Minha Virada Cultural

Esta é a programação que pretendo fazer nesta Virada Cultural. São as coisas que eu quero ver, e em vermelho as coisas que mais quero e pretendo conseguir.

Este ano o foco vai ser só música. Não dá pra fazer tudo… 🙁

[link só prá planilha]

Uzbequistão

Viagem ao Umbigo do Mundo

Kyrgyzstão

China

Moscow e Paris

Impressões Gerais

Eu recomendo fortemente qualquer pessoa fazer viagens desafiantes. Dificilmente nossa cultura e pontos de vista vão crescer se passarmos 7 dias coçando num resort.

Pode ser qualquer lugar: Amazônia para urbanóides, Islã para ateus, Las Vegas para saudosos marxistas.

Além do gostinho de poder contar que fomos para lugares que muitas pessoas não sabem nem pronunciar o nome, o desafio nos fez pensar muito sobre a história do mundo, o fluxo das etnias humanas, sociedade, economia, comida, fé, religião, e principalmente sobre nós mesmos e o que de fato somos.

Viajar pela Ásia Central não foi nada difícil. As pessoas são amigáveis e bonitas, os hotéis são confortáveis, cidades bem equipadas. E se você não for se meter no Afeganistão ou no Kashmir, a paz reina.

Etnias

O Uzbequistão faz fronteira com o Irã, antiga Pérsia, que definiu o tipo étnico da região há milênios. Mas a região foi também berço de incursões militares gregas de Alexandre o Grande e Genghis Khan. Isso conferiu uma mistura incrível de traços, cores de olhos e línguas.

É comum ver persas claros, loiras de olhos puxados, ou mongois de olhos verdes. E vimos mulheres realmente lindas.

O noroeste da China não é chinês. Pelo menos não no esteriótipo de chinês que as pessoas costumam ter na cabeça. O noroeste da China é tão persa quanto o Uzbequistão.

Já o Kyrgyzstão tem olhos mais puxados do que o noroeste da China. Se te teletransportarem para lá de olhos fechados, vai dizer que está no interior da China.

Línguas

Toda aquela região, inclusive o noroeste da China fala dialetos muito parecidos, todos derivados de língua turca. Uzbeque, Kyrgyz e Uyghur são línguas 95% similares e todos se entendem pela lingua falada.

O problema é ler e escrever. As línguas escritas no Uzbequistão são o russo (alfabeto cirílico) e o uzbeque a décadas escrito em cirílico. Mas recentemente o governo decidiu dar um passo no sentido da modernidade e maior integração com o ocidente adotando alfabeto latino como o oficial para escrever uzbeque.

No Kyrgyzstão eles não ligam muito para relações internacionais, então continuam escrevendo kyrgyz em cirílico mesmo. E na China, o povo Uyghur se orgulha em manter as tradições usando o alfabeto árabe (diferente da língua árabe) para ler e escrever.

Mas isso não tem muito problema porque o Uzbequistão é o maior produtor de videoclipes da região e todo mundo acaba ouvindo música Uzbeque que obtém de DVDs pirateados.

Há ainda inúmeros outros povos na região, que falam dialetos parecidos: os Khorezm, os Kazakhs, Tajiks, etc.

Fé e Religião

Esse foi um dos aspectos mais interessantes da viagem. A região é predominantemente islãmica. É incorreto dizer que são árabes porque estes são os que vivem na Península Arábica, milhares de quilómetros a oeste da Ásia Central.

Mas é um islã leve. Se não visitássemos os lugares históricos talvez nem percebêssemos. No Kyrgyzstão é mais leve ainda. Não há uma conexão muito grande com isso por lá.

Só a China nos surpreendeu. Sim, a China. Foi somente alí que vimos mulheres de rostos cobertos e fanatismo um pouco mais evidente. Isso acontece porque há um preconceito mútuo entre os chineses Uyghurs (predominantes no noroeste do país) e os chineses Han (os de olhos puxados). A conseqüência é que a minoria Uyghur acaba se voltando mais para sí, fomentando tradições e costumes em torno da religião. Ao longo dos séculos, costumes temporais, tradições sociais e leis religiosas se confundem e tudo vira sagrado sem se saber exatamente o motivo.

Coisas que não existem na Ásia Central

  • Preço estampado em qualquer mercadoria. O preço é feito sempre na hora, conforme a cara do freguês e o humor do vendedor. E sempre há margem para pechincha.
  • Adoçante dietético. Nenhum restaurante tem, mesmo se pedir.
  • Coca-Cola Light ou qualquer outro refrigerante dietético.
  • Folhas tipo alface, rúcula ou agrião. Nem na feira. Quando pedíamos a “Salada Verde” do cardápio de alguns restaurantes, era de coentro, cheiro-verde e dil. Uma salada de temperos verdes.
  • Saladas sem coentro.
  • Comida quente sem carne ou sem qualquer gordura animal. “Tem carne nisso aí?”. “Não, só bacon pra dar um sabor”.
  • Comida sem óleo.
  • Facas que efetivamente cortam. Todas eram cegas.
  • Guardanapo limpo sobre a mesa assim que se senta. Sempre tínhamos que pedir.
  • Guardanapo usado que fica na mesa mais de 3 minutos. Os garçons tinham algum tipo de obsessão em recolhê-los assim que fossem usados ainda que pouco.
  • Hoteis com cama de casal. Mais raro que mosca branca.
  • Área ou quarto de hotel para não-fumantes. Em qualquer sala de espera, restaurante, quarto de hotel etc, fumavam sem parar de todos os lados.

Petit Comité com Pintia Tempranillo 2001

Pintia Tempranillo 2001Ao entrarmos em sua adega pessoal, mais de 800 garrafas gritavam “pick me, pick me”. Nossa ansiosidade era tanta que o termômetro mostrou aumento de temperatura de 17 para 18°C. Sacamos um Pintia Tempranillo 2001, da região do Toro na Espanha. Um supervinho com aromas que nunca havia experimentado antes.

É muito chique ter uma adega particular. Mais chique ainda saber quais vinhos servir e tal. Muito chiques esses meus amigos.

Foi um petit comité que desafia o paladar, como todos os que eles nos convidam. Uma outra vez naquela mesma sala renasci (já meio bêbado, confesso) quando ele serviu algo que nem sabia que existia: pequenas garrafas de vinhos de sobremesa com uvas de colheita tardia. Ele gostava mais do deslumbrante sul-africano, mas eu me apaixonei mesmo pelo Henry Cosecha Tardia 2003, argentino da Lagarde.

Naquele dia, as outras pessoas continuavam falando de estátuas, o Crescente Fértil, chicle de bola, sei lá. Mas eu me deslumbrava na viagem dos vinhos. A quantidade de perfumes e complexidades que pode uma garrafa conter desafia qualquer lei da física.

Petit comité no LosPara a sobremesa de ontem, abrimos um Alvear Pedro Ximénez Solera 1927 (sim, você leu o ano corretamente), extremamente doce, licoroso, de textura espessa, com aroma de calda de figos, para acompanhar um revezamento entre sorvete Häagen-Dazs Praline e queijo tipo roquefort, este último bastante salgado, como de costume, para balancear a doçura do vinho.

Aguardamos ansiosamente a próxima oportunidade, e acho que vai ser regado a Zinfandels que eu trouxe da Califórnia.

Sottozero já era, se vira

Eu lembro quando a sorveteria Sottozero abriu sua primeira loja na Rua Augusta em São Paulo.

Quilômetros de paulistanos se empacotavam na rua para mandar ver aquele sorvete novo e diferente. Eu demorei mais de ano para provar por que não sou muito chegado em lotação.

Inesquecível também quando finalmente fui agraciado pelo seu sorvete ultra-sofisticado. Tinha um sabor temporário chamado Fantasia de Laranja que era nada menos que apoteótico. Só uma vez na vida.

Isso foi há muitos anos. Ontem levei uma prima americana para se sorvetar na Sottozero da Sumaré. Fiquei meio chateado. Eles ainda têm uma lista comprida de sabores pitorescos mas a qualidade enveredou para bem regular. Antigamente seu sorvete ineditamente cremoso escorregava da pá, hoje é tão duro quanto as massas de supermercado. E alguns sabores têm um final nítido de artificial, a começar pelo de graviola que provei ontem.

Uma pena tanto talento de confeiteiro se curvar à necessidade de aumentar os lucros.

De sorvete bom em São Paulo há a Offelê na Lorena. Prove o de castanhas portuguesas (marrom glacê), zuppa inglese, e o de milho se tiverem. E na Parmalat pode-se elevar a alma com os espetaculares Canela e Cookies ao Porto, por caros R$7 o copinho. De supermercado tem o de Abóbora com Côco da La Basque que é absurdamente bom e caro ao mesmo tempo. A Ofner também sempre fez um sorvete responsa daqueles que preenchem até o vazio da alma.

Agora, o melhor sabor de sorvete do universo é o de Bacurí, uma fruta do norte. Em Sampa, de tanto que martelo, começou a ser servido em alguns lugares. Tente num bar chamado Feira Moderna (rua Fradique Coutinho perto da rua Wizard) ou uma pequena cafeteria que fica no Itaim Bibi, na rua Jesuino Arruda entre ruas João Cachoeira e Manuel Guedes.

Destaque para uma sorveteria de Paraty chamada Sorveterapia, na avenida da entrada da cidade. O dono é um cara simples e que faz os sorvetes com as próprias mãos observando altíssima qualidade dos ingredientes sempre naturais. Ele gosta de fazer experiências e o que vende hoje é resultado de anos de alquimia refinada.

Deveriam erguer uma estátua em homenagem ao cidadão que inventou o sorvete. Sua importância histórica é maior que a de figuras como Stalin, e o bem que fez à humanidade é comparável ao de Einstein.