico e algo mais. Depois veio uma sopa de batata, cenoura e outros legumes com um pouco de carne, temperada com bastante dil. E o prato principal eram legumes cozidos com carne, mas até ele chegar nos empanturramos com tanto pão que só deu pra provar.
  • Ficamos conversando com a Natalia sobre a vida dos jovens, línguas, telecomunicações, e varias outras coisas.
  • Saímos para caminhar na pequena vila, ver os mercadores e tirar umas fotos de pessoas. E caímos na estrada novamente.

Planícies Nuas, Montanhas Bicudas

  • Sempre viajávamos por planícies muito amplas e nuas cercadas por montanhas pontudas por todos os lados. Havia neve no pico de muitas delas. A terra é bastante pobre e rochosa. Pouquíssima gente vivia ali, a agricultura já tinha sido colhida para a chegada do inverno. Agora, só havia feno para colher. A Natalia falou que o povo kyrgyz era tão nômade que tiveram que criar associações locais para ensiná-los técnicas de cultivo e de construção de casas.
  • Víamos muitos grupos de carneiros, cavalos e gado pastando ou sendo levados pelos pastores. É que no começo do outono, com a chegada do frio, eles descem a montanha com seus rebanhos e vêm para lugares mais quentes. Por isso, também vimos na estrada yurts desmontados sendo transportados em caminhões.
  • Diferente de nossas paisagens, os rios evoluíam nus, sem nenhuma vegetação escondendo sua passagem cristalina. Planícies vastas, montanhas ao longe e rios a céu aberto conferiam um tom de paraíso a toda a cena.
  • No fim da tarde chegamos em Naryn, uma cidade um pouco maior que a vila do almoço. Entramos numa guest house chamada Celestial Mountains e iriamos dormir num yurt mas nos deram o quarto da TV onde transformaram 2 sofás em camas, tinha bastante espaço, TV, DVD e vários filmes. Mas a empolgação durou pouco ao vermos que todos os filmes eram piratas e falados em russo. Os chuveiros, privadas e pias eram comunitários mas limpinhos. E haviam muitos outros turistas ali, principalmente holandeses.
  • Umas 18h metemos uns jaquetões pela primeira vez na viagem e fomos caminhar com Natalia pelas ruas de Naryn. Vimos escolas, crianças, prédios de aparamentos em condições ruins, praças, monumentos, casas de chá e vendas. Numa delas comprei um bom picolé por 10 som, menos de 1/3 de dólar. Tive que esquentá-lo no bolso por um tempo antes de abrir porque estava muito duro.
  • Voltamos umas 19h para o alojamento, bem na hora do jantar, e ouvimos outras pessoas já sentadas à mesa. Deram-me uma salada de pepino e tomate no lugar de uma maionese com carne, depois sopa vegetariana no lugar da sopa com carne, e arroz branco simples e puro no lugar do arroz com frango para os outros.
  • A luz piscou, acabou e voltou diversas vezes durante o jantar até que trouxeram velas. E todos se divertiram com isso.
  • Marcamos tomar café às 5:30 no outro dia, e depois do jantar já fomos direto para o quarto para não sair mais.